Correio de Carajás

Abdômen agudo perfurativo

Abdômen agudo, embora seja difícil um conceito que preencha todos os aspectos, o abdômen agudo é uma síndrome dolorosa abdominal aguda que leva o paciente   a procurar médico ou serviço de emergência e requer um tratamento imediato, clínico ou cirúrgico. Não tratado, evolui com piora dos sintomas e progressiva deterioração do estado geral.

      Esse conceito traduz a gravidade do abdômen agudo e mostra a necessidade de um tratamento rápido mesmo não se conhecendo a sua causa. Verifica-se ainda que qualquer órgão abdominal, intra ou retroperitoneal, poderá ser responsável por essa entidade clínica. Os tipos de abdômen agudo incluem: perfurativo, inflamatório/infeccioso, obstrutivo, vascular e hemorrágico.

      Nas primeiras horas os sintomas do portador de abdômen agudo são eminentemente locais, caracterizados pelos sinais abdominais de peritonite ou de obstrução. Com a evolução acaba predominando a infecção traduzida não só pelos sinais à palpação abdominal, mas por conhecidas e graves manifestações sistêmicas.

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      Em relação ao abdômen agudo perfurativo os dados clínicos incluem: O intervalo entre o início dos sintomas e a procura de atendimento é geralmente curto. Dor de início súbito de forte intensidade. Pode apresentar sinais de infecção. Hipotensão pode estar presente. Palpação abdominal com sinais evidentes de peritonite, abdômen em tábua.  Percussão com ausência de macicez hepática. Radiografia de abdômen com pneumoperitônio.

      A perfuração complica os casos de úlcera péptica e metade desses apresentam hemorragia concomitante. A maioria das úlceras perfuradas localiza-se em posição anterior. A taxa de mortalidade de 15% mantém correlação direta com idade avançada, sexo feminino e perfurações gástricas. O diagnóstico não é feito em cerca de 5% dos pacientes, e a maioria deles não sobrevive.

      As úlceras anteriores tendem a perfurar em vez de sangrar devido à ausência de vísceras protetoras e de grandes vasos sanguíneos nessa superfície. Em menos de 10% dos casos, o sangramento agudo de uma úlcera da superfície posterior complica uma perfuração anterior, o que está associado a uma alta taxa de mortalidade.

      Imediatamente após a perfuração, a cavidade peritoneal é inundada por secreções gastroduodenais que produzem peritonite química. Nas culturas iniciais, não há crescimento ou há crescimento pequeno de estreptococos ou bacilos entéricos. Gradualmente, em 12 a 24 horas, o processo evolui para peritonite bacteriana.

      A gravidade do quadro e a ocorrência de morte estão diretamente relacionadas com o intervalo entre perfuração e fechamento cirúrgico. Em uma porcentagem desconhecida de casos, a perfuração é selada por aderência à superfície inferior do fígado. Nesses pacientes, o processo pode ser autolimitado, mas muitos evoluem com abscesso intraperitoneal.

      Em geral, a perfuração provoca dor súbita e intensa no abdome superior, cuja instalação pode ser relembrada com precisão. O paciente pode ou não ter tido sintomas crônicos de úlcera péptica. Raramente, a perfuração é anunciada por náuseas ou vômitos, e ocorre caracteristicamente algumas horas após a última refeição. A dor no ombro, quando presente, reflete irritação diafragmática. Dor nas costas é incomum.

       A reação inicial consiste em peritonite química causada por ácido gástrico, ou bile e enzimas pancreáticas. A reação peritoneal dilui esses irritantes com o exsudato fino e, como resultado, é possível que os sintomas melhorem temporariamente antes que ocorra a peritonite bacteriana. O médico que examina o paciente pela primeira vez com esses sintomas não deve se deixar enganar ao interpretar essa ocorrência como sinal de melhora.

      O paciente tem aspecto de grande sofrimento e fica deitado quieto, com os joelhos flexionados e respirando superficialmente para minimizar o movimento do abdome. Inicialmente, não há febre, há rigidez dos músculos do abdome em razão de espasmo involuntário. O tema continua na próxima edição de terça-feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.