Uma das principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro desde o tempo em que era deputado federal, a mineração em terras indígenas é reprovada por 86% dos brasileiros, apontou uma pesquisa Datafolha. O levantamento, contratado pela ONG Instituto Socioambiental (ISA), mostrou que a rejeição à entrada de empresas de exploração nessas reservas — prática, hoje, ilegal — é de, no mínimo, 80% em todas as regiões, escolaridades, idades, sexos, faixas de renda e ocupações.
Segundo o instituto, a reprovação da atividade é de 80% nas regiões Norte e Centro-Oeste, que concentram a maior parte das terras indígenas do Brasil e, por isso, seriam alvos principais da proposta. A maior rejeição, porém, foi registrada no Sudeste: 88% dos entrevistados discordaram de que “o governo deve permitir a entrada de empresas de mineração para explorar as terras indígenas”. Apenas 14% das pessoas ouvidas na pesquisa afirmaram concordar com esta afirmação — 7% totalmente e 7%, em parte.
Nesta sexta-feira, o presidente disse que a rejeição estimada “pode ser compatível” com a realidade. Ele afirmou acreditar que há incompreensão sobre o que é um garimpo.
Leia mais:Nas regiões metropolitanas do país, a repulsa à mineração nas áreas demarcadas é de 87%; no interior, de 85%. Enquanto 83% dos homens se colocaram contra a prática, 88% das mulheres fizeram o mesmo. Na faixa de 16 a 24 anos, 84% discordam da exploração, mesmo patamar do segmento de 60 anos ou mais. Na idade de 25 a 34 anos sobe para 87%.
Ainda segundo o Datafolha, 87% dos entrevistados com ensino superior disseram discordar da entrada das empresas, assim como 84% dos que estudaram até o ensino fundamental. Na classes de renda A/B/C, a rejeição é de 86%; na D/E, de 85%.
Como o GLOBO reportou em julho, o governo federal já finalizou a minuta de um projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas , uma das principais promessas de campanha do presidente. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o projeto prevê que os povos indígenas terão poder para vetar a exploração em suas terras e receberão royalties sobre o que for extraído. Lideranças indígenas ouvidas pela reportagem, no entanto, criticam a forma como o governo conduziu a elaboração do projeto. Argumentam que não foram consultadas e que pode haver coação nas aldeias.
Um relatório divulgado no fim de 2018 pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg) identificou pontos de garimpos ilegais em 18 áreas reservas indígenas no Brasil. Só na Amazônia, há 453 pontos e áreas de exploração ilegal.
No sábado, Bolsonaro criticou as terras reservadas para comunidades indígenas. O chefe do Planalto argumentou que a aproximação do governo com os Estados Unidos fazia parte de um plano de buscar parceiros estrangeiros para explorar minerais nas reservas.
– Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA – disse ele, que indicou o filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal por São Paulo, para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
Nesta quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou decisão que deixou a demarcação de terras indígenas na Fundação Nacional do Índio (Funai) . O ministro Celso de Mello disse, na ocasião, que a medida provisória (MP) de Bolsonaro — reeditando norma anterior que transferia a demarcação para o Ministério da Agricultura, mas que depois foi rejeitada pelo Congresso — revelou um comportamento que transgride a Constituição.
Um dia depois, Bolsonaro admitiu que falhou por reeditar a MP. “Falha minha”, disse .
Realizada de 4 a 6 de junho, a pesquisa ouviu 2.088 pessoas em 168 municípios das cinco regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
(Fonte: O Globo)