A primeira vez que voltou à Fatal Model para ficar com um homem depois que pariu, Catarina o alertou para que não ousasse lhe tocar os peitos. Estava amojada e não queria a filha, de poucas semanas e cesariana, com sapinhos ou boqueiras. Na verdade, eram três e faziam fila.
Os três amigos, entre 18 e 21 anos, tiraram no par ou ímpar quem iria primeiro. Ficou por último e da porta onde aguardava a vez, o arranhar das porcas sem óleo no ferro dava o tempo do relógio. Foram fugazes, os desbarbados, e saíram sem o esperar.
Meio sem jeito, berço ordinário do lado da cama, foi levado a começar o serviço. Avisado de que poderia interromper porque os seios estavam enchendo, veias à vista, e a menina não tardaria a se esgoelar esfomeada.
Leia mais:Estômago de recém nascido é um ponteiro das horas. Acaba casamentos. Mal começou e um choramingo se fez ao lado. A mãe ainda tentou balançar a menina. Esticou a mão sem se sair do menino, catou o bico e quis acertar a boca da menina. Ele fez o favor de auxiliar.
Mas não adiantou o suficiente. A pequena cuspiu a chupeta e retomou os gemidinhos ainda com os olhos fechados. A mãe, sob o adolescente, emendou um aninhado:
– Que anjos são esses que andam guerreando, é de noite é de dia, Jesus Cristo, Ave Maria…
E foi indo:
– Terezinha de Jesus, levou uma queda foi ao chão. Atingiu três cavaleiros. Todos três, chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão. O terceiro foi aquela que a Tereza deu a mão…
Mesmo com as cantigas, a choramingona não deixou de se remexer e se apertar em cólicas. Mas deu uma pausa nos resmungos e ela o apressou pela cintura. Os seios já tinham começado a se derramar. O cheiro forte, não gostava de leite de peito de mulher, o deixaram com gastura. Mas não quis sair e nem a mãe de resguardo o tirou.
A parida voltou se bulir. Os pezinhos vermelhos, sem sapatos de lã, tocavam um no outro. Abria e fechava os dedos finos e longos das mãos engelhadas de frio. Voltou a reclamar e depois soltou o berro. Passava da hora.
A mulher, com a língua entre os dentes, passou a chamar gato na hora do pires. Psssspssspsss… Fazia assim enquanto dava um nó com as pernas nas cadeiras dele. Mas a pequenina destampou no desespero. A mãe ninou novamente:
– Você gosta de mim, ô Marina! Eu também de você, ô Marina. Vou pedir ao seu pai, ô Marina, pra casar com você. Se ele disser que sim, ô Marina. Tratarei dos papéis, ô Marina. Se ele disser que não, ô Marina, morrerei de paixão, ô Marina. Palma, palma, palma, ô Marina… Pé, pé, pé, ô Marina… Roda, roda, roda, ô Marina… Escolha quem você quer, ô Marina…
Com a mão, ela pediu um instante. Sentou-se na cama e tomou a filha nos braços. Pediu ainda que fosse buscar um copo d´água e um tufo de algodão para limpar os bicos grandes dos peitos fartos… A menina dava escândalos…
– Você gosta de mim, ô Marina! Eu também de você, ô Marina…
* O autor é jornalista há 28 anos e cronista desde 2017
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.