Seis meses após o assassinato de Gabrielle Souza Mota, de 25 anos, e do irmão dela, Andrey Pereira Mota, de 31 anos, um terceiro par de mãos assume as investigações do caso. O responsável pelo inquérito policial agora é o delegado Luca França da Costa Soares, da Polícia Civil, que tem a missão de desvendar o duplo homicídio registrado em 28 de outubro de 2023, no estacionamento da Feira Agropecuária de Canaã dos Carajás – ExpoCanaã.
No início deste mês, o delegado solicitou ao juiz da Vara Criminal da Comarca de Canaã dos Carajás a prorrogação do prazo para concluir as investigações. No documento enviado ao magistrado, a autoridade policial justifica o pedido alegando ter sido transferido para a delegacia recentemente, mediante portaria do dia 2 de abril, e se apresentado no último dia 10 para a função.
O Correio de Carajás solicitou à assessoria de comunicação da Polícia Civil entrevista com o delegado Luca França, para saber a principal linha de investigação sobre o crime, mas o órgão negou o encontro. Em nota enviada à reportagem a assessoria afirmou que as equipes da Delegacia de Canaã dos Carajás seguem trabalhando para identificar e localizar os envolvidos nos homicídios. O posicionamento acrescenta que testemunhas foram ouvidas e perícias foram solicitadas para auxiliar as investigações. “Qualquer tipo de detalhamento nesta fase pode prejudicar a atuação policial”, alega o órgão.
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Para Celma Mota, mãe de Gabrielle e madrasta de Andrey, o crime foi premeditado. Um dos fatores que levanta a suspeita dela é que os pneus do carro de Gabrielle estavam furados e sem a tampinha que protege para que o ar não saia deles.
Uma amiga de Gabrielle, que estava no banco traseiro do veículo, narrou à Celma que os assassinos chegaram armados e exigiram que fossem entregues os celulares.
Gabrielle estava sentada no banco do motorista e deixou o celular cair dentro do veículo. Ela então pediu permissão dos assassinos para pegar o aparelho, ligou a luz e se abaixou. Neste momento, o criminoso colocou o revólver na nuca de Gabrielle e atirou, desferindo um segundo tiro na cabeça de Andrey, que estava sentado no banco ao lado.
Os homens não usavam máscara, ou seja, estavam de “cara limpa”. Um deles permaneceu na direção da motocicleta, enquanto o outro desceu para cometer o crime. Antes de atirar, o assassino teria dito: “Tá achando que não vai ser nada não? Que essa arma é de brinquedo?”. De acordo com a mãe, ele atirou sem que a vítima tivesse nenhuma reação.
A dupla de assassinos fugiu levando os celulares de Gabrielle e Andrey, mas não roubaram o aparelho telefônico da amiga que estava no banco de trás. “O único motivo que tenho para continuar viva é a busca de justiça pela morte da minha filha e do Andrey. Só eu sei a dor de perder a minha única filha e ter que conviver com a impunidade do crime há seis meses. Até hoje nunca tive respostas sobre nada, mas para mim, não foi latrocínio, foi um crime premeditado”, desabafou.
Celma disse ao Correio de Carajás, ainda, que um homem que trabalhava como flanelinha no dia do crime também viu o rosto dos criminosos. “O flanelinha chegou a apontar uma lanterna para o rosto deles”, mas a dupla de assassinos apontou a arma em direção do flanelinha, que, por sua vez, correu. “Tinha muita gente naquele estacionamento, eu sei que alguém pode me ajudar. Quem souber de alguma coisa, por favor, denuncie, ajude uma mãe a encontrar a paz”, pede Celma.
ANIVERSÁRIO
Andrey morava na cidade de Xinguara, onde trabalhava como entregador. Por ser aniversário do pai, Antônio Rodrigues Mota, no dia 27 de outubro ele viajou para Canaã para comemorarem juntos. Mas, como o genitor iria trabalhar no dia seguinte pela manhã, decidiram adiar a confraternização para o sábado, dia 28.
Os irmãos, então, foram para um show na ExpoCanaã. Por volta das 3 horas da madrugada, Celma ligou para a filha pedindo para irem embora. “Naquela noite eu não dormi, fiquei esperando por ela”. Gabrielle disse à mãe que se precisasse falar com ela novamente que ligasse para o irmão, pois a bateria do telefone dela estava descarregando. Às 4 horas ambos já não atendiam mais os celulares. “Quando percebi, um amigo da minha filha estava no portão de casa. Na hora pensei que ela tivesse batido o carro, se acidentado”. As notícias, contudo, eram piores. A mãe relembra que Gabrielle ainda chegou a ser encaminhada para o hospital. “O meu marido perguntou para o amigo da Gabrielle ‘cadê o meu filho?’ e ele disse ‘eu sinto muito, mas o Andrey morreu na hora’. O Antônio ficou desesperado. Eu perdi a minha única filha e ele perdeu os dois únicos filhos dele de uma só vez”, emociona-se a mulher. Os irmãos foram enterrados juntos na cidade de Xinguara.
MOTIVAÇÃO
Celma afirma que Gabrielle era uma pessoa de muitos amigos e querida por todos, por isso, não entende quais as motivações para que cometessem o crime. Andrey também não tinha inimizades e raramente ia a Canaã dos Carajás.
Gabrielle era mãe de dois meninos, o mais velho de 5 anos, que agora moram com Celma.
“Ele me fala assim: ‘vovó, vamos de casa em casa perguntar quem fez isso com a mamãe?’”, descreve Celma, exemplificando a saudade do garoto ao se despedir de forma precoce da mãe.
Já o mais novo tem apenas um ano e quatro meses, fruto do último relacionamento amoroso de Gabrille. Ele mora com o pai. “Quando ele chega aqui em casa vai direto na foto dela e beija”, conta Celma.
O Correio de Carajás enviou e-mail para a assessoria de comunicação do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), questionando sobre a denúncia de Celma Mota na demora em concluir o inquérito policial, uma vez que a cada novo delegado que assume o caso, o prazo é prorrogado. Até esta publicação, o órgão não retornou. O Ministério Público faz parte do processo do caso Gabrielle e Andrey, atuando como fiscal da lei.
DENÚNCIA
Quem tiver informações que possam levar aos autores do crime basta ligar para o Disque-Denúncia 181. As informações podem ser repassadas anonimamente.
(Theíza Cristhine)