Correio de Carajás

Vermes do Olho de Peixe

       Circulam nas redes sociais a notícia de uma doença que acomete os olhos de peixes de nossa região. O temor em acometer humanos está contribuindo para que muitas pessoas deixam de consumir o pescado.

      Vamos falar de três temas em conjunto, a Diplostomidae que atinge os olhos dos peixes, a Loa loa que atinge os olhos dos humanos através da picada de uma mosca na África, e a Gnostomiase outro verme de pele pelo consumo de peixe cru ou mal cozido.

      Atualmente faz parte da cultura da região consumir peixes de rios de água doce, e de criatórios particulares. E como todos sabem, os peixes são serem vivos, e assim passíveis de serem afetados por parasitoses. E uma das parasitoses que pode afetar a saúde dos peixes, atingindo também seus olhos, é causado pelo parasita da familia Diplostomidae.

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       O “verme do olho do peixe” é um verme trematódeo digenético que ocorre naturalmente em peixes de água doce de diversas regiões do país, como os tucunarés, matrinxãs, traíras, corvinas, carás, jacundás, entre outros peixes de rios e reservatórios. Na realidade, há condições extremamente favoráveis ao desenvolvimento desse parasito nas pisciculturas: águas represadas, presença de caramujos e constantes visitas de aves piscívoras. O homem não faz parte do ciclo deste verme.

      Os peixes são os hospedeiros intermediários dos parasitos investigados e estes só conseguem completar seu ciclo de vida se forem ingeridos por uma ave, como uma garça, mergulhão ou outras aves aquáticas. “Assim, não é interessante para o parasito que o peixe seja devorado por outro peixe ou por um jacaré, pois o parasito seria igualmente digerido”, explica o professor Igor Affonso.

      De acordo com os pesquisadores, os resultados mostram que os parasitos, estrategicamente, ocupam áreas do globo ocular onde não atrapalham a visão dos peixes. Porém, a espécie evoluiu de maneira a migrar para regiões do olho onde consegue comprometer sua visão, especificamente em horários que coincidem com a hora de intensa atividade alimentar das aves, no início da manhã.

      Com isso, o peixe consegue escapar de predadores que buscam alimentos em outros horários do dia, mas ficam mais vulneráveis quando as aves estão caçando intensamente. Isso significa que os parasitos estão manipulando os peixes para alcançar seus hospedeiros definitivos, que são as aves, e, assim, completar com sucesso seus ciclos de vida.

      Da mesma forma, algumas imagens de verme no olho humano circulam em vídeos das redes sociais. Mas felizmente não tem nenhuma ligação com o verme que parasita do olho dos peixes. O verme que atinge o olho de humanos habitantes da África. O verme é adquirido pela picada de uma mosca muito semelhante a nossa mutuca.

      Em que a Loa loa, uma espécie de nematódeo (verme) do gênero Loa causador de um tipo de filaríase, especificamente denominada loaíase. Estes vermes estabelecem-se em pares, macho e fêmea, nos vasos linfáticos, podendo causar entumescências devidas à deficiente drenagem da linfa. Os vermes adultos produzem sexualmente inúmeras larvas microscópicas que migram pelo corpo, e são sugadas pelas moscas, transmissoras do sangue.

      A passagem dessas larvas pode dar diversos sintomas. É comum as larvas migrarem de forma visível pelo branco (conjuntiva) do olho humano, de onde vem o seu nome alternativo de “larva do olho humano”. É transmitida pela picada das moscas gigantes da família Tabanidae, especialmente as do género Crysops existente na África tropical.

      A Gnatostomíase é outra parasitose endêmica em alguns países asiáticos, causada pela ingestão da larva do nematódio Gnathostoma sp, que pode ocorrer no consumo de carne crua de peixes de água doce. Atinge vários órgãos, entre eles a pele, manifestando-se frequentemente como lesão subcutânea migratória.

      Em relação ao consumo de peixes, cabe aos consumidores observar os aspectos gerais, os olhos, as guelras, a consistência do pescado, a conservação. O que realmente devemos no preocupar é com o consumo de carne de peixe mal cozido ou mal assado.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.