Correio de Carajás

Carta ao Eleitor: não podemos retroceder

Jornalista do Correio escreve carta-crônica de Ano Novo

Convocamos, para este especial de Ano Novo, alguns membros de nosso time de jornalistas para nos ajudar a olhar o mundo com outros olhos. Que nos contassem de coisas que vimos, ouvimos e sentimos, dos temas espinhosos que estiveram em reportagens e manchetes, mas agora estão sendo mostrados por outro olhar, escritos por outras vivências. Com sua literatura, com o seu modo de contar uma história, com seu jeito de escrever. Cartas com palavras para desatar não só um nó, mas vários atados durante este ano.

Foi a maneira que encontramos para que, nesta nova promessa de ciclo novo, todos nós pudéssemos nos transformar e encontrar uma certa “cura” pela palavra.

No princípio de todas as coisas, a palavra.

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O poder das palavras não está nelas mesmas, como dizia Rubem Braga, mas no jeito como as lemos. Pois também desejamos que assim seja feita esta sua leitura. Que esta carta chegue até você para ser lida de corpo inteiro. Mesmo que esteja longe de Marabá.

 

 

Caro leitor e eleitor Marabaense,

 

A intolerância tem prevalecido sobre o debate político. Parece óbvio, mas essa constatação lança enorme sombra em relação ao processo eleitoral em que a nossa sociedade estará imersa em 2022. É grande o medo de que a necessidade de argumentação, de convencimento com ideias e propostas, esteja em segundo plano para os extremos, para a utópica guerra do “bem contra o mal”, um debate vazio que ignora as qualidades que realmente procuramos nos agentes políticos, para mirar na máxima de que os fins justificam os meios.

O ano de 2021 nos mostrou, de forma perigosa, que a sociedade está mais preocupada em acentuar o que nos divide, do que em procurar entendimento, o debate saudável que pode criar alianças para seguirmos avançando. E no nosso caso, uma das regiões mais ricas e ao mesmo tempo mais carentes do Pará, isso é muito necessário.

Digo isso ao lembrar que temos retrocedido em relação as nossas pautas históricas e, principalmente ao sentimento de que precisamos constituir as vozes daqui para lutar pelas nossas demandas.

Neste ano de 2021 nós completamos exatos 10 anos desde o plebiscito que consultou a sociedade paraense sobre a ideia de emancipação do sul e sudeste do Pará, formando o Estado do Carajás e a região oeste, dando lugar ao Tapajós. Sabíamos que seria impossível ganhar esse “sim”, dentro da interpretação de que deveriam ouvir todo o eleitorado do Pará. Mesmo assim, nós colocamos nas urnas: 1.185.546, votos a nosso favor, um quantitativo que em muitos estados da federação elegeria um senador da República.

A nossa região tinha, então, três deputados federais, Asdrubal Bentes (PMDB), Giovanni Queiroz (PDT) e Wandenkolk Gonçalves (PSDB), eleitos em 2010 entre as 17 cadeiras que o Pará tem na Câmara Federal. Desde então a nossa representação que deveria ter aumentado, diante da união pró-Carajás, só diminuiu a ponto de não termos sequer um federal de Marabá ou do Carajás nessa lista atual.

Não só poderíamos ter atualmente, sem nenhum exagero, pelo menos seis federais daqui, quanto oito ou dez deputados estaduais na Assembleia Legislativa.

Faço destaque a isso para lembrar que precisamos fortalecer o debate de ideias, valorizar o debate de propostas e projetos, como uma aliança entre eleitor e candidato que venha a ser eleito, para que em alguma instância esse pacto exista e relembre cada mandatário que é preciso estar vigilante quanto a autêntica vontade popular.

De outro lado, não podemos abrir mão do “nosso Carajás”, que hoje, sem termos emancipado a região, precisa estar expresso na representação política. Precisamos, sim, votar em políticos de Marabá e dos municípios da região, que possam militar em seus mandatos pelo desenvolvimento da nossa terra, tanto junto ao Estado, quanto junto ao governo federal.

Não é uma opção, mas sim uma preocupação que deveria ser presente e urgente no nosso fazer político. Pensemos nisso.

Patrick Roberto