Ele acaba de dar entrada em sua aposentadoria. Foram mais de 35 anos de trabalho prestado ao serviço público. É em seu nome, Valdinar Monteiro, que cumprimento os mais de 15 mil servidores públicos que atuam em Marabá. Só na prefeitura são mais de 10 mil. Isso sem contar os das esferas federal e estadual.
O dia 28 de outubro é Dia do Servidor Público. Conheci poucos tão dedicados ao seu trabalho como Valdinar Monteiro. Além disso, é um dos últimos guardiões da Língua Portuguesa em Marabá. Não tem formação em Letras, mas dá uma aula para muitos dessa classe. É extremamente cuidadoso com as palavras ao escrever, mas também em sua fala.
Além de um habilidoso advogado na Câmara Municipal, ele também é escritor, o que nos orgulha muito. Abaixo, transcrevo textos dos amigos Laércio Ribeiro e Gutemberg Guerra sobre esse homem honesto, meticuloso e um exemplo de servidor público em nossa cidade.
Leia mais:“A despedida do palacete” fala do último dia em que o advogado e procurador da Câmara de Marabá deixa a sala onde trabalhou durante cabalísticos doze anos. Confessa seu apego ao lugar, aos costumes, às pessoas e o incômodo pela mudança. Considero que fica implícito, para não dizer hermético, o significado desta mudança. O Palacete Augusto Dias é um prédio histórico da cidade de Marabá, localizado no núcleo pioneiro onde surgiu a povoação original, em uma praça carregada de história.
No dia em que conheci pessoalmente o procurador Valdinar, em uma visita que lhe fiz em uma das minhas idas à cidade de Marabá, por conta da atividade universitária que ali exerço, ele fez questão de me mostrar todas as dependências daquele edifício que ele conhecia em todos os seus detalhes.
Ciceroneando-me cerimoniosamente pelo palacete, revelava o afeto que criara por aquele território onde se materializava o drama da população do município. Ali era seu ponto de referência, dali ele se posicionava para a cidade e para o mundo. Sair dali era simbólica e fisicamente custoso, quase uma deposição forçada por forças ocultas, levando a uma frase de tom demissionário, ou deposicionário, definitivo, quase uma morte, ao comunicar, por telefone, à esposa, que de lá acabara de sair: “Acabo de deixar o Palacete ‘Augusto Dias’!”
Ler Valdinar Monteiro de Souza é dialogar com a existência, é esgrimar o verbo, é exercitar ideias e, por isso, A Despedida do Palacete vem como uma proposta de filosofar à sombra de frondosas árvores, como nos tempos pré-socráticos. Proponho que se aceite o que ele oferece como perspectiva dialógica e verão se tenho ou não razão para recomendá-lo neste prefácio que encerro para que trilhemos, sem mais delongas, o diário digital deste domador de palavras.
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Valdinar Monteiro de Souza, entre tantos outros predicados de que lhe dotou a Providência, tem a virtude de ter sido agraciado com admirável capacidade intelectual. Advogado e jurisconsulto da Câmara Municipal de Marabá, possui, além do bacharelado, especialização em Direito Administrativo.
Um homem simples, não dado a vaidades; sóbrio, modesto. E quão modesto ele é! Conquanto tenha suas crônicas publicadas em livros, revistas e jornais; lidas e apreciadas mundo afora, ainda assim insiste em se autodefinir como autor de “insignificâncias literárias”. Não raro, refere-se a si mesmo como “cronista de meia-tigela”. Não, não o é.
Nem poderia sê-lo, dada a afinidade tamanha que tem ele com as palavras. Quem lê Valdinar Monteiro de Souza há de encantar-se com o zelo com que ele constrói cada sentença. Daí, com justiça, a Profa. Dra. Nilsa Brito Ribeiro compará-lo a um escovador de ossos. Sim, isso mesmo: como o arqueólogo, no trato meticuloso de peças fossilizadas, é bem assim que este cronista lapida os textos de sua lavra (escovador de palavras).
Laércio Ribeiro