Correio de Carajás

Sempror testa técnica de combate à vassoura de bruxa em cupuaçuzal

Um projeto pioneiro em Parauapebas vai tentar salvar lavouras de cupuaçu da praga da vassoura de bruxa, que seca as folhas da arvore e deixa os frutos defeituosos, podres por dentro ou mumificados. O projeto é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Produção Rural (Sempror) contando com o apoio técnico da Embrapa Amazônia Oriental, que desenvolveu a técnica para combater a praga, tornando espécies de cupuaçu mais resistentes à praga.

Na manhã de ontem, terça-feira (24), os técnicos da Sempror, em parceria com estudantes da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), iniciaram o primeiro experimento no combate à vassoura de bruxa no município em uma propriedade da Vila da Palmares I ou Palmares Sul. Toda a plantação da propriedade, com mais de 800 pés de cupuaçu, está infestada com a doença.

Nessa primeira fase do combate à praga, é feita a poda drástica e fitossanitária dos pés. A equipe iniciou com poda de 100 pés de cupuaçu. Na segunda fase, após nascimento do broto, será feito o enxerto com a espécie BRS Carimbó, uma das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, que é mais tolerante à vassoura de bruxa.

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De acordo com o engenheiro agrônomo da Sempror, Rafael Freire, em dois e três anos as plantas enxertadas vão começaram a produzir e terão produtividade superior a outra espécie. Ele destaca que a produtividade do cupuaçuzal, antes da praga, era em torno três a cinco toneladas por ano por hectare e, com a BRS Carimbó, essa produtividade vai saltar para 11 toneladas por hectare.

“Só um pé de cupuaçu dessa espécie produz cerca de 20 frutos por safra. Muito superior a essa espécie que é cultivada na propriedade e que não tem qualquer resistência à vassoura de bruxa”, detalha o agrônomo.

Ele explica que essa técnica de substituição de copa, através do enxerto, desenvolvida pela Embrapa, é nova, mas já tem resultados positivos e vem sendo a saída na batalha contra a vassoura de bruxa em lavouras do Estado. Mas essa é uma técnica para salvar plantios já existentes, as novas lavouras em escala comercial já estão sendo com cultivares tolerantes ao fungo e que têm mais produtividade.

Rafael observa que eles decidiram utilizar a técnica da substituição de copa na propriedade por escala. Ou seja, primeiro com 100 plantas, e depois isso vai ser feito gradativamente, de modo a garantir que a produção da propriedade não fosse interrompida drasticamente. “Se nós optássemos em eliminar todos os pés e plantar a nova espécie, a produção só ia começar daqui a três ou cinco anos. Com essa técnica, a produção começa em dois anos e, nesse período, a produção não é interrompida, porque os pés vão sendo podados gradativamente”, enfatiza.

Rafael explica que vassoura de bruxa é causada por um fungo que é espalhado pelo vento e se alastra rapidamente nas plantações. O fungo inibe a produção de fotossíntese pela árvore, que é o alimento da planta, secando as folhas e reduzindo a produtividade, porque quase todos os brotos são abortados.

A praga não tem cura, segundo ele. A única forma de lutar contra ela é criar espécies mais resistentes, como é o caso da BRS Carimbó. “Não tem defensor químico que mate o fungo”, explicando que o mal, que começou nas plantações de cacau no Estado da Bahia, acomete hoje todas as plantações de cupuaçu na Amazônia.

De acordo com o secretário municipal de Produção Rural, Eurival Martins, o Totô, a meta é atender todos os produtores de cupuaçu do município com essa técnica. Para isso, o primeiro passo foi dado com o treinamento do pessoal, feito pela Embrapa, e agora está sendo feito investimento em aquisição de equipamentos para a logística de campo, porque não havia nada na secretaria, que ele assumiu em janeiro deste ano.

“Essa é uma política do governo municipal, de atender os pequenos produtores, com técnica e aporte para que possam produzir. Hoje estamos atendendo essa propriedade, mas dentro da nossa possibilidade, outras irão sendo atendidas”, afirma o secretário, prevendo que até o meio do ano que vem a Sempror estará dotada com infraestrutura para atender a demanda existente.

O secretário diz que no caso específico do cupuaçu, a meta é trabalhar essa técnica para que Parauapebas, em pouco tempo, assuma a liderança na produção do fruto na região. Ele observa que o cupuaçu, além de ser usado para fabricação de doces, suco e outras iguarias, também é muito usado na indústria de cosmético.

Além do cupuaçu, também está sendo feito investimentos com outras culturas para produção em grande escala, como é o caso do açaí. “Queremos ver o trem passando não só com minério de ferro, mas também fazendo escoação agrícola”, almeja Totô.

Dona de plantação se diz esperançosa com nova técnica

Pioneira na região que virou assentamento Palmares, que hoje é dividido em Vilas Palmares Sul e Palmares II, Odalma Afonso de Rezende, de 73 anos, está otimista com a nova técnica para tentar salvar sua plantação de cupuaçu, feita em uma área de quatro hectares, na vicinal 3 da Palmares I. Ela conta que a praga começou a infestar sua plantação há três anos.

Nesse período, ela também adoeceu e ficou um ano sem poder cuidar da propriedade, que divide com a amiga Maria Helena Dantas, de 63 anos. Quando melhorou e voltou à plantação, ela diz que entrou em prantos ao ver seu cupuzal, que cuidava com todo carinho e de onde tirava seu sustento, todo infestado. Até agora, ao falar da sua plantação, ela chora por conta dos danos causados. Ela lembra que quando o cupuzal estava sadio, ela chegou a tirar até 20 toneladas do fruto por safra.

Tentando salvar a lavoura, Odalma recorreu a vários técnicos e chegou a ser aconselhada a cortar toda plantação, porque não havia mais nada a ser feito. Este ano, no entanto, em conversa com técnicos da Sempror, expôs seu problema e eles se interessam em ajudá-la.

De acordo com a zootecnista da Sempror, Acaina Kiss, como eles não tinham conhecimento técnico sobre plantação de cupuaçu e muito menos sobre o combate à vassoura de bruxa, procuraram a Embrapa em busca de informação. Em conversa com o professor Rafael Moisés, ficaram sabendo da técnica de substituição de copa, desenvolvida por ele e que está dando certo.               

Eles passaram por treinamento no mês de julho, inclusive indo em um dos projetos da Embrapa na Vila Sororó, em Marabá, onde essa técnica é aplicada e também esta sendo desenvolvido plantio com outras cultivares já mudadas geneticamente para resistir à praga. O próximo passo foi aquisição de equipamentos e, agora, começaram os trabalhos de campo.

No caso da plantação de Odalma, foi feito previamente o mapeamento de todas as árvores, para saber quais as mais produtivas. É por essas árvores que começaram a técnica do enxerto.  “Depois vamos treinar os proprietários, para que eles mesmos depois sigam fazendo a poda e enxerto das outras arvores, até concluir o processo”, frisa Acaina.   

Vassoura de Bruxa

A vassoura de bruxa é a principal doença do cupuaçuzeiro, capaz de reduzir a produção de frutos em até setenta por cento. Esta grave doença é causada pelo fungo Moniliófitora perniciosa, o mesmo que ataca plantações de cacau, árvore da família do cupuaçu.

Esse fungo é disseminado pelo vento e ataca tanto mudas no viveiro como plantas no campo. Os sintomas da vassoura de bruxa podem aparecer em duas etapas. Na fase inicial é denominada vassoura verde, e na avançada é a vassoura seca.

Entre os trabalhos de pesquisa da Embrapa para combater e controlar a praga está o lançamento de cultivares resistentes, como a BRS Carimbó. Também estão sendo pesquisadas medidas de manejo integrado, como as podas drásticas e fitossanitárias, para reduzir os danos e perdas provocados pela doença.

A poda fitossanitária consiste em, periodicamente, retirar os frutos secos, as vassouras verdes e secas, cortando-as 15 a 20 cm abaixo do local do superbrotamento. Além da poda drástica, deve-se fazer a poda de manutenção e limpeza a cada três meses, eliminando as vassouras que vão surgindo, os ramos ladrões e a lateral das copas das plantas que se entrelaçam, mantendo espaçamentos entre as árvores de cupuaçu.

Além do manejo fitossanitário por meio das podas, outra medida para combater a doença é a utilização de plantas resistentes, desenvolvidas a partir de pesquisas de melhoramento genético. E desde 2012, os agricultores interessados na produção contam com uma cultivar de cupuaçu melhorada, que é a BRS Carimbó. Apesar de resistente à vassoura de bruxa, ela não é imune à doença, mas tem mais resistência à praga. (Tina Santos)

 

Um projeto pioneiro em Parauapebas vai tentar salvar lavouras de cupuaçu da praga da vassoura de bruxa, que seca as folhas da arvore e deixa os frutos defeituosos, podres por dentro ou mumificados. O projeto é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Produção Rural (Sempror) contando com o apoio técnico da Embrapa Amazônia Oriental, que desenvolveu a técnica para combater a praga, tornando espécies de cupuaçu mais resistentes à praga.

Na manhã de ontem, terça-feira (24), os técnicos da Sempror, em parceria com estudantes da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), iniciaram o primeiro experimento no combate à vassoura de bruxa no município em uma propriedade da Vila da Palmares I ou Palmares Sul. Toda a plantação da propriedade, com mais de 800 pés de cupuaçu, está infestada com a doença.

Nessa primeira fase do combate à praga, é feita a poda drástica e fitossanitária dos pés. A equipe iniciou com poda de 100 pés de cupuaçu. Na segunda fase, após nascimento do broto, será feito o enxerto com a espécie BRS Carimbó, uma das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, que é mais tolerante à vassoura de bruxa.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Sempror, Rafael Freire, em dois e três anos as plantas enxertadas vão começaram a produzir e terão produtividade superior a outra espécie. Ele destaca que a produtividade do cupuaçuzal, antes da praga, era em torno três a cinco toneladas por ano por hectare e, com a BRS Carimbó, essa produtividade vai saltar para 11 toneladas por hectare.

“Só um pé de cupuaçu dessa espécie produz cerca de 20 frutos por safra. Muito superior a essa espécie que é cultivada na propriedade e que não tem qualquer resistência à vassoura de bruxa”, detalha o agrônomo.

Ele explica que essa técnica de substituição de copa, através do enxerto, desenvolvida pela Embrapa, é nova, mas já tem resultados positivos e vem sendo a saída na batalha contra a vassoura de bruxa em lavouras do Estado. Mas essa é uma técnica para salvar plantios já existentes, as novas lavouras em escala comercial já estão sendo com cultivares tolerantes ao fungo e que têm mais produtividade.

Rafael observa que eles decidiram utilizar a técnica da substituição de copa na propriedade por escala. Ou seja, primeiro com 100 plantas, e depois isso vai ser feito gradativamente, de modo a garantir que a produção da propriedade não fosse interrompida drasticamente. “Se nós optássemos em eliminar todos os pés e plantar a nova espécie, a produção só ia começar daqui a três ou cinco anos. Com essa técnica, a produção começa em dois anos e, nesse período, a produção não é interrompida, porque os pés vão sendo podados gradativamente”, enfatiza.

Rafael explica que vassoura de bruxa é causada por um fungo que é espalhado pelo vento e se alastra rapidamente nas plantações. O fungo inibe a produção de fotossíntese pela árvore, que é o alimento da planta, secando as folhas e reduzindo a produtividade, porque quase todos os brotos são abortados.

A praga não tem cura, segundo ele. A única forma de lutar contra ela é criar espécies mais resistentes, como é o caso da BRS Carimbó. “Não tem defensor químico que mate o fungo”, explicando que o mal, que começou nas plantações de cacau no Estado da Bahia, acomete hoje todas as plantações de cupuaçu na Amazônia.

De acordo com o secretário municipal de Produção Rural, Eurival Martins, o Totô, a meta é atender todos os produtores de cupuaçu do município com essa técnica. Para isso, o primeiro passo foi dado com o treinamento do pessoal, feito pela Embrapa, e agora está sendo feito investimento em aquisição de equipamentos para a logística de campo, porque não havia nada na secretaria, que ele assumiu em janeiro deste ano.

“Essa é uma política do governo municipal, de atender os pequenos produtores, com técnica e aporte para que possam produzir. Hoje estamos atendendo essa propriedade, mas dentro da nossa possibilidade, outras irão sendo atendidas”, afirma o secretário, prevendo que até o meio do ano que vem a Sempror estará dotada com infraestrutura para atender a demanda existente.

O secretário diz que no caso específico do cupuaçu, a meta é trabalhar essa técnica para que Parauapebas, em pouco tempo, assuma a liderança na produção do fruto na região. Ele observa que o cupuaçu, além de ser usado para fabricação de doces, suco e outras iguarias, também é muito usado na indústria de cosmético.

Além do cupuaçu, também está sendo feito investimentos com outras culturas para produção em grande escala, como é o caso do açaí. “Queremos ver o trem passando não só com minério de ferro, mas também fazendo escoação agrícola”, almeja Totô.

Dona de plantação se diz esperançosa com nova técnica

Pioneira na região que virou assentamento Palmares, que hoje é dividido em Vilas Palmares Sul e Palmares II, Odalma Afonso de Rezende, de 73 anos, está otimista com a nova técnica para tentar salvar sua plantação de cupuaçu, feita em uma área de quatro hectares, na vicinal 3 da Palmares I. Ela conta que a praga começou a infestar sua plantação há três anos.

Nesse período, ela também adoeceu e ficou um ano sem poder cuidar da propriedade, que divide com a amiga Maria Helena Dantas, de 63 anos. Quando melhorou e voltou à plantação, ela diz que entrou em prantos ao ver seu cupuzal, que cuidava com todo carinho e de onde tirava seu sustento, todo infestado. Até agora, ao falar da sua plantação, ela chora por conta dos danos causados. Ela lembra que quando o cupuzal estava sadio, ela chegou a tirar até 20 toneladas do fruto por safra.

Tentando salvar a lavoura, Odalma recorreu a vários técnicos e chegou a ser aconselhada a cortar toda plantação, porque não havia mais nada a ser feito. Este ano, no entanto, em conversa com técnicos da Sempror, expôs seu problema e eles se interessam em ajudá-la.

De acordo com a zootecnista da Sempror, Acaina Kiss, como eles não tinham conhecimento técnico sobre plantação de cupuaçu e muito menos sobre o combate à vassoura de bruxa, procuraram a Embrapa em busca de informação. Em conversa com o professor Rafael Moisés, ficaram sabendo da técnica de substituição de copa, desenvolvida por ele e que está dando certo.               

Eles passaram por treinamento no mês de julho, inclusive indo em um dos projetos da Embrapa na Vila Sororó, em Marabá, onde essa técnica é aplicada e também esta sendo desenvolvido plantio com outras cultivares já mudadas geneticamente para resistir à praga. O próximo passo foi aquisição de equipamentos e, agora, começaram os trabalhos de campo.

No caso da plantação de Odalma, foi feito previamente o mapeamento de todas as árvores, para saber quais as mais produtivas. É por essas árvores que começaram a técnica do enxerto.  “Depois vamos treinar os proprietários, para que eles mesmos depois sigam fazendo a poda e enxerto das outras arvores, até concluir o processo”, frisa Acaina.   

Vassoura de Bruxa

A vassoura de bruxa é a principal doença do cupuaçuzeiro, capaz de reduzir a produção de frutos em até setenta por cento. Esta grave doença é causada pelo fungo Moniliófitora perniciosa, o mesmo que ataca plantações de cacau, árvore da família do cupuaçu.

Esse fungo é disseminado pelo vento e ataca tanto mudas no viveiro como plantas no campo. Os sintomas da vassoura de bruxa podem aparecer em duas etapas. Na fase inicial é denominada vassoura verde, e na avançada é a vassoura seca.

Entre os trabalhos de pesquisa da Embrapa para combater e controlar a praga está o lançamento de cultivares resistentes, como a BRS Carimbó. Também estão sendo pesquisadas medidas de manejo integrado, como as podas drásticas e fitossanitárias, para reduzir os danos e perdas provocados pela doença.

A poda fitossanitária consiste em, periodicamente, retirar os frutos secos, as vassouras verdes e secas, cortando-as 15 a 20 cm abaixo do local do superbrotamento. Além da poda drástica, deve-se fazer a poda de manutenção e limpeza a cada três meses, eliminando as vassouras que vão surgindo, os ramos ladrões e a lateral das copas das plantas que se entrelaçam, mantendo espaçamentos entre as árvores de cupuaçu.

Além do manejo fitossanitário por meio das podas, outra medida para combater a doença é a utilização de plantas resistentes, desenvolvidas a partir de pesquisas de melhoramento genético. E desde 2012, os agricultores interessados na produção contam com uma cultivar de cupuaçu melhorada, que é a BRS Carimbó. Apesar de resistente à vassoura de bruxa, ela não é imune à doença, mas tem mais resistência à praga. (Tina Santos)