Correio de Carajás

20 de novembro reforça a luta pelo combate à discriminação e intolerância racial

Através do estudo, Eric de Belém tomou conhecimento das diferentes formas de preconceito que vivenciou na infância e transformou o combate em um projeto social de união, igualdade e respeito.

Filho do meio de três irmãos, Eric de Belém Oliveira, conhecido também como “Jamaica”, tem 43 anos. Natural de Marabá, morou algum tempo no Bairro Amapá, mas é no Novo Horizonte que suas memórias se fazem presentes. E foi lá, criança, que vivenciou várias situações, que naquele momento não conseguia compreender. Isolamento, timidez, rejeições. “Foi um processo de descobertas, mas muito impactantes naquela época”, relembra.

Em entrevista ao Correio de Carajás, ele afirma que os preconceitos vividos vinham em forma de “brincadeira”. Na verdade, preconceitos velados, que só foram percebidos com clareza através do estudo e de leitura, com o ingresso de Eric na Universidade Federal, onde cursou Ciências Sociais. “Por isso é tão importante se debater o racismo nos vários espaços sociais”.

Ainda durante a infância e adolescência, um ponto foi muito marcante: o cabelo. Jamaica afirma que sua mãe não deixava que ele e o irmão usassem cabelos grandes. Essa essa era uma das formas que a mãe encontrou na época para preservá-los de algumas situações.

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“O cabelo negro, enrolado, sempre foi motivo de chacota. E talvez seja uma das principais identidades do povo preto. O cabelo é sempre um desafio. Mas é compreensível que as mães tenham essa preocupação em deixar o cabelo curtinho, o chamado ‘corte social”.

Universidade

Ao ingressar na universidade, em 2001, Eric começou a ter uma visão e atuação mais política em relação ao combate à discriminação racial. Através do acesso a leituras e autores negros, viu-se em um contexto de debates com a possibilidade de desenvolver atividades pautadas na desconstrução de um pensamento colonial.

Eric conta que um dos primeiros eventos na liga acadêmica foi em relação ao 13 de maio – assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. “Desenvolvemos uma crítica no campus da universidade. Fizemos um evento e colocamos em debate o culto ao 13 de maio”.

Foi a partir daí que o estudante começou a perceber a importância das cotas na universidade, tornando mais democrática a possibilidade de uma maior inserção dentro das várias outras políticas públicas.

“Nós temos, nos segmentos mais elitizados da sociedade, cargos que são ocupados por pessoas brancas e que não têm dimensão do que é ser um negro. Então, por isso, espaços para debates são importantes”, analisa.

Movimento Coletivo Consciência Negra

Com o anseio de sair do espaço acadêmico e expandir o conhecimento teórico na prática, o grupo do qual Eric fazia parte com outros estudantes, desejava um alcance mais amplo. Foi quando eles começaram a realizar atividades e interagir com as escolas públicas, entre crianças e adolescentes.

“Com a aceitação desse público escolar, começamos a investir nas comunidades periféricas, onde fomos acolhidos de uma forma grandiosa, como no Bairro Cabelo Seco”, conta Eric.

O Movimento Coletivo Consciência Negra tem como objetivo se somar aos vários outros existentes em assuntos pautados para a discriminação racial e a desigualdade de gênero. “A mulher negra está na base de tudo. É o alicerce e a é que mais sofre”.

Em 2011 quando, de fato, o movimento ganhou força e foi à comunidade, o objetivo era apenas fazer uma atividade específica no Bairro do Cabelo Seco. Contudo, o pedido da população por uma continuidade foi o divisor de águas. “O bairro era – e ainda é – marginalizado, que era ocupado por pessoas de má índole…. uma imagem externa que não condiz com a realidade do bairro, que é acolhedor, comunitário e muito receptivo. Nosso objetivo é enaltecer as pessoas negras. A gente procura resgatar essa visibilidade da história africana. Não tem como falar da história do Brasil sem falar da realidade do negro”.

INFLUÊNCIA NEGRA

Eric explica que a presença negra faz parte da vida por meio da religião, culinárias, danças e indumentárias. “Querem narrar uma história negra a partir da escravidão, de uma situação forçada de destituir a pessoa da qualidade de ser humano a começar a tratá-la a partir de um objeto totalmente independente das ações da população não negra”.

20 de novembro

“É o rompimento de um histórico que desqualifica a população negra. O 20 de Novembro, pra mim, promove uma ruptura de tudo aquilo que era falado da população negra, promovendo não só reflexões, mas um reconhecimento da figura que muito contribuiu para o Brasil. Há uma diversidade e pluralidade dos povos africanos que imigraram para cá e como eles foram resistindo e conseguiram se contrapor. Então, essa data traz o orgulho de ser negro e consegue promover transformações na sociedade”. (Ana Mangas)

PROGRAMAÇÃO – CONSCIÊNCIA NEGRA

Programação dia 20/11/2021

Local: Bairro Cabelo -Marabá Pioneira

Dia 20/11 (Sábado) – A partir das 14horas às 15h30

Arte Negra: Realização de pinturas de camisetas com a arte e slogan do evento

Participação do Grupo de Mulheres Arco-Íris da Justiça – realização de penteados Afro, Turbante e comercialização de adornos Afro.

16h30: Apresentação do MC Juzin VM.

17horas: Leitura de Manifesto e orientação acerca do cumprimento dos protocolos de saúde na prevenção do COVID 19.

17h30: Apresentação do Grupo de Tradição Popular Mayrabá.

18horas: Apresentação de danças culturais dos indígenas pertencentes à etnia Gavião Akrâtikatêjê/ fala da cacique Katia Gavião.

18h30: Apresentação de danças por crianças do Projeto “Transformar” do Bairro do Cabelo Seco.

19horas: Intervenção Folclórica do Grupo “Marabela”, com realização da roda de Ciranda.

19h30: Intervenção poéticas Afro – Clei Souza, Bertin Carmelita

20horas: Apresentação de Hip-Hop/ Batalhas de MC´s

20h30: Intervenção políticas – Fora Bolsonaro

21horas: Apresentação de encerramento DJ Black Mamba

Obs.: Espaço Livre para roda de batuque (traga seus tambores, vamos batucar!)

Obs.: Haverá a realização de pinturas étnicas da cultura Gavião e comercialização de artesanatos indígenas da etnia Canela.