Last Updated on 12 de março de 2019 by
Representantes do Conselho Comunitário Terra para Paz, formado por famílias que vivem em área de ocupação na Fazenda Marajaí, zona rural de Canaã dos Carajás, procuraram a Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca), em Marabá, na manhã desta segunda-feira (11) para registrar ocorrência afirmando estarem sofrendo ataques por parte dos proprietários da fazenda.
Dentre as acusações, o mais grave episódio teria ocorrido no último mês. Conforme boletim registrado na época na Delegacia de Polícia Civil de Canaã, as plantações das famílias – de milho, feijão, mandioca, quiabo, pepino, abóbora, maxixe, cebola e outros produtos – foram atingidas por jatos de avião nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro.
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Após alguns minutos do lançamento do que eles afirmam ser veneno agrícola, dizem, as plantações já estavam sofrendo visivelmente o efeito e algumas pessoas tiveram a saúde abalada pelo odor do produto, tendo sido encaminhadas vítimas para o Hospital Municipal da cidade.

O presidente do conselho, Teobaldo Barbosa do Nascimento, relatou ao Jornal CORREIO que neste último domingo (10) uma ponte construída pelas famílias para acesso à área que alegam ser da União e onde vivem foi criminosamente incendiada.
“Ele já lutou para tirar nós, já houve quatro audiências no Fórum pra tentar retirar nós, mas ele não tem o recurso para isso porque nós estamos em uma área pública federal. Ele está usando a escolta para nos intimidar com armas, está usando os vaqueiros dele, temos até fotos de uma ponte que fizemos e eles tocaram fogo. Corremos lá e apagamos, mas tem os pneus em cima da ponte”, disse.
Sobre o veneno, ele afirma que até a água utilizada pelas famílias agora causa preocupação. “Mamão, quiabo, maxixe, tudo o que é de folha redonda o veneno matou e, inclusive, contaminou nosso poço e os córregos. Temos crianças, pessoas idosas e estamos passando essa calamidade”, acrescentou.
Eles dizem que, caso comprovada a propriedade da área, os ocupantes sairão pacificamente. “Não está esperando a Justiça resolver nossos problemas. Já fomos pacificamente conversar e dizer que se ele ganhar a polícia nem precisa tirar, vamos sair. Estamos há 9 anos na área que é pública, ele que construiu a sede em área pública, isso já foi constatado”.
A fazenda está localizada a 34 quilômetros do centro urbano de Canaã dos Carajás e aproximadamente 70 famílias vivem na área. De acordo com o advogado Adebral Favacho Junior, que atua junto ao Conselho Comunitário, o caso já foi julgado anteriormente junto a Justiça Federal.

“A área em si foi constituída de 12 mil alqueires e metade dela a pessoa que tomou posse usou documentos falsos, falsificando mais de 6 mil alqueires. O Incra entrou com ação e cancelou perante a Justiça Federal esses títulos. As famílias estão ocupando esta área já há muito tempo e o fazendeiro entrou com uma ação para reintegração de posse tanto da área privada quanto da área pública”, afirmou.
De acordo com ele, mesmo sendo competência da Justiça Federal, o caso está sendo analisado pela Justiça Estadual. “Os conflitos são eminentes, as famílias ficam sujeitas a provocações. Recentemente, antes do Carnaval, o fazendeiro mandou jogar veneno em cima das plantações deles e em cima dos barracos. Comunicamos a Deca, comunicamos o Ministério Público, a Vara Agrária e também a Justiça Federal. Não obstante, ontem bloquearam o acesso das famílias à área pública e atearam fogo na ponte, só não concluíram porque as famílias apagaram, mas colocaram pneus e atearam fogo”.
Ele diz que as famílias estão sendo alvo de abusos por parte do pecuarista. “A Deca esteve lá, mas ainda não chegou a nenhuma conclusão”, concluiu. O Portal Correio de Carajás não conseguiu até o momento contato com os responsáveis pela propriedade rural. (Luciana Marschall – com informações de Jhenefer Duarte/TV CORREIO)