Correio de Carajás

Transtornos Alimentares

Os transtornos alimentares constituem um grupo de condições em que há alteração persistente da alimentação ou de comportamentos associados, que prejudica de maneira significativa a saúde física de uma pessoa ou seu funcionamento psicossocial.

A anorexia nervosa se caracteriza por restrição da ingesta calórica até um grau em que o peso corporal é significativamente desviado em relação às normas de idade, gênero, saúde e desenvolvimento, acompanhada de medo de ganhar peso e distúrbio associado da imagem corporal.

A bulimia nervosa é caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar seguida de comportamentos compensatórios anormais, como vômitos autoinduzidos, uso abusivo de laxantes ou excesso de exercícios. O peso fica na faixa normal ou acima disso. O transtorno de compulsão alimentar é semelhante à bulimia nervosa, mas sem o elemento comportamental compensatório.

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Esses distúrbios são mais comuns em países industrializados e urbanizados. Os pacientes acometidos exibem tendências perfeccionistas e obsessivas, costumando apresentar também transtornos de ansiedade.

A prática de atividades que enfatizam a magreza (balé, atividades de modelo, corridas de longa distância) é prevalente, bem como uma busca de bom desempenho escolar. Os fatores de risco são história familiar de transtorno do humor, obesidade na infância e abuso psicológico ou físico durante a infância.

Tanto a anorexia quanto a bulimia nervosa ocorrem sobretudo em mulheres jovens previamente hígidas que se tornam excessivamente preocupadas com a forma corporal e o peso. A compulsão alimentar e o comportamento de purgação podem estar presentes em ambas as condições, situando-se a distinção fundamental entre as duas no peso do indivíduo.

Em relação a características clínicas a anorexia nervosa costuma se apresentar da seguinte forma. Geral: sensação de frio. Pele, cabelos e unhas: alopecia, lanugo, acrocianose e edema.  Cardiovasculares: bradicardia e hipotensão. Gastrointestinal: aumento da glândula salivar, esvaziamento gástrico lento, constipação e elevação das enzimas hepáticas. Hematopoiéticas: anemia normocítica, normocrômica; leucopenia.

Ainda como anorexia nervosa: Líquidos/eletrólitos: aumento da ureia e creatinina, hiponatremia e hipopotassemia pode ameaçar a vida. Endócrinas: diminuição dos hormônios luteinizante e folículo-estimulante com amenorreia secundária, hipoglicemia, hormônio estimulador da tireoide normal com tiroxina normal baixa, aumento do cortisol plasmático e osteopenia.

Já na bulimia nervosa em relação a características clínicas notam-se: Gastrointestinal: aumento de glândulas salivares e erosão dentária por exposição ao ácido gástrico. Líquidos/eletrólitos: hipopotassemia, hipocloremia, alcalose (decorrente dos vômitos) ou acidose (decorrente do uso abusivo de laxantes). Outras: calos ou cicatriz no dorso da mão (devido à raspagem repetida contra os dentes durante a indução do vômito).

Tratamento da ANOREXIA NERVOSA, nenhuma intervenção farmacológica tem efeito benéfico específico comprovado, mas a comorbidade com depressão e ansiedade deve ser tratada. O ganho ponderal deve ser gradual com objetivo de 250 a 500 g por semana para evitar complicações pela realimentação rápida (retenção de líquidos, insuficiência cardíaca congestiva, dilatação gástrica aguda). A maioria dos pacientes consegue alcançar a remissão dentro de 5 anos do diagnóstico inicial.

Tratamento da BULIMIA NERVOSA, as abordagens de tratamento efetivas incluem os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, em geral combinados com a terapia cognitivo-comportamental, regulação emocional ou psicoterapia interpessoal.

O prognóstico da anorexia nervosa é variável, com algumas pessoas recuperando-se após um episódio único, enquanto outras exibem episódios recorrentes ou curso crônico. A mortalidade sem tratamento é de 5,1/1.000 anualmente, sendo a mais alta entre as condições psiquiátricas. A bulimia nervosa tem desfecho mais benigno, mas 10 a 15% dos pacientes farão transição para anorexia.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.