Correio de Carajás

AMBIENTE CIRÚRGICO E SEUS PROFISSIONAIS II

Este assunto tem grande importância para qualquer profissional da área de saúde que pretenda atuar em procedimentos cirúrgicos, uma vez que dá a base desses procedimentos e seus instrumentos respectivamente necessários.

Dando continuidade ao tema ambiente cirúrgico e seus profissionais. Falaremos sobre roupas especificas e roupas privativas. Fazem parte da roupa específica dos profissionais no centro cirúrgico: calça e camisa (roupa privativa), máscara, gorro, propés, avental cirúrgico (jaleco cirúrgico, capote), luva estéril e proteção ocular.

A roupa privativa consiste na calça e na camisa que devem ser utilizados dentro do ambiente do centro cirúrgico. Por ser apenas limpo, o uniforme não pode tocar em superfícies estéreis. A camisa precisa cobrir todo o tronco, do final do pescoço até o início da pélvis.

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Devido a riscos de contato dos braços com fluidos orgânicos, deve ter manga mais longa. Isso também protege contra a liberação de microrganismos das axilas. A calça precisa cobrir totalmente os membros inferiores, protegendo o trabalhador e, também, evitando a liberação ao ambiente da flora de suas pernas e seu períneo.

Alguns estudos sugerem calças com fechamento nos tornozelos como as mais adequadas para impedir a liberação dessa flora. Sua função é evitar a liberação de microrganismos da pele, do tronco e dos membros.

Já as máscaras devem ser utilizadas dentro da sala cirúrgica, sempre que algum instrumento estéril esteja exposto ou se a cirurgia estiver em qualquer fase de andamento. A máscara deverá cobrir totalmente a boca e o nariz.

Sua função visa proteção tanto do paciente quanto do profissional de saúde. Ela evita a liberação de microrganismos oriundos do nariz e da boca dos profissionais, protegendo o cliente de contaminação. Do lado do profissional, protege suas mucosas de respingos de sangue e outros fluidos do cliente. Caso no ato cirúrgico ocorra de a máscara cair é papel do circulante arrumá-la.

O gorro deve ser utilizado desde a entrada no centro cirúrgico. Deverá cobrir por completo o couro cabeludo, cabelo, costeletas e orelhas. Sua função é prevenir queda de partículas e/ou cabelos no sítio cirúrgico.

O propé e/ou sapato privativo é justificado na prevenção de contaminação do chão de áreas críticas por micro-organismos que são carreados nas solas dos sapatos e podem ser liberados ao ambiente. Porém, sua eficácia no controle de infecções tem sido questionada em vários estudos que revelam, como a seguir comentaremos.

Diferença não significativa de contaminação do chão entre calçados comuns e propés. Não é habitual a troca de propés, mesmo após pisotear secreções orgânicas presentes no chão, que se disseminam por todas as áreas do centro cirúrgico. O ato de caminhar é a mais importante causa da dispersão bacteriana do chão do que o tipo de cobertura de sapatos utilizados.

Bem como os micro-organismos do chão dificilmente se dissipam ao ar ambiente e não são aqueles causadores de infecção do sítio cirúrgico. A chance de contaminação de uma ferida com micro-organismos oriundos do chão se dá antes pela sua veiculação e por contato do que pela sua disseminação do chão para o ar ambiente.

Mesmo assim, coberturas de sapatos ou sapatos privativos continuam sendo recomendados nos EUA para proteção do trabalhador contra contaminação com fluidos. Entretanto, há que se atentar também para a sua eficácia como barreira, uma vez que esses dispositivos atualmente utilizados, tamancos com orifícios para transpiração e propés, não evitam ferimento dos pés com objeto perfurocortante.

Nesse caso, o ideal seriam sapatos privativos fechados, pois os modelos anteriormente citados não contribuem para o controle de infecções e ainda determinam custos desnecessários. No Brasil o uso é facultativo de acordo com as diretrizes da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. O assunto continua na próxima terça-feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.