É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. A sífilis é uma doença que se apresenta em fases distintas, intercaladas por períodos sem sintomas, ditos períodos latentes. É dividida em sífilis primária, secundária e terciária, que são intercaladas por períodos latentes.
Na infecção primária, a bactéria penetra a mucosa e cai nas correntes linfática e sanguínea, em poucas horas. O período de incubação, que vai do contato sexual ao aparecimento da lesão genital ulcerada, de bordos salientes, sem dor, é de três a seis semanas, em média.
A resposta imunológica é capaz de cicatrizar espontaneamente ou mesmo impedir o aparecimento da ferida genital. Mas, em ambos os casos, é insuficiente para eliminar a bactéria do organismo. Quatro a dez semanas da lesão primária, estará instalada a sífilis secundária, estágio em que a bactéria se multiplica e se dissemina por todos os órgãos.
Leia mais:As manifestações da fase secundária são variáveis: febre, dores musculares, ínguas e manchas avermelhadas, que não poupam a palma das mãos, nem a planta dos pés, nem as mucosas da orofaringe. Embora essas lesões contenham a bactéria, as da boca são as mais contagiosas. Pode ocorrer queda do cabelo, sobrancelhas e barba, em áreas circunscritas.
Na fase secundária, a produção de anticorpos atinge o pico. Sem tratamento, os sinais e os sintomas regridem, e a doença entra no estágio de latência que pode durar anos. Cerca de um terço dos casos em latência evolui para a fase, a terciária, enquanto os demais permanecem sem sintomas.
A sífilis terciária se caracteriza pelo acometimento do sistema cardiovascular, em 80% a 85% dos pacientes, e do sistema nervoso central, em 5% a 10%. Complicações cardiovasculares acontecem pelo menos dez anos depois da lesão primária.
As mais frequentes são os aneurismas da aorta e as lesões de válvulas cardíacas. O exame do Líquido Céfalo Raquidiano é obrigatório na sífilis congênita. O LCR positivo indica sífilis congênita no Sistema Nervoso Central, com sensibilidade de 20 a 70%.
As manifestações da neurossífilis são múltiplas. As mais precoces podem surgir seis meses depois da infecção sob a forma de meningites. As mais tardias envolvem a intimidade do sistema nervoso central, causando alterações da marcha, paresias, perdas de sensibilidade e o quadro conhecido pelos médicos antigos como “paresia geral dos insanos”, que evolui com perda de memória, alterações de personalidade e da fala, irritabilidade e sintomas psicóticos.
O termo, infecção congênita é atribuído às infecções adquiridas pelo feto via transplacentária durante a gestação. É importante realizar o rastreamento no pré-natal e também ao nascimento, caso tenha havido suspeita de infecção na gestação ou no caso de sífilis, que precisa ser também rastreada no parto.
Como consequência da disseminação da doença, os casos congênitos aumentam ano a ano, no Brasil. Em 2008 nasceram 5.728 bebês infectados; em 2013 foram 13.705. Para 2016, o Ministério da Saúde superou o registro de mais de 16 mil.
O diagnóstico de sífilis congênita deve ser feito por sorologia materna realizada durante a gestação e no dia do parto. O ideal é na primeira consulta do pré-natal tratar logo a mãe. Se a gestante estiver com mais de 20 semanas de gestação, ou se for uma gestante vulnerável (moradora de rua, custodiada, usuária de droga). Então recomenda-se tratamento para gestante e parceiro ainda na primeira consulta, com avaliação posterior do teste treponêmico.
O seguimento ambulatorial de todas as crianças com sífilis congênita é fundamental para certificar-se de que o tratamento foi adequado. E também para acompanhar as sequelas da sífilis congênita tardia. É importante lembrar que a sífilis é altamente curável, mas não gera imunidade. Portanto, é possível se infectar mais de uma vez se não usar preservativo quando da relação com uma pessoa infectada.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.