Correio de Carajás

Saga dos venezuelanos em Canaã viola direitos das crianças

Larro, ao lado do irmão, segura o cartaz. Nele um pedido de socorro. Precisam de comida para alimentar a família de seis pessoas. Todos são da etnia Warao, a segunda maior e mais antiga da Venezuela. Chegaram ao Brasil há vinte dias. Contam que estão em um abrigo fornecido pelo município de Parauapebas, mas frequentemente vão a Canaã dos Carajás pedir esmola em um dos semáforos da Avenida Weyne Cavalcante.

Mariceli leva o filho de colo para o trabalho que eles chamam de “coleta”. Ela fala pouco o espanhol porque a língua oficial é um dialeto. Diz que traz o bebê porque não tem com quem deixar.

Para o Conselho Tutelar em Canaã, a denúncia de que eles estariam utilizando as crianças para pedir dinheiro foi comprovada. “Apesar da Lei de Imigração Brasileira os amparar, eles não querem trabalhar”, diz Maria Devânia de Lima.

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Segundo a conselheira, os venezuelanos já foram encaminhados ao CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) no município, onde receberam alimentos, roupas e calçados. “Os colocamos em uma condução de volta ao abrigo em Parauapebas, mas eles retornaram para cá”, explica.

A presença dos índios Warao em Canaã dos Carajás é registrada desde outubro de 2019. De lá para cá, pelo menos 21 imigrantes foram atendidos na cidade.

ENTENDENDO A CRISE

A fuga em massa é resultado do caos humanitário no país de origem provocado por uma guerra política e econômica entre Estados Unidos, seus aliados e o governo venezuelano. O centro da crise é o petróleo, que responde por mais de 90% das exportações da Venezuela. O país caribenho é um dos 15 principais produtores da matéria-prima no mundo. Enquanto a Venezuela sofre sanções, o Brasil oferece refúgio aos imigrantes desde o final de 2016. Os índios Warao iniciaram um novo ciclo de imigração em dimensões transfronteiriças. Ao oferecer refúgio, o governo brasileiro permite aos imigrantes carteira de trabalho temporária, matricula dos filhos em escolas públicas e acesso a benefícios sociais, afirmam os técnicos responsáveis pelo relatório elaborado no município.

ESTADO DE EMERGÊNCIA

Em 2019, o município de Parauapebas declarou “Situação de Emergência Social” por meio do decreto 646/2019 por causa da intensa chegada de indígenas venezuelanos da etnia Warao, estimada na época em 190 pessoas, entre crianças, adultos e idosos. Com o decreto, foi possível instalar um abrigo exclusivo para os venezuelanos. Ao todo, 480 mil reais foram liberados pelo governo federal para atender até 200 imigrantes.

“Mas mesmo assim eles continuam vindo para Canaã dos Carajás”, afirma Maria de Lima. De acordo com a conselheira, esta semana, uma equipe do Conselho Tutelar irá a Parauapebas em busca de uma solução para o problema. “Os venezuelanos não querem voltar ao país de origem de jeito nenhum, mas também não podemos permitir que eles violem os direitos das crianças nos semáforos da nossa cidade”, conclui a conselheira. (Nyelsen Martins)