O Rio Tocantins, em Marabá, chegou ao nível de decretação de Situação de Emergência. Nesta segunda-feira, 1º de março, ele chegou a 10,14 metros acima do nível normal e mais de 130 famílias já deixaram suas casas.
Com informações repassadas pela Prefeitura Municipal de Marabá, ainda na manhã desta segunda (1), 120 famílias já tinham sido realocadas e 2 abrigos estão funcionando no município: no Ginásio da Obra Kolping, no Bairro Belo Horizonte, e um galpão alugado pela prefeitura, na rua do Arame, no bairro Bom Planalto. Do outro lado da cidade, no núcleo da Velha Marabá, mais famílias já estão fugindo da cheia dos rios e construindo seus barracos por conta própria, aos arredores do Largo da Santa Rosa, próximo às quadras de esporte, no final da Colônia de Pescadores Z-30.
Com o apoio do Exército Brasileiro e da Defesa Civil, as famílias têm conseguido fazer suas mudanças e estão deixando suas casas e indo para residências de parentes ou para os abrigos disponibilizados pela Prefeitura. A bombeira civil M. Santos, que está atuando diretamente no abrigo do galpão do bairro Bom Planalto, afirma que 11 famílias já estavam abrigadas no local até meio dia de segunda-feira.
Leia mais:Ana Paula dos Santos, moradora da Rua Rio Grande do Norte, Bairro da Paz, mora próximo ao Rio Itacaiunas e diz que todo ano é a mesma coisa. Ela, os dois filhos e uma prima foram para o abrigo no domingo (28), quando percebeu que a enchente estava chegando próximo da residência. “Precisamos vir para o abrigo e fugir da água. Ali é uma área muito baixa”, reconhece.
Outra vítima da enchente que teve que deixar sua casa às pressas foi Lorrane Conceição Rodrigues, que mora no Bairro Independência com o marido e os 3 filhos. A Rua Carlos Fonteles, onde a residência está localizada, foi tomada pela água na madrugada. “Acordamos 3 horas da madrugada com a água dentro de casa. Passamos o restante da madrugada levantando as coisas e, logo cedo, eu vim fazer o cadastro aqui”, contando que o Exército fez sua mudança no início da manhã.
A equipe do CORREIO DE CARAJÁS esteve em outro ponto reincidente de alagamento, o bairro Santa Rosa, na Velha Marabá. Por lá, encontrou várias famílias que estão deixando suas casas e procurando abrigo em outro lugar.
O pedreiro Francival Manoel da Silva, morador da Rua João Salame, atrás do campo Del Cobra, na Velha Marabá, passou a manhã construindo o barraco da sua sogra no Largo da Santa Rosa. “Terminamos o dela, e agora vou fazer o meu. Somos 9 pessoas e não podemos ficar dentro d´água. Por isso, viemos logo pra cá”, informou, lamentando que nenhum representante da Prefeitura ou Defesa Civil esteve no local.
Outro morador do bairro Santa Rosa que já está prestes a deixar sua casa é o pescador Claudomiro da Silva Barbosa, que reside na Rua São Pedro, outra localidade bem conhecida pelas enchentes. Construindo o barraco na calçada da Unidade Básica de Saúde João Batista Bezerra (JBB), ele afirma estar acostumado com as cheias todos os anos.
“Não adianta brigar com Deus e ficar com raiva”, afirma Claudomiro, que reside com mais 10 pessoas e não sabe como vai fazer pra caber todo mundo no barraco que está construindo. “Vamos dar um jeito. É só eu terminar de cobrir e já vamos vir todos pra cá.”
Em conversa com os desabrigados, eles afirmaram ao CORREIO que não desejam ir para os abrigos da prefeitura, pois preferem ficar no entorno da orla, do posto de saúde e próximo de suas casas. É o caso de Genilson Leal, também morador da Rua São Pedro.
“Nós não queremos ir para abrigos distantes, não podemos deixar nossa casa abandonada. Eu fico aqui por perto, venho sempre olhar minha casa, porque infelizmente tem gente de má fé”, lamenta o morador, referindo-se aos ratos de enchente, ou seja, ladrões que arrombam casas que estão inundadas para roubar o que ficou lá dentro.
Em nota, a Prefeitura Municipal de Marabá, por meio de sua Secretaria de Comunicação, emitiu o seguinte comunicado:
“Devido à lei de Situação de Emergência que determina que 10 metros é a cota para que seja disparado o Plano de Contingência, tais abrigos serão montados a partir desta semana. Este fato não está impedindo que todas as ações de remoção de famílias para casas de parentes e compra de insumos para construção de abrigos já estejam em andamento desde a semana passada. Hoje (1) já temos 120 famílias realocadas e 2 abrigos em funcionamento: Bom Planalto e Belo Horizonte. A Defesa Civil está trabalhando diariamente em conjunto com Corpo de Bombeiros e Secretaria de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspc) para abrigar todas as famílias já cadastradas anteriormente”. (Ana Mangas, com informações de Josseli Carvalho)
Cadê a barraca que devia estar aqui, minha gente?
Moradora da Rua São Pedro, no Bairro Santa Rosa, Maria Alves Borges instalou-se por conta própria na Praça Paulo Marabá, na entrada da Marabá Pioneira, no início da noite desta segunda-feira, 1º de março. Ela diz que não aceitou a proposta da Defesa Civil, de levar sua família para um abrigo no Bairro Bom Planalto, do outro lado da cidade.
Aos 50 anos de idade, ela mora com outros quatro membros da família e conta que a enchente chegou aos poucos e pelo fundo de sua casa. Esperou apenas parar de chover nesta segunda para levar os móveis para a Praça Paulo Marabá. “Vamos dormir aqui mesmo, ao relento. Lá em casa está tudo cheio de água, inclusive a rua. A Defesa Civil e o Exército retiraram outras famílias, mas nós saímos por conta própria, porque não daria tempo.
A bagagem consta de dois colchões, geladeira, fogão, mesa e sacos com as roupas e panelas. Quando já estava anoitecendo, uma equipe da Defesa Civil chegou ao local e distribuiu plástico preto para as famílias que estavam instaladas no tempo. A de dona Raquel também recebeu, mas só será suficiente para cobrir a pequena mudança.
A Praça Paulo Marabá foi inaugurada após a enchente do ano passado, com a proposta de receber abrigos para famílias da Marabá Pioneira neste período. Aliás, ano passado a Prefeitura chegou a instalar no local mais de 50 famílias, com barracos de compensado e cobertura de telha Brasilit. O espaço foi propositalmente planejado para ficar um grande espaço livre e com piso no centro, além de poço artesiano. (Ana Mangas)