Correio de Carajás

Oito anos tecendo o manto sagrado da Senhora de Nazaré

Há oito anos, estilista Francisco Taveira assumiu a missão de desenhar e confeccionar os mantos de Nossa Senhora de Nazaré

Segundo a história conta, a imagem achada por Plácido no ano de 1700, em Belém, estava envolta por um manto “azul brilhante com gotas de orvalho”. Contudo, muitos estudiosos e pesquisadores sobre o Círio de Nazaré discordam sobre o fato de a imagem estar ou não com um manto no momento em que foi encontrada.  Muito diferente da sofisticação dos dias atuais, há registros que os primeiros mantos eram bem maiores que a imagem.

Em 1953, durante o VI Congresso Eucarístico Nacional, Nossa Senhora de Nazaré recebeu um manto de cetim branco, bordado a ouro e pedras preciosas desenhado pela estilista Vivi Martins. Este, aliás, se tornou o único manto que veste a imagem original.

Ao longo de todos esses anos, inúmeros mantos passaram a ser confeccionados para adornar a imagem peregrina que sai nas procissões do Círio.

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A historiadora Rosa Arraes conta que inicialmente o manto não era confeccionado todos os anos, em função do seu alto custo financeiro. Por isso, a imagem usava o mesmo manto por um determinado tempo. Tal situação teria mudado, quando a irmã Alexandra, do Colégio Gentil Bittencourt, em Belém, dedicou-se a confeccionar um manto a cada ano, custeado por fieis promesseiros. E assim foi, até sua morte em 1973.

Vários estilistas e artesãos católicos vêm assumindo a missão de desenhar e confeccionar os mantos de Nossa Senhora.

Marabá

Em Marabá, há oito anos essa missão fica nas mãos de Francisco Taveira de Sousa, 31 anos, estilista e artesão.

Devoto de Nossa Senhora de Nazaré desde criança, Francisco tem uma forte ligação com o Círio, não só pelo seu trabalho com a confecção do manto. Sempre acompanhou toda a programação e desejou participar de todos os eventos da igreja. Começou como coroinha, foi guarda da santa em 2008, aos 18 anos, trabalhou na Paróquia por muito tempo decorando para as missas e com isso fui crescendo e descobrindo meus dons. “E hoje sou o responsável pela criação e confecção do manto”, orgulha-se.

Em 2013, quando recebeu o convite da Diretoria do Círio para preparar o manto de Nossa Senhora, sem pensar ele aceitou. Depois foi avaliar sobre a responsabilidade que agora estava em suas mãos.

“Eu abracei a causa, entreguei nas mãos de Virgem Maria e criei um manto. Achei que não ia dar conta, mas terminei faltando pouco tempo e foi tudo uma maravilha. Foi um manto lindíssimo. Todo mundo que via ficava maravilhado”, relembra, contando que chegaram até a duvidar que ele mesmo teria produzido.

O trabalho deu tão certo, que Francisco continua sendo o responsável pelo manto até hoje.

O processo de criação e confecção, começa muito antes, quando o tema do Círio é lançado. Francisco explica que faz um estudo profundo sobre o assunto e a partir daí, começa a pensar de que forma pode ser transposto para o manto aquele tema.

“Pego um papel em branco, vou rabiscando, fazendo e refazendo. E crio um descritivo, do significado de cada detalhe, porque tudo que vem no manto tem um significado, tem uma mensagem. É um trabalho que eu começo em fevereiro. Na confecção tem a escolha do tecido, as cores das pedrarias e aí começa o trabalho de corte e costura”.

O manto é entregue na semana do Círio para a apresentação. O artesão afirma que ele também é o responsável em preparar a imagem com o novo manto para as fotografias oficiais, que é feita antecipadamente, tudo em sigilo.

Tradicional e motivo de grande expectativa dos fiéis, o manto de Nossa Senhora de Nazaré é doado por uma família – ou uma pessoa – que se predispõe a arcar com as despesas financeiras, que não são baixas.

Ao Correio de Carajás, Francisco afirma que o custo é alto e que a família doadora, geralmente paga parceladamente. “A pessoa se oferece e, graças a Deus, todo ano sempre tem. Ano que vem, por exemplo, já tem uma pessoa que está na fila para ser doadora do manto”.

Reconhecimento

“Eu costumo dizer que quando estou confeccionando o manto, todo dia vendo, meus olhos se acostumam e as vezes começo a achar que está muito simples. Então, durante a confecção do manto, eu não me emociono. Mas quando vem o dia da apresentação, que a imagem é descoberta dentro da catedral, no escuro, somente com os focos de luz em cima de Nossa Senhora, naquele momento meus olhos se abrem e é como se eu estivesse vendo pela primeira vez. Me emociono de ver a emoção das pessoas”, conta o estilista.

Manto 2021

Para a Reportagem, Francisco não contou detalhes sobre o manto, mas garantiu que terá uma grande novidade nas cores, que nunca foram usadas. “Está belíssimo, em questão de brilho. Ele está clássico e acolhedor. No dia 16 de outubro o marabaense vai poder conferir isso que estou falando e vai se emocionar”, finaliza. (Ana Mangas)