Correio de Carajás

Familiares lamentam demora de inquérito sobre morte de caçadores em terra indígena

Reportagem deste CORREIO participou na tarde desta segunda-feira (24) da coletiva de imprensa virtual realizada pelo advogado das famílias das vítimas

Impunidade é o sentimento compartilhado pelos familiares de Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara, caçadores de Novo Repartimento, que foram encontrados mortos há exato um ano dentro da área da reserva indígena Parakanã, a 30km da sede do município. Até o momento não há um inquérito finalizado e, consequentemente, não há acusados do crime que gerou revolta e caos entre os moradores da cidade.

A reportagem deste CORREIO participou na tarde desta segunda-feira (24) da coletiva de imprensa virtual realizada pelo advogado das famílias, Cândido Júnior.

Segundo ele, ainda não se tem acusação sobre o caso, já que uma investigação da Polícia Federal continua em curso para que um relatório acerca dos assassinatos seja entregue e fundamente a denúncia que será posteriormente realizada pelo Ministério Público Federal, bem como a prisão preventiva dos acusados do crime.

Leia mais:

A grande questão que envolve a morosidade do caso é sua complexidade, considerando as poucas provas técnicas, a dificuldade do laudo, a quantidade de pessoas a serem investigadas e a grande área no qual as vítimas foram encontradas.

No entanto, segundo Cândido, apenas o vasto detalhamento não justifica o lapso temporal do caso: “A gente percebe haver uma superproteção à comunidade indígena, tendo em vista que há dificuldade até para recebê-los na delegacia e colher depoimentos”, levanta, acrescentando que os Parakanãs estão sempre fortemente armados, dificultando o trabalho da polícia.

Outro ponto é a língua da comunidade. O advogado afirma que ninguém em Novo Repartimento sabe se comunicar com os indígenas e que é necessário contratar tradutores para ouvi-los.

Ainda não há causa da morte, acusados ou modus operandi, mas os elementos irreais da defesa seriam testemunhas populares que viram indígenas rodeando as motocicletas do trio e o fato de que um indígena tenha mostrado a cova em que as vítimas foram encontradas. Cândido e as famílias acreditam irredutivelmente que os culpados sejam da comunidade Parakanã e estejam vivendo suas vidas normalmente.

“Está completando um ano hoje e nós continuamos lutando incessantemente pela resposta. Estamos fazendo muitas orações e pedindo a Deus, já que só ele tem nos dado conforto. Estou muito chateado com a falta de justiça e com toda essa demora”, disse Tião Câmara, pai de William.

Gorete Silva, mãe de José Luiz e ex-professora dentro da comunidade indígena, também se mostrou bastante revoltada diante da demora da finalização do inquérito. Segundo ela, a justiça tem feito pouco caso dos que ficaram e lutam para ter uma resposta do que realmente aconteceu com as vítimas. Muito emocionada, ela também afirmou faltarem palavras para afirmar o que sente desde que descobriu que seu filho estava morto.

No domingo (23), familiares, amigos e conhecidos realizaram um ato simbólico lembrando um ano da partida – sem resposta – de Cosmo, José Luiz e William, no trevo localizado na entrada de Novo Repartimento. Os envolvidos soltaram balões brancos por volta de meia noite, em homenagem aos caçadores.

Na ocasião, a tropa de choque da Polícia Militar, seis viaturas, e a PRF estiverem no local, causando um sentimento de inconformismo nos familiares: “Não conseguimos compreender a necessidade disso, já que se tratava de um ato pacífico, nós somente queríamos lembrar que há um ano temos corrido atrás de justiça pelos nossos filhos”, disse Gorete.

Questionados durante a coletiva se ainda havia uma atmosfera de conflito no município entre os indígenas e o restante da população, considerando que na última sexta-feira (21), Novo Repartimento recebeu reforço federal para garantir a segurança dos Parakanã, a defesa afirmou não haver vontade por parte dos que ficaram em criar uma guerra étnica, somente que os responsáveis sejam condenados pelo crime.

RELEMBRE O CASO

Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara desapareceram no dia 24 de abril de 2022, após se deslocarem até uma área de mata fechada da aldeia Parakanã, para caçar. Na segunda-feira (25), indígenas da comunidade permitiram que, apenas três pessoas ligadas as vítimas entrassem no território para realizar buscas, mas o acesso restrito revoltou familiares e amigos, fazendo com que alguns entrassem, sem o consentimento dos Parakanã.

Motocicletas, roupas e objetos do trio foram encontrados durante as buscas. Em protesto, um bloqueio à rodovia federal BR-230 foi promovido. Os manifestantes pediram a interferência da Funai e Polícia Federal para que mais pessoas pudessem entrar na área de mata densa para procurar os caçadores, inclusive, de equipes do Corpo de Bombeiros.

No sábado (30), a Superintendência da Polícia Federal no Pará confirmou que as equipes de busca formadas por forças federais encontraram os três corpos dentro da reserva indígena. Eles foram enterrados na mesma cova, um sobre o outro e todos deitados com o rosto para a terra. Também estavam com as mãos atadas para trás, assim como as pernas amarradas, sem perfurações de arma branca ou arma de fogo.

À tarde, com a participação de familiares, houve a identificação de que eram realmente os corpos de Cosmo, José Luís e William. Exames foram realizados, no local, por peritos criminais federais do Pará e de Brasília. A necropsia e identificação dos corpos foram feitas por médicos legistas da Polícia Científica do Pará (em Marabá) e peritos criminais da Polícia Federal, para onde os corpos foram levados.

A investigação da PF contou com o apoio da Força Nacional de Segurança, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, e Polícia Rodoviária Federal, num esforço que envolveu 150 homens. (Thays Araujo)