Indígenas venezuelanos Warao que viviam no abrigo público de Pacaraima, na fronteira, saíram do local nesta terça-feira (21) e voltaram para a Venezuela. Dois ônibus com 25 pessoas deixaram o lugar no início da tarde. Eles decidiram voltar para o país por medo após brasileiros atacarem venezuelanos no último sábado (18).
Os indígenas seguem viagem até a região de Tucupita, onde vive a maioria dos nativos Warao. A venezuelana Coro Montoanguri chegou a Pacaraima no dia do conflito na fronteira e presenciou tudo de perto. Com medo, ela decidiu retornar a Venezuela.
“Vamos voltar porque sentimos muito medo. Cheguei no sábado, vi tudo o que aconteceu e estou amedrontada”, disse.
Leia mais:A secretária-adjunta de Políticas Internacionais de Roraima, Fátima Araújo, acompanhou o embarque do grupo e disse que a ida deles embora do Brasil foi um pedido dos próprios indígenas.
“Alguns índios Warao manifestaram a vontade de voltar para Tucupita. Estão indo embora 25 pessoas, entre adultos e crianças. Estamos somente acompanhando”, disse Fátima.
O abrigo público onde os indígenas viviam é chamado de Janokoida e também o único na fronteira. O espaço abriga uma média de 400 pessoas, todos indígenas venezuelanos.
“Essa a primeira a primeira remoção de indígenas após o conflito”, disse Fátima. Os ônibus que levaram o grupo de volta a Venezuela são do governo venezuelano.
A saída deles do abrigo foi acompanhada pela Guarda da Venezuela, pelo Consulado da Venezuela em Roraima e Ministério do Poder Popular dos Povos Indígenas Venezuelanos.
A indígena Begônia Garcia, de 25 anos, também decidiu voltar a Venezuela. Ela vivia no abrigo Janokoida há seis meses com os filhos e o marido, Antonio Dias. Depois do sábado, Bergônia optou por ir embora do Brasil.
“Quando soubemos do conflito entre nossos irmãos venezuelanos e brasileiros ficamos muito apreensivos e com medo. Vou embora porque tenho medo que os brasileiros nos ataques no abrigo. Tenho saudade da minha família, por isso quero voltar”, disse ao embarcar no ônibus.
Desde o sábado que não chegam mais Warao no abrigo, segundo o representante deles, o venezuelano Narciso Zapata. O medo, segundo ele, é o principal motivo de ninguém mais procurar vaga para viver no abrigo.
“Alguns têm medo, outros não. Eu não tenho. Estou no Brasil há dois anos. Quero ficar aqui, não vou. Acho que não estão chegando mais indígenas aqui por medo”, afirmou.
Tensão em Pacaraima
Desde o sábado, quando venezuelanos foram expulsos de Pacaraima após um comerciante local ter sido assaltado e agredido supostamente por imigrantes, que moradores temem que os estrangeiros que foram obrigados a deixar a cidade voltem e revidem o ataque.
“A população está revoltada. Todo mundo fica trancada em casa por causa do grande número de venezuelanos nas ruas. Depois de sábado piorou, ficou mais tenso”, disse a moradora, afirmando que “tem muito furto” cometido por venezuelanos na cidade.
O assalto ao comerciante foi o estopim para o conflito na fronteira. Desde então, foi enviado reforço policial para a região. Nessa segunda (20), 60 agentes da Força Nacional chegaram a cidade para atuar na segurança.
“Ninguém pode negar. A população está revoltada com a insegurança”, disse. No sábado o ataque contra venezuelanos que viviam nas ruas foi organizado por redes sociais. A mulher acredita que os ânimos se acirraram após correr na cidade boato de que o comerciante havia morrido. No entanto, ele já recebeu alta e até voltou a Pacaraima: “Não esperava essa repercussão toda”, afirmou.
Diante da tensão em Pacaraima, o governo do estado pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenda temporariamente a imigração na fronteira com a Venezuela e que os imigrantes sejam redistribuídos com os outros 26 estados do país.
A Advocacia-Geral da União (AGU) já se manifestou contra o pedido. Entretanto, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou nesta segunda-feira (20) que o governo vê “grandes dificuldades”, mas admitiu a possibilidade de fechar a fronteira com Venezuela temporariamente.
Uma equipe de 11 ministérios do governo federal está em Pacaraima nesta terça (21) para avaliar a condições dos imigrantes na cidade, que é a principal porta de entrada de venezuelanos que fogem da crise política, social e econômica no país governado por Nicolás Maduro. (Fonte:G1)