Correio de Carajás

Mordeduras Animais

      O atendimento ambulatorial dos pacientes que sofrem mordedura ou picadas de animais constitui ponto fundamental para a prevenção das graves complicações, inclusive morte, que podem ocorrer.

      Animais como cão, gato, algumas vezes rato, e até mesmo o próprio homem, podem atacar humanos, produzindo ferimentos que, pela possibilidade de contaminação e de transmissão de doenças infecciosas, devem ser tratados corretamente. Embora as feridas decorrentes de mordeduras de mamíferos possam parecer inicialmente inócuas, elas podem apresentar efeitos devastadores, se ocorrerem complicações.

      Nas mordeduras de animais, vários fatores predispõem à evolução favorável. As lesões são mais lineares, usualmente superficiais, e os pacientes procuram assistência médica muito mais precocemente do que aqueles mordidos por humanos. A mordedura mais comum é a de cão. Dependendo do tamanho do cão, podem ocorrer lesões graves da face, cabeça e membros, principalmente em crianças.

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      Gatos podem, eventualmente, morder, mas em regra as lesões causadas por esses animais decorrem de unhadas. Quando mordem, podem provocar contaminação semelhante àquela provocada pela mordedura de outros carnívoros. A lesão produzida pela unha do gato pode provocar a “febre da arranhadura do gato”, doença ainda pouco conhecida, mas possivelmente devida à Bartonella henselne.

      É caracterizada por febre e por linfadenite regional crônica. Biópsia linfonodal pode ser indicada para diagnóstico diferencial com linfoma. A mordedura do rato é condição rara, no entanto passível de ocorrer em laboratórios de pesquisa cientifica ou em aulas práticas de cursos da área biológica.

      A mordedura do rato pode causar febre pela transmissão de duas enfermidades: o sodoku, produzido pelo Spirillum minus, e a febre de Haverhill (eritema articular epidêmico), causada pelo Streptobacillus moniliformis. Em regra, os sintomas iniciam-se quando pouca ou nenhuma reação ocorre na ferida, a qual já se apresenta cicatrizada.

      Animais de grande porte, como leões, onças, tigres, ursos, podem, raramente, ser responsáveis por mordedura em humanos, principalmente em zoológicos. Ainda com relação à mordedura de animais, tem destaque a transmissão da raiva. Trata-se de uma antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal infectado, principalmente pela mordedura.

      Apresenta letalidade de aproximadamente 100% e, apesar de ser conhecida desde a Antiguidade, continua sendo problema de saúde pública. O vírus da raiva é neurotrópico, e sua ação no sistema nervoso central (SNC) causa quadro clínico característico de encefalomielite aguda, decorrente da sua replicação viral nos neurônios.

      Pertence à família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus e espécie Rabies vírus. Seu genoma é constituído por ácido ribonucleico RNA. Apenas os mamíferos transmitem o vírus da raiva e adoecem por esse vírus. No período de 1990 a 2009, foram registrados no Brasil 574 casos de raiva humana, dos quais, até 2003, a principal espécie agressora foi o cão. A partir de 2004, o morcego passou a ser o principal transmissor no Brasil.

      Esse fato se relaciona com os surtos de raiva causados pelos morcegos hematófagos, principalmente na Região Amazônica. O cão, em alguns municípios, continua sendo fonte de infecção importante. Considera-se que a cadeia epidemiológica da raiva está dividida em quatro ciclos, sendo o ser humano o hospedeiro final em todos os ciclos.

      Os ciclos, como mostrados, são: urbano, rural, silvestre e aéreo. A transmissão ocorre quando o vírus contido na saliva e secreções do animal infectado penetra no tecido, principalmente por meio de mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas e/ou pele lesionada. Em seguida, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e migra para o SNC. A partir do SNC, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado na saliva das pessoas ou animais infectados.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.