A prevenção do abuso de opioides é um desafio muito importante para os médicos. Nos EUA, as fontes de opioides para adolescentes são mais comumente os familiares, e não os traficantes ou a internet.
Com exceção dos pacientes em fase terminal, os médicos devem monitorar cuidadosamente o uso de fármacos opioides em seus pacientes, mantendo as doses mais baixas possíveis e administrando-as pelo período de tempo mais curto possível compatível com o nível da dor.
A prevalência anual de 0,1% da dependência de heroína nos EUA é de apenas cerca de um terço da taxa de abuso de opiáceos prescritos e é substancialmente menor que a taxa de 2% da dependência de morfina em partes da Ásia. Desde 2007, os opiáceos prescritos superaram a maconha como a primeira droga ilícita a ser experimentada por adolescentes.
Leia mais:Os narcóticos, ou opiáceos, ligam-se aos receptores opioides específicos no Sistema Nervoso Central (SNC) e em outras partes do corpo. Esses receptores medeiam os efeitos opiáceos de analgesia, euforia, depressão respiratória e constipação.
Os peptídeos opiáceos endógenos (encefalinas e endorfinas) são ligantes naturais dos receptores opioides, desempenhando um papel na analgesia, memória, aprendizagem, recompensa, regulação do humor e tolerância ao estresse.
Os opiáceos prototípicos, a morfina e a codeína, são derivados do suco da papoula. Os fármacos semissintéticos produzidos a partir da morfina consistem na hidromorfona, diacetilmorfina (heroína) e oxicodona.
Os opioides puramente sintéticos e seus relacionados incluem meperidina, propoxifeno, difenoxilato, fentanila, buprenorfina, tramadol, metadona e pentazocina. Todas produzem analgesia e euforia, bem como dependência física, quando tomadas em doses elevadas por períodos prolongados de tempo.
Todos os opiáceos têm os seguintes efeitos sobre o SNC: sedação, euforia, diminuição da percepção da dor, depressão ventilatória e vômitos. Em doses maiores, seguem-se respiração notadamente diminuída, bradicardia, miose pupilar, estupor e coma.
A tolerância e a abstinência comumente ocorrem com o uso diário crônico após 6 a 8 semanas, dependendo da dose e da frequência; as quantidades crescentes da substância que são necessárias para manter os efeitos euforizantes e evitar o desconforto da abstinência reforçam muito a dependência após o seu começo.
A abstinência produz náuseas e diarreia, tosse, lacrimejamento, midríase, rinorreia, sudorese, espasmos musculares, piloereção, febre, taquipneia, hipertensão, dor corporal difusa, insônia e bocejamento.
Com opiáceos de ação curta, como a heroína, morfina ou oxicodona, os sinais de abstinência começam 8 a 16 h após a última dose, atingem o pico em 36 a 72 h e diminuem em 5 a 8 dias. Com os opiáceos de ação mais prolongada como a metadona, a abstinência começa vários dias após a última dose, atinge o pico em 7 a 10 dias e dura várias semanas.
Em relação à overdose, as doses altas de opiáceos, independentemente de serem tomados em uma tentativa de suicídio ou acidentalmente, quando sua potência e mal interpretada, podem ser letais. A toxicidade ocorre logo após a administração IV e com um atraso variável após a ingestão oral.
Os sintomas incluem miose, respiração superficial, bradicardia, hipotermia e estupor ou coma. O manejo da overdose exige suporte das funções vitais, incluindo a intubação quando necessário. O antagonista opioide naloxona é administrado na dose de 0,4 a 2 mg IV ou IM, com uma resposta esperada dentro de 1 a 2 min; pode haver necessidade de doses repetidas, em geral na forma de infusão IV, por 24 a 72 h dependendo do opioide usado na overdose.
Os pacientes devem descartar quaisquer opioides remanescentes após o tratamento. Os médicos devem ficar atentos quanto ao seu próprio risco de abuso e dependência de opioides, nunca prescrevendo esses fármacos para si mesmos.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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