Nas diarreias bacterianas os principais agentes bacterianos causadores de diarreias agudas em nosso meio são Escherichia coli, as várias salmonelas, shiguelas, Yersinia enteriocolitica e Campylobacter jejuni.
Sua apresentação clínica tende a ser semelhante à das diarreias virais ou evoluem com mais toxemia, além das evacuações poderem conter muco, pus ou sangue, caracterizando quadro disentérico. A doença é, em geral, autolimitada, porém exige atenção maior do médico, principalmente em pacientes imunossuprimidos ou desnutridos.
O diagnóstico, além de basear-se no quadro clínico, deve levar em conta alguns exames complementares, como leucograma, coprocultura com antibiograma com baixa especificidade ou dosagem de toxinas, para identificação do agente e sugestão do tratamento (caso da infecção por Clostridium difficile). Hemoculturas devem ser consideradas para pacientes com hipertermia significativa e/ou toxemia.
Leia mais:O tratamento se baseia em manutenção do estado geral por meio de hidratação, sintomáticos e antibióticos. Estes últimos ainda geram alguma controvérsia, pois muitos autores acreditam não haver necessidade do seu emprego, devido à autolimitação do quadro, à curta duração e à relativa benignidade. Nas formas graves, seu uso é consenso, em razão da excelência de resultados e da relativa segurança com as quinolonas, esse medicamento tem sido o de primeira escolha para a maioria das infecções intestinais.
O quadro clínico para as diarreias com infecções parasitárias é semelhante ao descrito, porem tende a apresentar evolução mais arrastada. Entre os parasitas que mais prevalecem nos quadros diarreicos agudos, citam-se Giardia lamblia e Entamoeba histolytica, cursando, esta última, com manifestações preferencialmente disentéricas, semelhantes às da retocolite ulcerativa.
O diagnóstico laboratorial é feito por exame parasitológico de fezes, recomendando-se, na suspeita de amebíase, o exame direto de fezes frescas, em razão do seu alto índice de positividade. A identificação da Giardia nas tezes nem sempre é fácil e, mais recentemente seu antígeno, pesquisado nas fezes, é uma boa opção diagnóstica. O tratamento é feito com derivados nitroimidazólicos, por período médio de cinco dias.
Outras parasitoses também devem ser lembradas, particularmente a estrongiloidíase, de alta gravidade quando acomete imunossuprimidos. Nesses pacientes, tratamentos preventivos para essa parasitose devem ser considerados antes de se iniciar terapia imunomoduladora.
A diarreia causada pelo uso de antibióticos acontece quando há agressão à microbiota e consequente supercrescimento bacteriano, principalmente de anaeróbios. A manifestação clínica é variada, desde quadros leves, de evolução benigna e mais frequentes, até formas graves, acompanha das de disenteria, dor, distensão abdominal e toxemia, quando se instala a colite pseudomembranosa e sua pior complicação, representada pelo megacólo tóxico.
A doença é causada pela toxina do Clostridium dificile, cujo crescimento é facilitado pela mudança da microflora bacteriana normal do colo, induzida por antimicrobianos. O diagnóstico é confirmado pela presença das suas toxinas (A e B) nas fezes e/ou pelo encontro na retossigmoidoscopia de placas amareladas, aderentes à mucosa, que se destacam facilmente quando biopsiadas. Esse aspecto endoscópico, embora não característico da colite pseudomembranosa é bastante sugestivo, complementado com o estudo histopatológico.
Quimioterápicos não bactericidas também podem favorecer o aparecimento desse modelo de colite aguda. O tratamento é feito com metronidazol, com resultados favoráveis. A alternativa terapêutica é representada pela vancomicina. Probióticos têm sido indicados para casos de prevenção recidiva, com bons resultados na literatura. Formas resistentes de infecção por esse agente têm-se beneficiado com o transplante fecal de microbiota. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.