Correio de Carajás

Uma a cada cinco crianças sofre com problemas emocionais

Uma a cada cinco crianças sofre com problemas emocionais

Na semana do Dia das Crianças, a estatística mostra que uma em cada cinco crianças sofre algum problema emocional, desde déficit de atenção a depressão infantil. “O momento certo de procurar ajuda profissional é quando os pais precisam de orientação. Precisam ter a consciência que a ajuda é para os pais e para as crianças”, esclarece o psicólogo, especialista em saúde mental e que atua em Parauapebas, Wagner Dias Caldeira.

Mãe de três filhos, M. N. enfrenta a missão diária de lidar com os desafios respectivos a idade de cada menino. O mais velho, de 17 anos, o segundo, com 12 anos, e o mais novo, com 7 anos. A criança do meio é a que a fez questionar sobre a maneira correta de educá-la. “Tudo começou quando meu filho passou a sofrer bullying na escola ainda pequeno. Os colegas o chamavam de gordo, ao ponto de um dia, em um desabafo desesperado, ele dizer que ninguém o amava. Meu filho se transformou em um garoto com atitudes grosseiras, como se estivesse o tempo todo se defendendo, com respostas ríspidas e na ponta da língua para tudo”, contou

Ela passou a questionar a educação prestada em casa. “Me pergunto onde está o erro, se falhei em algum momento, pois confesso que muitas vezes não sei a melhor maneira de ajudá-lo, procuro sempre conversar com ele, participar dos eventos da escola”, relata a mãe. Segundo especialistas, os distúrbios comportamentais geralmente são desenvolvidos nessa fase por ser a época de desenvolvimento físico e psicológico das crianças.

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A gestora de uma escola de Parauapebas, Maria Nely, cita estratégias para atender às crianças com problemas emocionais no ambiente escolar. “Infelizmente, em nossa sociedade temos uma divergência muito grande na principal base que é a família. Temos questões de pais que estão se separando e as crianças estão convivendo em um ambiente com duas ou três famílias. Nós temos crianças que moram com o pai uma semana, na seguinte mora com a mãe, na terceira semana fica com a avó. E temos detectado que essas crianças, mesmo em um lar aconchegante e acolhedor, se tornam muito emotivas, qualquer coisa choram, não tem gosto em realizar as atividades”, observa.

A realização de atividades pedagógicas fora do ambiente de aula é uma das soluções apontadas para combater os problemas, destaca a diretora. “Também trabalhamos no projeto antibullying, que é como se fosse uma depressão escondida, um processo lento no qual a pessoa vai ficando desmotivada. Nós trabalhamos respeitando e ensinando nossas crianças a aceitarem a diferença. Caso não conseguimos resolver com as crianças acionamos os pais”, relata.

Sintomas que servem de alerta

A Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (Sbie) responsável por estudar a inteligência emocional em escolas, comunidades e famílias, ensina a diagnosticar os principais sintomas dos distúrbios infantis. Baixo rendimento escolar, irritabilidade, dificuldade em concentração e aprendizagem, ansiedade, problemas de sono, insegurança, tristeza, dificuldade para fazer amigos, timidez excessiva.

O psicólogo Wagner Caldeira orienta que independente do diagnóstico os pais devem ser próximos aos filhos para observar a condição de sofrimento deles, e assim poder tentar ajudar. “Nós psicólogos trabalhamos na perspectiva de instrumentalizar os pais para saber lidar com as questões que a criança traz”. O especialista garante que não são todos casos em que a medicação é necessária.

Para Caldeira, um dos problemas é que as pessoas querem uma solução rápida e mágica para resolver a situação. “A medicação acaba dando essa esperança de que a gente tem uma porção mágica, mas não temos, a questão com a criança é resolvida com a presença e com o tempo”, reitera.

Conforme ele, as mudanças sociais acabam deixando os responsáveis perdidos. “Talvez o mundo tenha mudado e a gente esteja querendo que as crianças já nasçam adaptadas a ele, em que a rua não é mais espaço para brincadeiras, e não tenha mais contato com a natureza. As brincadeiras, agora, englobam a criança ficar parada em frente a um monitor, até interagem com outras crianças, por meio, de uma tela”.

Caldeira relata ainda o crescimento em distúrbios emocionais infantis. “A gente tem visto um crescimento muito alto de transtornos como bipolaridade, ansiedade, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e o autismo. A gente precisa cuidar de cada um desses casos”, diz.

Depressão e bipolaridade

Até a década de 70 praticamente não havia diagnósticos de depressão e bipolaridade em crianças. Já na década de 80, houve um boom de diagnósticos destes dois transtornos em crianças. Existem muitas pesquisas que apontam interferência da indústria farmacêutica, na época. “O número de crianças tomando medicação antidepressivos e estabilizadores do humor cresceu muito. Não que as crianças não sofram, mas os diagnósticos podem ter tido uma interferência da indústria”.

TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é relativamente recente, mas quem defende a existência do transtorno garante que já houve casos diagnosticados desde a década de 20, em um grupo de crianças de um país europeu. Foi na década de 70 que ele recebeu o nome Déficit de Atenção, com ou sem hiperatividade, e logo em seguida surgiu o remédio ritalina, uma substância psicotrópica da mesma família dos inibidores de apetite. Eles são perigosos porque causam dependência severa e casos de alteração da consciência.

Se observa, entretanto, que as crianças ficam mais concentradas nas atividades. Acontece que há relatos de casos onde elas começaram o uso da ritalina muito cedo, a partir de 3 anos, e desenvolveram outro transtorno, o de alteração de comportamento, ficando agressivas, irritadas. Infelizmente, a psiquiatria não associou essa reação ao uso prolongado da ritalina e sim ao transtorno bipolar, detalha o psicólogo.   

Ansiedade

O psicólogo conta que as crianças têm desenvolvido com muita frequência transtornos de ansiedade, principalmente relacionada ao medo, algo que elas sempre tiveram, como medo de escuro, por exemplo. No entanto, a criança ao se isolar, está vulnerável a não desenvolver defesas, nem tolerância a frustração, porque isso ela desenvolve com a brincadeira, onde é natural ganhar e perder. “No videogame se a criança perder dá para recomeçar até vencer. Há crianças que não sabem lidar com este sentimento, porque não tem suporte nenhum, explica o especialista”.  (Theíza Cristhine e Núbia Mara)