Depois de um domingo de chuva e nenhum ônibus nas ruas, a manhã desta segunda-feira (17) foi agitada nos pontos de parada e no terminal da Folha 23 (o mesmo não foi desativado). Isso porque este é o primeiro dia de operação da empresa Integração Serviços e Locação EIRELI, de Anápolis (GO), contratada de forma emergencial pela Prefeitura de Marabá. Ela entra em substituição às empresas Nasson Tur e TCA, que estão de saída dez anos depois de assumir o serviço no município.
Os ônibus da nova empresa chegaram na noite de sábado (15) e foram vistoriados por técnicos da prefeitura e do Departamento Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (DMTU) na tarde deste domingo (16). A informação foi adiantada em primeira mão pelo Portal Correio de Carajás.
Com os 30 primeiros ônibus da nova em circulação, a Reportagem do CORREIO tomou um ônibus da rota Cidade Nova–Terminal–Folha 33 e percebeu pequenas mudanças na logística de transporte.
Leia mais:A primeira modificação é que os novos ônibus não contam com espaço destinado ao cobrador. Esse trabalhador agora fica sentado em uma cadeira avulsa com uma sacola (outros com uma bolsa) na mão para depositar o dinheiro das passagens.
Outra alteração é que idosos; crianças de até oito anos de idade; pessoas com deficiências físicas, mentais ou renais; policiais (civis e militares), bombeiros militares, agentes penitenciários, agentes de trânsito e guardas municipais identificados; carteiros em serviço; escoteiros e desbravadores uniformizados — que têm direito à isenção de tarifa — agora entram pela porta do meio. Antes isso acontecia pelo acesso da frente.
A saída dos fundos também não tem mais catraca, substituída por um corrimão que divide a saída em duas. Essa mudança, comenta a doméstica Ana Maria de Oliveira Pereira, desembaraçou o fluxo de saída de pessoas do coletivo.
“Antes, a demora em sair era enorme porque havia aquela catraca. Não servia para nada além de travar tudo (saída das pessoas). Graças a Deus esses ônibus não têm aquilo”, comemora.
Uma outra modificação é que agora todas as portas do ônibus são abertas (nas paradas) para facilitar em casos de lotação, por exemplo. Antes essa era cena rara de se ver. Os usuários, mesmo estando perto da porta central, precisavam se deslocar até os fundos — em meio à multidão, imprensada — para conseguir descer, porque os motoristas eram instruídos a não abrir o acesso destinado a portadores de necessidades físicas.
De acordo com a aposentada Neide Paulo Silva, que subiu no ônibus no bairro Liberdade, indo para o Residencial Magalhães, fazia tempo que ela não via tantos ônibus rodando pela cidade.
“É a primeira vez que eu pego (coletivo) no ano. Há bastante tempo que eu não tenho essa sensação de andar de ônibus, porque esse transporte era artigo de luxo nas mãos daquele povo (as ex-prestadoras do serviço). Esperamos que siga assim”, relata.
MAIS DO MESMO
Para ela, os ‘novos’ ônibus são de Nasson e TCA, que foram apenas pintados de branco para ‘passar a perna’ na população.
“Esses ônibus só foram pintados de branco. Não são novos. Eles devem ser, sim, da antiga empresa”, especula, diante da informação de que a Integração vem da mesma cidade que as outras.
E QUEM TEM VT CARD?
Quem tem VT Card, esqueça. É que esse cartão pertence às empresas Nasson e TCA, e a Integração não o está aceitando de jeito nenhum. Isso já era previsto, mas alguns usuários, inconformados, se recusam a aposentar o vale-transporte.
É o que acontece com Leila Maria Monteiro, que trabalha no Hospital Regional e tem R$ 240 de crédito no seu VT Card. Ela narra que uma cobradora chegou a tratá-la com rispidez quando apresentou o cartão como forma de embarcar no ônibus pela manhã.
“Eu trabalho no Regional e a empresa (Pró-Saúde, administradora do hospital) me garante uma ajuda de custo no valor de R$ 60, descontados do meu salário mensalmente. Eu estou com um crédito alto no cartão e perdi. E aí?”, questiona Leila.
Ela conta que, mais cedo, a caminho do trabalho e não sabendo dessa situação envolvendo o vale-transporte, foi pegar um ônibus e precisou pedir para o motorista deixá-la entrar pela porta do meio. A única coisa que Leila portava era o VT Card.
“Eu não estava sabendo de nada. Para mim, o VT Card ainda valeria com essa nova empresa. Um motorista me deixou subir sem pagar, mas quando eu pedi para uma cobradora apresentando o cartão, ela foi muito grosseira. Disse que até para pedir eu não sirvo e me humilhou na frente das pessoas”, afirma.
E AGORA, JOSÉ?
Uma foto que circula nas redes sociais mostra um ônibus parado no meio de uma das vias do núcleo Nova Marabá. O ônibus, confirmou a Reportagem, é mesmo da Integração. Ele estava quebrado, tanto é que um triângulo foi posto para sinalizar o local. Mas outro ônibus também apresentou problema no elevador que dá acesso aos cadeirantes.
NOTA DA PREFEITURA
Leia nota enviada pela Prefeitura de Marabá à Redação do CORREIO sobre o caso:
“A Prefeitura de Marabá informa que a atual empresa de transporte público opera em caráter emergencial, enquanto é realizado o processo de licitação para a empresa definitiva. Informa, ainda, que na manhã desta segunda-feira, 17 de fevereiro, primeiro dia de operação, dois dos 30 ônibus apresentaram problemas mecânicos, que foram corrigidos imediatamente. A atual empresa, que está sob fiscalização dos órgãos competentes, prevê a chegada de mais 10 ônibus até o final desta semana, totalizando uma frota emergencial de 40 ônibus.
A meia passagem para estudantes e usuários especiais continua em validade. Quanto ao VT CARD, que pertencia à antiga operadora, a empresa atual negocia a aquisição deste ativo, para que os usuários do transporte não sejam ainda mais prejudicados.
É importante ressaltar que a empresa anterior abandonou o contrato, mesmo com diversas ações judiciais em andamento. Portanto, em decisão emergencial, a Prefeitura fez uma dispensa de licitação para garantir que houvesse transporte coletivo para a população.
A Prefeitura solicita a compreensão das pessoas em relação a esta medida, que foi tomada para evitar um problema ainda maior, devido à desobediência da ordem judicial por parte da empresa anterior.”
ENTENDA O CASO
A prefeitura está tratando do problema do transporte coletivo desde meados de 2018, quando a antiga empresa apresentou recuperação judicial e mostrou-se impossibilitada de cumprir o contrato de 25 anos, efetuado em 2009.
Em uma decisão do prefeito, depois de exaustivas tentativas, a antiga empresa preferiu cancelar o contrato ao invés de cumprir o prazo. Em seguida, foi necessária a abertura do novo processo licitatório, que passou por audiência pública, realizada no dia 31 de janeiro, e agora está na fase final para o lançamento do edital de licitação.
A empresa anterior foi acionada por liminar a manter sua frota em funcionamento até o período final de licitação, o que não foi cumprido, levando a prefeitura a contratar esta empresa na última quinta-feira, dia 13 de fevereiro.
Estes não serão os ônibus definitivos, são emergenciais. A nova licitação deve ocorrer no prazo máximo de 40 dias, possibilitando que uma nova empresa assuma, dentro dos padrões de qualidade exigidos pela gestão.
Um novo terminal de integração está sendo construído para abrigar a empresa licitada, que cumprirá exigências previstas no edital, como 25% da frota totalmente nova e 10% de ônibus com ar-condicionado.
Sobre a cadeira dos cobradores, a prefeitura informou que até o fim desta semana elas serão instaladas, pois os ônibus que foram enviados para Marabá atuavam em Goiânia e atendiam a outra modalidade de serviço que não carecia de cadeiras especiais para os cobradores e nem local para eles guardarem dinheiro. (Vinícius Soares)