Correio de Carajás

Final feliz para o chinês que perambulava em Marabá há três anos

 

Embarca na madrugada desta sexta-feira (5), no Aeroporto “João Correa da Rocha”, o chinês Tao Yan, de 32 anos, conhecido popularmente como Chinguilingue. A Seaspac (Secretaria de Assistência Social Proteção e Assuntos Comunitários) conseguiu localizar os familiares de Yan, que perambulava no Núcleo Cidade Nova desde 2016, sem lenço e sem documento, em busca de alimentação.

A primeira parada do chinês será na Embaixada de Brasília, para buscar um documento de autorização. De lá, ele segue para a China, onde revalida o visto, a fim de reencontrar os familiares, que possuem residência fixa no Chile, onde trabalham no ramo de restaurante.

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A secretária municipal de Assistência Social Nadjalucia Oliveira Lima lembra que Yan estava em Marabá desde 2016, vivendo nas ruas. “A comunidade como um todo se sensibilizou por sua causa desde 2017. As denúncias começaram a chegar na Seaspac, a população se comoveu, mas ele não se comunicava, não expressava uma palavra. Começamos a fazer abordagem nas ruas desde esse período [2017], mas ele sempre fugia de todos os trabalhadores da Seaspac que iam se aproximar dele”, detalha a secretária.

No entanto, a população continuou cobrando uma posição da Secretaria de Assistência Social, inclusive familiares de Nadjalucia, que incansável, juntamente com a equipe seguiu com muitas tentativas de aproximação com Yan, devido às condições precárias em que ele sobrevivia.

No início de sua estadia no município, devido à cultura chinesa, Yan não comia todo tipo de comida que ofereciam a ele, somente arroz, cebola e alho com bastante shoyo. Bebia no máximo um refrigerante. “Percebemos que ele estava muito debilitado. Perambulava pelas ruas com roupas sujas, as pessoas, sensibilizadas, davam dinheiro para ele. Yan não fazia a higiene pessoal, não tomava banho, nem comia direito e dormia no tempo”, relembra a secretária.

Depois de muitas tentativas, a Seaspac resolveu resgatar involuntariamente Chinguilingue das ruas. Uma força-tarefa com Corpo de Bombeiros, Samu e a equipe de abordagem social da Seaspac fez a abordagem e o chinês foi levado ao Hospital Municipal de Marabá (HMM), em fevereiro deste ano, onde passou por acompanhamento médico e corte de cabelo. Inclusive, era no cabelo que Chinguilingue guardava o dinheiro que recebia.

Após passar 48 horas no HMM ele foi levado para o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (POP), onde ficava isolado e não conversava com ninguém. “Chamamos um intérprete de Libras, mandarim, japonês, mas ele não se comunicava. Com o passar do tempo, com o trabalho da equipe do Centro Pop, foram dando atividades lúdicas para ele, tratamento com psicólogo e assistente social, até que um dia ele começou a se comunicar”.

Chinguilingue simpatizou com a coordenadora do POP, Gorete Rodrigues, contando toda sua história, por meio do Google Tradutor. “Ele não é doente mental, não é bandido. Ele tem uma família que mora no Chile e perdeu a comunicação com eles. Seu visto de permanência no Chile venceu e ele continuava perambulando por Marabá”, salienta Nadjalucia Rodrigues.

Nesta sexta, o chinês vai para a Embaixada da China em Brasília, onde receberá um documento para ir a seu país de origem. Lá, reativará o visto para retornar ao Chile e reencontrar todos os familiares. “O nosso trabalho foi com a Embaixada da China, com a Polícia Federal do município e o jurídico da Prefeitura. Nós o levamos para fazer as impressões digitais e a localização. Até que deu tudo certo e amanhã ele deixa Marabá”, comemora a secretária de Assistência Social.

Gorete Rodrigues, coordenadora do POP, recorda que Chinguilingue chegou muito introvertido ao Centro. Ele tinha toda resistência, mas não confiava em ninguém. “Fui atrás do Paulo, que é um lojista que fala o dialeto dele. A partir daí houve a comunicação e repassou os dados e contatos familiares. Os chineses têm um aplicativo para se comunicar semelhante ao WhatsApp. Os familiares mandaram dinheiro para ele comprar um celular, a partir daí deu tudo certo”, frisa Gorete, que já está com saudades de Chinguilingue.

A Polícia Federal disponibilizou um agente para o caso. “Foi um pouco difícil, porque ele não tem documento. Eu ligava diretamente na Embaixada. A gente teve um vínculo afetivo para que ele sentisse confiança. Foi muita luta para ele se abrir. Ele é outra pessoa agora. Amanhã, com a graça de Deus, vai voltar para sua família”, sublinha Gorete.

Tao Yan é casado com Liu Lin, com quem tem uma filha de 5 anos, chamada Yan Xi. Ele não a vê desde o primeiro ano de idade. Eles vivem no Chile, juntamente com os pais e um irmão e trabalham em um restaurante próprio da família. (Emilly Coelho – SECOM PMM)