Correio de Carajás

Sífilis II

Em continuidade ao tema da coluna anterior. As formas clássicas de sífilis terciária incluem neurossífilis, sífilis cardiovascular e gomas.  A neurossífilis representa um continum, com doença assintomática logo após a infecção potencialmente progredindo para paresia (fraqueza) geral e tabes dorsalis (acometimento da parte posterior da medula).

A doença sintomática tem três apresentações principais, todas raras atualmente (exceto em pacientes com infecção avançada pelo HIV). A sífilis meníngea apresenta-se com cefaleia, náuseas, vômitos, rigidez de nuca, envolvimento de nervos cranianos, convulsões e alterações do estado mental dentro de 1 ano da infecção.

A sífilis meningovascular apresenta-se até 10 anos após a infecção como um pródromo encefalítico subagudo, seguido por síndrome vascular gradualmente progressiva. O acometimento parenquimatoso manifesta-se em 20 anos como paresia geral e em 25 a 30 anos como tabes dorsalis.

Leia mais:

Tabes dorsalis é uma desmielinização das colunas posteriores, das raízes dorsais e dos gânglios das raízes dorsais, com marcha atáxica de base ampla e pés afastados; parestesia; distúrbios vesicais; impotência; arreflexia; propriocepção prejudicada, ausência de sensação de dor profunda e de temperatura.

A sífilis cardiovascular desenvolve-se em 10% dos pacientes 10 a 40 anos depois da infecção. A endarterite obliterante do vasa vasorum responsável pelo suprimento sanguíneo dos grandes vasos resulta em aortite, regurgitação aórtica, aneurismas saculares e estenose do óstio coronariano.

Gomas costumam ser lesões solitárias que mostram inflamação granulomatosa com necrose central. Os locais comuns incluem a pele e o sistema esquelético, porém qualquer órgão (incluindo cérebro) pode ser envolvido.

Diagnóstico para sífiles incluem: Exames sorológicos – não treponêmicos e treponêmicos que são a base do diagnóstico. Aterações nos títulos de anticorpos também podem ser usadas para monitorar a resposta ao tratamento.

Testes sorológicos não treponêmicos que medem anticorpos IgG e IgM contra complexo antigênico cardiolipina-lecitina-colesterol, Venereal Disease Research Laboratory (reação de VDRL) são recomendados para rastreamento ou para quantificação de anticorpos séricos.

Após o tratamento da sífilis precoce, uma queda persistente ≥ 4 vezes nos títulos é considerada uma resposta adequada. Os pacientes com sífilis devem ser avaliados para infecção pelo HIV.

Os testes treponêmicos, incluindo teste de hemaglutinação, o teste de absorção do anticorpo treponêmico fluorescente (FTA-ABS) e os testes treponêmicos enzimáticos ou quimioluminescentes (ELAs/CIAs), são usados para confirmar os resultados de testes não treponêmicos e não devem ser usados como rastreamento devido a altas taxas de falso-positivos. Os resultados permanecem positivos mesmo após sucesso terapêutico.

A PL é recomendada aos pacientes com sífilis e sinais ou sintomas neurológicos, título de RPR ou VDRL ≥ 1:32 ou suspeita de falha do tratamento, e para os pacientes infectados pelo HIV com contagem de células T CD4+ < 350/uL.

Em relação ao tratamento da sífilis, a reação de Jarisch-Herxheimer constitui significativa reação ao tratamento, observada mais comumente com o início da terapia para sífilis primária (cerca de 50% dos pacientes) ou secundária (cerca de 90%). A reação está associada a febre, calafrios, mialgia, taquicardia, cefaleia, taquipneia e vasodilatação. Os sintomas desaparecem em 12 a 24h sem tratamento.

A resposta ao tratamento deve ser monitorada pela determinação dos títulos de RPR ou VDRL em 6 e 12 meses na sífilis primária e secundária e em 6, 12 e 24 meses na sífilis terciária ou latente.

Os pacientes infectados por HIV devem repetir o exame sorológico em 3, 6, 9, 12 e 24 meses, independentemente do estágio da sífilis.

Na neurossífilis tratada, as contagens celulares no LCS devem ser monitoradas a cada 6 meses até voltarem ao normal. Em pacientes não infectados pelo HIV adequadamente tratados, uma contagem celular elevada no LCS diminui para o normal em 3 a 12 meses.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.