Na última sexta-feira, 30, o Projeto Rios de Encontro, que atua na comunidade Cabelo Seco, em Marabá, coordenou mais uma etapa do Fórum Bem Viver 2020 (virtual), com parceiros nacionais da ABRA (Rede Brasileira de Arteducadores) e internacionais, por meio da Associação Internacional de Drama Educação (IDEA). Em plena pandemia, o fórum popularizou debates sobre o projeto alternativo mundial de cooperação com a Terra e destacou Cabelo Seco como referência de como uma população urbana excluída pode se transformar em uma comunidade bem viver – defensora da Amazônia, solidária, formadora e autossustentável – para pautar políticas públicas e projetos estaduais e federais de educação ambiental e justiça ecológica.
Na reunião da última sexta, o Fórum reuniu Alberto Acosta, ex-ministro de Petróleo do Equador, autor do livro ‘Bem Viver’; e Ewa Ewart, uma cineasta polonesa, diretora do filme ‘A Maldição da Abundância’. Eles ajudaram a responder questões provocativas de 50 professoras, arte-educadoras, gestoras culturais, cientistas indígenas, antropólogos e jornalistas de diversas regiões do Brasil, América Latina e do mundo.
O filme explica a origem indígena da iniciativa visionária de deixar 40% das reservas do petróleo do Equador no solo em troca por uma compensação financeira da comunidade internacional, para salvar o Parque Nacional Yasuni, uma das regiões de maior biodiversidade do mundo.
Leia mais:Manoela Souza, do Rios de Encontro, criou um ambiente virtual de confiança para incentivar provocações ousadas de Gabriela Machado (MG), vereador Marquito Abreu (SC), Ariel Barros, do Movimento pela Soberania Popular de Mineração (PA); e Doelde Ferreira, da Escola Irmã Theodora, em Marabá. Acosta respondeu às perguntas sobre o que Brasil poderia aprender com o filme. “A fome da China pelo petróleo e a busca de lucro das elites das Américas derrubaram a proposta inédita, em nome do alívio da pobreza e ‘desenvolvimento para todos’. Políticas de cima para baixo não funcionam. Temos de criar comunidades bem viver”.
Dan Baron, um dos coordenadores do Rios de Encontro, avalia que as pessoas estão aprendendo sobre o que está acontecendo no Pará, e a causa do desequilíbrio climático que vem gerando pandemias. “O filme deve entrar em cada escola para valorizar a ciência indígena e incentivar famílias a cultivarem o bem viver no quintal, em casa”.
No sábado, dia 31 de outubro, mais 50 pessoas assistiram à poesia afro-descendente de Giane Elisa (MG); a dança contemporânea do Peru de Cristina Gutierrez (colaboradora no Rios de Encontro em 2014); e reflexões de Eric Ng, do Movimento Guarda-Chuva, de Hong Kong. As provocações relacionaram racismo sistêmico com a urgência de descolonizar a memória e curar feridas de exclusão, pobreza e cumplicidade para manter esperança, inovar na criação de coletivos e criar bem viver em casa. “A defesa cotidiana da Amazônia gera tanta dor, tensão e tristeza”, disse defensora de direitos humanos e estudante de Direito da Terra (Unifesspa), Claudelice Santos.
Sofia Jarrin, antropóloga equatoriana, convidada para explicar a relação atual entre o investimento da China, o militarismo Norte Americano e o projeto de ‘desenvolvimento para todos’ das elites da América Latina. “O discurso de ódio e a militarização da sociedade civil de Trump e Bolsonaro fazem parte da estratégia geopolítica para plantar desconfiança na democracia e em projetos alternativos. São faces de uma guerra. A resistência depende de projetos visionários de cooperação internacional”, sustentou Sofia.
Na sua reunião nacional na última quarta-feira, a ABRA decidiu celebrar o levante do movimento Black Lives Matter na Semana de Consciência Negra, liderada pelo Rios de Encontro em Cabelo Seco. O Fórum online é aberto e acontecerá na sexta, dia 20 de novembro, às 16 horas. (Divulgação)