Nesta segunda-feira, 9, o projeto Rios de Encontro, da comunidade Cabelo Seco, completa a primeira semana de sua turnê europeia da Caravana Amazônia Bem Viver no interior da Áustria, na cidade medieval de Langenlois. Após seis oficinas e duas apresentações para uma escola secundária de 250 alunos, a Caravana viaja para Colônia, na Alemanha, celebrando educação pela sustentabilidade, direitos da criança e diversidade cultural.
“Estamos em uma nova fase de formação artística, eco-pedagógica, educativa e intercultural”, explica Dan Baron, coordenador geral da turnê europeia. Segundo ele, o Coletivo AfroRaiz, com seis jovens adultos, está realizando oficinas de dança-percussão para adolescentes pelas manhãs, apresentações do novo espetáculo ‘Rio Voador’ e estudos pelo ENEM, faculdade e escola nas tardes, rodas de avaliação à noite, e passeios culturais aos finais de semana. “Além desse ‘intensivão’, vivem 12 horas de tradução e saboreiam comidas novas todo dia. Mas estão bem vivos, sustentados por apoio excelente e merecido”, explica Dan.
Manoela Souza, coordenadora teatral do projeto, avalia que os jovens estão tendo um impacto profundo, em parte por causa da formação este ano todo, e em parte porque os austríacos são bem preparados e receptivos, preocupados com a destruição da Amazônia e proativos em suas perguntas e desejo de colaborar.
Leia mais:Nas primeiras oficinas, os jovens do AfroRaiz rapidamente descobriram sua capacidade criativa de coordenar através de demonstração gestual. Alunos inibidos se entregaram, vivenciando raízes afroíndigenas ameaçadas e participando numa roda final de troca sobre a vida cotidiana de Marabá e a da cidade milenar de Langenlois. Um banner de jovens pulando no rio na orla de Cabelo Seco, no momento de enchente, no ano passado, no fundo da sala, e a ‘Carta à Amazônia’ de alunos da Escola Irmã Theodora, lida em alemão, provocam questões sobre a vida vulnerável no sudeste do Pará.
Mas a roda não se limita ao colapso climático. Abraça o direito à educação sexual na escola na Áustria, à destruição de direitos humanos no Brasil, à ameaça à biodiversidade na Amazônia, e depressão infantil e juvenil no mundo, diante um futuro sem horizonte.
No espetáculo ‘Rio Voador’, também sem palavras, Katrine Neves (18 anos), interpreta o papel de uma criança que descobre o poder transformador de sua imaginação, bem no momento quando o colapso climático derruba uma apresentação do AfroRaiz no Cabelo Seco. Sua comunidade está transformada em refugiados na sua própria terra, isolados e desesperados.
Na última roda, Katrine perguntou o que mais marcou os alunos sobre a apresentação. “A briga por uma gota de água”, disse uma aluna. “O momento quando você mostrou um peixe morto, e os artistas ficaram no seu celular, te ignorando”, arrematou outro.
“Há consciência ambiental aqui. Não há sacos plásticos no supermercado, cuidam da separação de lixo e propõem de não comprar carne brasileira para ajudar a preservar a Amazônia. Vivenciando sua história cultural bem preservada, videiras cheias de uva, casas enfeitadas de floras, e todos com direito à saúde, educação, segurança e emprego garantidos, entendemos melhor o bem viver”, afirma Katrine Neves. (Divulgação – Rios de Encontro)