Correio de Carajás

VARÍOLA

      A varíola major é uma doença extremamente contagiosa caracterizada por febre, erupção vesicular e pustular e uma elevada taxa de mortalidade. Uma forma mais branda (varíola minor) seria causada pelo mesmo vírus.

      A erradicação global da varíola foi anunciada oficialmente em 1989, marcando uma das maiores proezas da medicina moderna. Na década de 1980 não houve reaparecimento da varíola. Se este padrão persistisse, uma doença que já foi responsável por 10% de todas as mortes do mundo tornar-se-ia uma doença basicamente de interesse histórico.

      Embora a varíola tenha desaparecido como tópico nas edições dos livros de medicina, foi prudente continuar a estar preparado para reconhecê-la e impedir sua propagação caso voltasse a surgir novamente como endemia, epidemia ou pandemia. No momento, alguns casos estão sendo referidos pelo mundo, o que preocupa as autoridades de saúde pública.

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      A orofaringe de pacientes infectados constitui a principal fonte de propagação do vírus. Os contactantes são infectados pela inalação do vírus, que penetra no trato respiratório e multiplica-se no local, provavelmente nos macrófagos. O vírus é levado nos macrófagos para a circulação e daí para os gânglios linfáticos regionais. A multiplicação ocorre nos órgãos linfóides, e existe viremia secundária.

      O vírus localiza-se em pequenos vasos sanguíneos da derme, levando à dilatação dos capilares, à tumefação endotelial e à infiltração por células mononucleares. As células epidérmicas aumentam de tamanho e formam-se vesículas intra-epidérmicas na pele e mucosas. As    vesículas se rompem, formando ulcerações rasas, enquanto as células epidérmicas aumentam de tamanho e estendem-se para o córion.

       A infecção viral estimula as respostas por célultas T citotóxicas, anticorpos neutralizantes e a produção de interferons. Tais respostas limitam a duplicação viral e induzem imunidade prolongada, se o paciente se recuperar. E provável que a varíola seja mais grave em pacientes imunocomprometidos, sobretudo aqueles com déficit de células T.

       A varíola foi descrita na Ásia, durante o século 1 d.C., e na Europa e África cerca de 700 d.C. A infecção foi levada para as Américas Central, do Sul e do Norte durante os séculos XVI e XVII. A varíola major endêmica foi erradicada nos EUA em 1926, e a varíola minor na década de 1940. A erradicação foi mais lenta na Ásia, na África e em determinadas regiões das Américas. O último caso de varíola natural ocorreu na Somália (África) em outubro de 1987.

      O último caso conhecido ocorreu um ano depois em Birmingham (Inglaterra), em setembro de 1979, e resultou de um acidente laboratorial. Durante a década de 1980 não houve reaparecimento da varíola. A capacidade de erradicar essa doença, através de um programa de vacinacão mundial eficaz, parece estar relacionada de forma importante ao fato de que o homem é o único reservatório conhecido do vírus da varíola.

       Que não existia nenhum portador assintomático, facilitando o controle. E que foram possíveis o diagnóstico precoce e a prevenção da doença ou a modificação da evolução da mesma através da vacinação rápida dos contactantes.

       Nos climas temperados, a varíola endêmica ocorria no inverno e na primavera. Tratava-se, basicamente, de uma doença de crianças e adultos jovens. A disseminação para contactantes familiares não-vacinados era de aproximadamente 58%, em comparação com 4% em vacinados. Em geral, os pacientes se mostravam em estado grave e ficavam confinados ao leito, o que restringia a transmissão aos contactantes familiares imediatos.

       Os casos-índices raramente infectavam mais do que cinco pacientes, mais amiúde aqueles que compartilhavam dos mesmos cômodos. Os intervalos de transmissão eram de duas a três semanas, e novos casos apareciam em uma comunidade ou em uma região geográfica durante muitos meses. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.