Correio de Carajás

6 frases que precisamos parar de repetir para os filhos mais velhos

Expectativas dos adultos, comparações e responsabilidades são, muitas vezes, depositadas nos primogênitos

Expectativas e responsabilidades excessivas deixam marcas nos filhos mais velhos — Foto: Unsplash

Só porque uma criança nasceu antes da outra, não significa que ela deve aprender algo primeiro, ser exemplo e ter uma responsabilidade extra, incompatível com a sua idade. No entanto, isso ainda é realidade em muitas famílias. Há frases que são repetidas por costume, de tão enraizadas que estão em nossa cultura. Apesar de parecerem “normais” e até mesmo bem-intencionadas, em certos casos, elas podem ter efeitos sérios sobre a construção da personalidade daquela criança, deixar marcas e até a riscos físicos mesmo.

“A ordem de nascimento traz muitas consequências para a relação não só da criança com ela mesma, como também na relação dela com o adulto e com os irmãos”, diz a psicóloga Nanda Perim. Segundo ela, dependendo do que escuta, a criança internaliza crenças e começa a acreditar que para ser amada e ter um lugar naquela família ele tem que ser de um jeito ou de outro, tem que ser exemplo para o irmão, tem que cumprir o que aquelas frases dizem. “Isso atravessa muito a construção de uma relação de conexão amorosa ou não entre os irmãos, acaba trazendo uma rivalidade, cria um excesso de responsabilização, traz ressentimento… “, exemplifica.

Reunimos aqui algumas frases tóxicas comuns de serem direcionadas a irmãos mais velhos. Abaixo, Nanda Perim explica por que é importante refletir e parar de repeti-las desde já!

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1. Você é o mais velho, deveria ser mais responsável.

 

Não há necessidade de comparar as crianças porque isso leva à rivalidade, atrapalhando a relação entre elas. Além disso, é uma frase que faz com que a criança sinta que ela é insuficiente, que é menos do que deveria ser. O objetivo é ensinar responsabilidade, mas, para isso, não é preciso dizer que um é menos ou mais que o outro. Você pode dizer apenas: “Eu preciso que você tenha responsabilidade, quero que aprenda a ser responsável”. E, é claro, mostrar ao seu filho como fazer isso.

2. Você já é grandinho para querer chamar tanta atenção.

 

Esse tipo de frase tem a ver com a expectativa do adulto. A criança oferece o que ela dá conta e não o que o adulto espera. Qual é a idade em que um ser humano é grande demais para receber atenção das pessoas que ama? Para demonstrar que está com saudade? Para demonstrar que precisa ser visto e ouvido? Nunca somos grandes demais para pedir colo. A missão do adulto é ensinar essa criança a comunicar melhor suas necessidades, conforme ela cresce.

3. Eu não deveria ter que te falar isso; você já é grande e deveria saber.

 

Essa frase também fala da expectativa do adulto, sem levar em conta as necessidades e habilidades da criança. Aprender algo novo é difícil e demanda repetições. A criança vai errar e isso é normal – não depende da idade ou da ordem do nascimento. Será que não é o adulto que precisa rever a forma de ensinar algo a cada filho?

4. Na sua idade, eu já tinha muito mais responsabilidades.

 

Mas será que isso foi bom? Em geral, as mesmas pessoas que falam isso, lamentam não ter aproveitado mais a infância, brincado mais, tido mais leveza. Além disso, também foca nos comparativos – que nunca são uma boa saída. Minimizar a capacidade da criança e fazer comparativos não é uma maneira eficaz de ensinar responsabilidades.

5. Sua obrigação é cuidar do seu irmão.

 

Existem famílias em que é uma necessidade o irmão mais velho cuidar do mais novo, em certos momentos, mas, ainda assim, não pode ser visto como obrigação. A criança não tem maturidade e não pode ser responsabilizada pelo cuidado com outra criança. Além disso, é arriscado. Não é raro vermos relatos de acidentes em que irmãos estavam sob os cuidados de outros, ainda crianças, sem habilidade para isso. A responsabilidade não pode ser de outra criança.

6. Você é grande demais para ficar chorando assim.

 

Outra desconstrução importantíssima: quem é grande demais para chorar? Em nossa cultural, ainda estamos aprendendo a importância de não reprimir as emoções e sim de legitimá-las e lidar com elas. Independente da idade, do gênero, de ser mais velho ou de ser mais novo, a criança precisa aprender que as emoções dela têm valor, fazem sentido. E, sim, ela tem o direito de chorar. Um problema que parece pequeno para o adulto, pode ser enorme sob a perspectiva da infância.

(Fonte:G1/Crescer)