Neste sábado, dia 5 de setembro, será celebrado o Dia da Amazônia em todo Brasil. Para marcar a data, o Jornal Correio faz um balanço do que ainda nos resta de floresta e o que fazer para preservarmos.
É preciso lembrar que, historicamente, esta região se desenvolveu à base do extrativismo. E nem sempre foi de forma sustentável. Mesmo nos ciclos do caucho e castanha-do-pará, nossos pais não desmataram tanto, mas provocaram a morte de muitos animais, com caça predatória de onça e gato maracajá, por exemplo, para comercialização da pele.
Na década de 20 do século passado, a região sudeste do Pará tornou-se conhecida pelas riquezas de seus castanhais, passando a ser a maior produtora a partir de 1927. Tal feito fez com que o município ficasse conhecido durante as décadas seguintes como Capital da Castanha.
Leia mais:Durante um breve período, a castanha foi um bem de uso comum podendo ser coletado e transportado por qualquer extrativista. Mas logo passou a ser dominada pela emergente oligarquia castanheira, formada por grupos políticos que se estabeleceram em Marabá e assumiram o controle da política local e dos castanhais, exercendo o domínio sobre toda a atividade produtiva desde a extração, transporte, comercialização, exportação.
A isso se acrescentava o controle dos próprios castanheiros pelo sistema da dívida e pela força organizada de jagunços e pistoleiros.
O domínio da Oligarquia da Castanha se manteve até meados da década de 60 quando a economia deixou de ser baseada apenas no extrativismo vegetal e incorporou novas formas de produção.
Entre as décadas de 60 e 90 a região passou pelas maiores intervenções humanas desde o início da ocupação da Amazônia. Dentre os marcos dessa época podemos destacar a inauguração da rodovia Belém-Brasília (BR-010) em 1960, a criação da SUDAM em 1966, a descoberta a província mineral de Carajás em 1967, a inauguração da Transamazônica (BR-230) em 1972, a criação do Programa Grande Carajás em 1980, o auge de Serra pela em 1983, a inauguração da Hidrelétrica de Tucuruí em 1984, a Estrada de Ferro Carajás em 1985.
Associados a esse processo se consolidou uma nova fase voltada para a exploração dos recursos naturais, exploração mineral, madeira e agropecuária. Foi nesse período que a região sofreu mais, com uma grande devastação.
Em consequência, até 1997, cerca de 70% das áreas de castanhais já haviam sido desmatadas no Sudeste Paraense. Destruição que se refletiu na queda de 94% na produção da castanha-do-pará na região, entre os anos de 1973 e 1997, de acordo com o IBGE.
Mas, a pergunta do título desta Reportagem precisa ser destrinchada. Depois de tanta destruição em nosso território, o que ainda temos para preservar?
Em primeiro lugar, é preciso listar o que temos de mais precioso na floresta, que são as unidades de conservação, mais precisamente a Floresta Nacional do Itacaiunas, Reserva Biológica do Tapirapé, ambas com um generoso território dentro do Mosaico de Carajás.
Atualmente, o que sobrou de grandes castanhais na região sudeste do Pará está localizado no interior das áreas protegidas de Carajás, que estão se transformando numa imensa ilha de floresta cercada por áreas antropizadas, ou seja, pressionadas pela presença humana.
Mesmo assim, elas precisam ser preservadas, não apenas pelos agentes do IBAMA e ICMBio, mas também por fazendeiros e pequenos produtores que vivem ao redor, que precisam cuidar com o fogo. Também precisamos blindar as florestas nativas dos muitos garimpos ilegais, que têm causado grandes danos ao meio ambiente.
Sim, a nossa Amazônia está bem aqui perto. Não precisamos ir longe para preservá-la. Toda vez que evitamos colocar fogo no quintal de casa, jogar lixo na rua e cuidar dos rios que nos cercam, estamos preservando a Amazônia.
O saudosismo de querer que o município seja como 50 anos atrás, antes da mineração ou outro processo de extrativismo ter se instalado aqui é puro sonho inalcançável. Precisamos discutir nosso futuro avaliando o que faremos para manter as ilhas de florestas nativas que temos no Mosaico Carajás, como impedir que os rios sejam contaminados mais ainda pela pecuária e outras atividades de produção. E, paralelo a isso, implantarmos projetos de recuperação das áreas degradadas de forma sustentável.
Quando conseguirmos isso, mostraremos ao mundo que é possível produzir sem causar grandes impactos ao meio ambiente.
Por que precisamos cuidar da bacia do Rio Itacaiunas
Embora o Rio Tocantins tenha grande relevância para Marabá, por oferecer a água consumida em grande parte das residências e, ainda, relativa balneabilidade e praias em abundância, o Rio Itacaiunas é mais importante do ponto de vista interno para toda a região sudeste do Pará.
Só para se ter uma ideia, a bacia do Itacaiunas é de aproximadamente 41.342 km², é constituída por 14 sub-bacias. Ele na Serra da Seringa, no município de Água Azul do Norte e sua foz é na cidade de Marabá, obtendo um ponto de encontro com o Rio Tocantins já no núcleo urbano do município.
A vegetação predominante ao longo do Itacaiunas é de restinga, mata ciliar, com características de locais úmidos e de inundações eventuais. Em alguns pontos ainda podemos observar vegetação nativa preservada, mas há espaços desprovidos de vegetação que foram antropizados quanto mais o rio se aproxima da foz, com grande dilema de assoreamento e degradação de algumas indústrias e esgotos residenciais.
SAIBA MAIS
O Dia da Amazônia foi instituído pela Lei nº 11.621, de 19 de dezembro de 2007, com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da maior floresta tropical do mundo e da sua biodiversidade para o planeta. O dia 5 de setembro foi escolhido, porque nesta data em 1850, o príncipe Dom Pedro II decretou a criação da Província do Amazonas (atual estado do Amazonas).
(Ulisses Pompeu)