Correio de Carajás

Depois da tragédia, Cosanpa implanta uma placa de alerta

Depois da tragédia que vitimou quatro jovens no último final de semana em Marabá, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) finalmente colocou uma placa na orla com os dizeres “Perigo: risco de morte – área sujeita a sucção pelas bombas e descargas elétricas”. Além disso, também foram escritos a avisos de perigo na própria tubulação e na parte debaixo da orla.
Enquanto isso, o sofrimento ainda ronda as famílias das vítimas, os irmãos Nelson Sirqueira da Silva, de 27 anos, Edimar Sirqueira da Silva, de 26 anos, e Daniel Sirqueira da Silva, de 17 anos, além de José Carlos de Carvalho Vieira, de 17 anos, que morreram eletrocutados quando tomavam banho no Rio Tocantins, perto da estação de captação e água da Cosanpa, na tarde de sábado (8).
O jornal CORREIO falou com exclusividade com um dos sobreviventes da tragédia, Carlos Gabriel da Silva Ernesto. Ele conta que foi o segundo a sofrer a descarga elétrica, mas estava em cima do cano e não dentro d’água. O rapaz explica que só não morreu porque o choque elétrico atingiu o solado dos seus pés e o jogou para longe, vindo a cai fora da água.
Sobre a sinalização que foi colocada lá, o sobrevivente critica também a forma como isso foi feito. “Agora eles botaram sinalização lá, mas foi só uma placa e uns nomes escritos com spray, mas aquilo ali não vale nada não. Tinha que ter uma sinalização melhor”, argumenta.
Ele entende que as famílias precisam ser indenizadas, até porque o pai de três dos mortos já é ancião e não tem emprego fixo; vive de fazer pequenos “bicos”, de modo que eram os filhos quem auxiliavam na renda da família. “E agora quem é que vai ajudar eles?”, questiona.


DESCASO
Outro morador da área onde fica a subestação da Cosanpa, o motorista Gilson Aprígio conta que estava presente no local no momento em que ocorreu a tragédia. Para ele, a Cosanpa sempre tratou tudo que envolve a subestação com descaso; e agora, a própria sinalização também não ajuda. “Não é suficiente; foram perdidas quatro vidas, tinham que ter uma sensibilidade melhor, tinham que trazer uma equipe e fazer um programa de conscientização, mas isso não acontece… a gente por parte da empresa que não existe seriedade”, critica.


ALTERNATIVA
Por outro lado, o ancião José Fernandes de Oliveira, que é morador antigo da área e conhecia todas as vítimas, disse que desde quando ele chegou ao bairro Santa Rosa, há 23 anos, sempre ocorreram casos de choque elétrico e até hoje nada foi feito. Nunca foi colocada nenhuma placa indicando o perigo.
Na visão dele, o fio deveria ser encapado, suspenso em uma torre, para não tocar na água, como é até hoje. Segundo ele, não há nem iluminação que indique paras as embarcações que existe uma tubulação ali. Já houve casos de colisão de embarcação com os tubos.
Outra moradora da área, Maria das Neves lamenta a demora em colocar uma sinalização alertando para o perigo de tomar banho naquela área. “Era pra ter sido feito antes, pra não acontecer o que aconteceu”, resume, acrescentando que a população local tem a cultura de tomar banho no rio naquela área. Ela também defende que seja paga uma indenização para as famílias das quatro vítimas.

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VERSÃO OFICIAL
Ouvido pelo jornal no início da semana, o gerente da Cosanpa em Marabá, Paulo Barbosa, contrariando as testemunhas e o sobrevivente, disse que havia placas informando sobre os riscos de se nadar no local, mas que elas foram retiradas. “A gente até preveniu a população, colocamos placas afirmando que era proibido tomar banho aqui, mas tiraram as placas e virou costume as pessoas se jogarem de cima do flutuante. Várias vezes eu vi e gritava aqui da beira que poderiam pegar choque”, disse.
Perguntado sobre como a Cosanpa pode lidar com a questão, Barbosa disse não ter alternativa, não ser dar continuidade ao serviço de abastecimento. “Claro que teremos que fazer uma revisão para vermos o que foi afetado, se algo ficou descoberto, mas precisamos continuar fazendo o abastecimento da cidade. Vou comunicar a diretoria da Cosanpa, sinto muito o ocorrido e não sei como vai ser daqui pra frente. É lamentável”, comentou. (Chagas Filho, com informações de Josseli Carvalho)