Correio de Carajás

Caverna de 1,1 km na Serra das Andorinhas ganha certificação internacional

A Caverna Serra das Andorinhas, localizada no Parque Estadual Serra das Andorinhas/Martírios), acaba de receber certificação internacional como Sítio de Importância para Conservação dos Morcegos (Sicom).

Segundo o bioespeleólogo Maricélio de Medeiros Guimarães, que já esteve por diversas vezes nesta cavidade, uma equipe técnica realizou pesquisas nessa caverna, com plano de manejo e submeteu as informações coletadas para análise desse grupo internacional de pesquisadores de morcegos. “Eles acabaram dando o reconhecimento sobre a importância dessa caverna”, justifica.

Para Maricélio, esse reconhecimento fortalece ainda mais a relevância do Parque Estadual Serra das Andorinhas, localizado no município de São Geraldo do Araguaia. A entidade que toma conta do parque atua na preservação da imensa área, mas Maricélio reconhece que ainda há muitas espécies que precisam ser estudadas de forma mais particular.

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Segundo o estudo minucioso realizado por uma equipe multidisciplinar, a Caverna Serra das Andorinhas (CASA) representa importante sítio para conservação dos morcegos cavernícolas brasileiros, tendo em vista que serve de abrigo para quatro espécies ameaçadas no Brasil, e mais de 50% das 16 espécies ocorrentes neste sítio são consideradas exclusivamente cavernícolas.

Equipe de pesquisadores da Fundação Casa da Cultura, uma das entidades que estudam a CASA

A CASA representa, ainda, importante abrigo de reprodução para as espécies do gênero Pteronotus, que se concentram em cerca de 10 mil indivíduos durante o período de reprodução. Estes morcegos realizam importante serviço ambiental pela manutenção do delicado ecossistema desta caverna, uma vez que o guano depositado é o principal aporte energético da cadeia trófica, garantindo alimento para vários invertebrados.

A entrada principal da Caverna Serra das Andorinhas tem acesso partindo de São Geraldo do Araguaia pela estrada do Sucupira/Santa Cruz, seguindo cerca de 10 km, entrando na antiga estrada da fazenda Noleto por 5 km. A partir daí, a pé, o pesquisador segue cerca 1,3 km até a meia encosta do paredão.

Estudo em caverna requer equipe multidisciplinar e muitas horas de trabalho em local escuro

Segundo o Plano de Manejo, no Parque Estadual da Serra dos Martírios-Andorinhas (PESAM) há o registro de 354 cavidades nos limites do PESAM, com destaque para a Caverna Serra das Andorinhas (CASA), considerada de relevância muito alta, porque representa a maior de todas as cavidades subterrâneas com 1.100 metros de desenvolvimento linear. A CASA possui diversos espeleotemas, e, uma drenagem associada que condiciona sua gênese, formando diversos condutos e salões que servem de abrigo para uma rica fauna silvestre cavernícola.

Maricélio ressalta que A CASA comporta diversos salões com características favoráveis para inserção de grandes agrupamentos de morcegos, entre as quais as espécies Pteronotus personatus, P. rubiginosus e P. gymnonotus que formam agrupamentos com milhares de indivíduos, que fazem uma grande revoada no final de cada dia, garantindo um lindo espetáculo. Estas espécies do gênero Pteronotus são extremamente dependentes da CASA pois formam colônias maternidades, onde se concentram cerca de 10 mil morcegos durante os meses de setembro a dezembro, período reprodutivo, formam creches onde as fêmeas cuidam dos filhotes. “A Fundação Casa da Cultura é uma das entidades que mais fazem estudos nesta caverna”, elogia Maricélio.

Bioespeleólogo Maricélio Guimarães analisa um morcego que habita a famosa caverna

PESQUISA E CONSERVAÇÃO

A CASA tem sido alvo de uma série de estudos que serviram de base para elaboração de seu Zoneamento Espeleológico. Este relatório, aprovado pelo IDEFLOR-BIO, apresenta regras de uso compatíveis com cada zona estabelecida, destacando o uso inadequado e as recomendações específicas. Apenas 20% da caverna encontra-se liberada para o turismo, restrito a 12 visitantes ao mesmo tempo, com presença obrigatória de dois condutores capacitados, além do uso de EPIs (máscaras faciais, capacete e iluminação).

ORLA DE MARABÁ

O bioespeleólogo ressalta que a Orla de Marabá, que abriga milhares de morcegos, também já conquistou um reconhecimento similar como “Área para Conservação de Morcegos”. Todo final de tarde é possível avistar uma revoada deles em direção a outra margem do Rio Tocantins. “Não participei dos estudos dos morcegos que vivem ali embaixo, mas depois que soube da existência, comecei a observar as características das espécies ali existentes. (Ulisses Pompeu)