Gosto de ler histórias de personagens da nossa história. Principalmente de personagens políticas e entender o contexto histórico em que estavam inseridas. O problema é a falta de produção biográfica, de material disponível.
Mas também aprecio contestar as informações oficiais biográficas desses personagens, aquelas bonitinhas, mostrando que só fizeram coisas boas. Vou atrás, escavo fundo para entender qual ou quais eram os “defeitos” deste ou daquele intendente, prefeito, vogal, vereador ou um secretário municipal.
Mesmo no passado, ninguém era perfeito que não tivesse cometido deslizes na vida pública.
Leia mais:Um dos personagens que mais esquadrinhei até agora é Alfredo Monção. Gosto de olhar para as fotos dele sempre que passo pela galeria dos prefeitos no Memorial Político de Marabá, sediado na Câmara Municipal. A imagem me passa serenidade, talvez pelo olhar concentrado e rosto afinado.
Talvez, creio, gostei de sua biografia porque, além de comerciante, político, ele também apreciava escrever, como eu. Produzia belos discursos, reescrevia-os para ter certeza que as palavras certas foram escolhidas para falar em público. Mas também era poeta e muito do que produziu tenho guardado comigo em um HD que precisou passar por upload para uma nuvem, tentando não perder os arquivos valiosos.
Ele nasceu em Carolina-MA, em 1888, mas viveu a maior parte de sua vida em Marabá, onde participou da exploração do caucho, foi barqueiro e trouxe para cá o primeiro barco a motor, batizado de “Pedrina” (nome de sua irmã), que revolucionou o transporte na região de Marabá naquela época.
O “Pedrina” chegou por aqui em 24 de junho de 1916, causando grande curiosidade por parte dos marabaenses. Foi proprietário do castanhal Piranheira e manteve casa de comércio junto a sua residência. Morava inicialmente na Avenida Marechal Deodoro (Marabazinho), esquina com a Travessa 13 de Maio (hoje nº 1158).
Instalou, em sociedade com Sérvulo Ferreira de Brito, o primeiro cinema de Marabá: Cine Independência, na praça Duque de Caxias, no local onde mais tarde passou a residir onde por muito tempo funcionou o prédio da Caixa Econômica Federal. Além disso, trouxe para Marabá a primeira Companhia de Seguros, a “Equitativa”.
Ele casou-se com Primênia Melo de Monção, com quem teve cinco filhos.
Na década de 1920 Alfredo Monção muda-se para São Paulo com a família. Lá, adquire uma granja, mas vende tudo após alguns anos e retorna a Marabá, onde volta a trabalhar e representar uma firma de outra região.
Em 11 de janeiro de 1948, vence a eleição para prefeito de Marabá, à frente de uma coligação do PSD/UDN, derrotando o candidato e médico Demostenes Ayres Azevedo.
Os jornais da época dão conta que ele recebeu a prefeitura endividada e desmoralizada. Pagou fornecedores, abriu novas ruas na Velha Marabá, como a Carlos Leitão. Desapropriou a área de Quindangues, visando à formação de uma colônia agrícola.
Seu mandato, iniciado em 1948, encerrou em 1951. Quando soube que estava bastante doente, preferiu deixar o cargo e pediu renúncia à Câmara Municipal em 30 de janeiro de 1951.
Um documento da Câmara Municipal de Marabá, assinado pelo então presidente Plínio Pinheiro, aceita a renúncia e diz que todos os vereadores e o povo de Marabá lhe agradecem pelos serviços prestados: “Em nome de meus colegas, reitero nossa verdadeira admiração e respeito ante à brilhante, honesta e eficiente ação administrativa de vossa senhoria, que marcou uma fase de progresso em todos os setores da vida socioeconômica do nosso município”.
Em 6 de março daquele aluno, Alfredo Monção morre de parada cardíaca aqui mesmo em Marabá e seu corpo foi sepultado no Cemitério São Miguel.
Alfredo Monção dá nome a uma das principais vias do Núcleo Cidade Nova e seu legado foi transmitido às novas gerações por meio de revistas, jornais e do testemunho de quem teve o privilégio de ouvir aquele homem de voz mansa e que foi pioneiro no cinema e na mudança no sistema de transporte.
* O autor é jornalista do CORREIO há 27 anos e escreve crônica às quintas-feiras
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.