Correio de Carajás

Rodovias amanhecem ainda bloqueadas e mineradores só saem se forem atendidos

Rodovias amanhecem ainda bloqueadas e mineradores só saem se forem atendidos

Três rodovias da região sul e sudeste do Pará amanheceram novamente bloqueadas por mineradores que cobram serem atendidos por órgãos do Governo Federal e garantem que só sairão das pistas caso seja apresentada solução para o caso deles. Desde segunda-feira (28), o movimento ganha corpo, quando a Rodovia PA-279 foi bloqueada. Na terça (29) outro grupo fechou a Rodovia BR-155, em Eldorado do Carajás, e nesta quarta (30) foi interditada a Rodovia BR-158, em Cumaru do Norte.

A classe reivindica a legalização da atividade do pequeno minerador e do garimpeiro. O estopim para o protesto aconteceu após a Operação Verde, encabeçada pelo Ibama, quando mineradores garantem que máquinas deles foram queimadas. Em Eldorado do Carajás, nesta manhã, quinta (31), por volta das 8 horas, os manifestantes liberaram a passagem de veículos por meia hora.

Gilson: “Não podemos permitir que pais de família sejam tratados como bandidos”

“Só na região Sul e Sudeste do Pará a pequena mineração gera mais de 30 mil empregos diretos e indiretos, fomenta a economia local, não podemos permitir que esses pais de família sejam tratados como bandidos”. A revolta é do presidente da Federação Brasileira de Mineradores (Febram), Gilson Fernandes Souza.

Leia mais:

A equipe do Correio de Carajás acompanhou a manifestação na manhã de ontem, quarta, em Eldorado do Carajás, e pôde constatar um congestionamento que chegava em torno de 30 quilômetros de veículos de passeio, caminhões transportando gado, ônibus e vans.

Na quarta, a liberação do tráfego ocorreu ao meio-dia após consenso entre Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Febram. Minutos antes da liberação da estrada, um caminhoneiro se exaltou com mineradores e exigia a passagem. No entanto, um dos manifestantes sustentava que a classe dos caminhoneiros também já realizou paralisações semelhantes anteriormente.     

O presidente da Febram, Gilson Fernandes Souza garante que o principal objetivo da paralização é requerer do Governo Federal, junto ao presidente da República, Jair Bolsonaro, a revogação do Decreto Federal 6.514, que autoriza o Ibama destruir os equipamentos dos pequenos mineradores.

“O Ibama vem agindo com muita violência baseado nesse decreto e isso está desestabilizando a região Norte, por isso que esse evento está acontecendo em várias cidades da região. Se vocês forem analisar, nós não tínhamos problemas aqui. Apesar da ilegalidade da mineração, nós tínhamos uma região que estava estabilizada, nós não tínhamos crise, mas infelizmente dadas essas ações agressivas que o Ibama vem desencadeando contra o cidadão, contra o pequeno minerador, acabou chegando a essa situação”, declarou.

Gilson Souza garante que os mineradores “ficam tristes por estar fazendo isso”, mas não encontraram outra forma de chamar a atenção do Governo Federal para a situação. “Isso é responsabilidade do ministro do Meio Ambiente, ele vem atingindo como ativista ambiental, mas só contra o pequeno minerador. Nós temos feito várias viagens a Brasília buscando a regulamentação”, disse o presidente.   

Jair Feitosa aproveita a manifestação para vender lanches

REVOLTA

O minerador Paulo César Patrocínio pede para o Governo Federal que olhe para os mineradores.  “Para que a gente tenha uma tranquilidade de trabalhar, como cidadão de bem. Nós somos mineradores, nós somos cidadãos, nós queremos o direito de trabalhar legalmente no estado, infelizmente o Governo não vem deixando isso acontecer. Nós estamos aqui para isso, para que o Governo venha olhar para gente com bons olhos, queremos pagar nossos impostos, queremos trabalhar da maneira legal”, defende.

Patrocínio argumenta que “todo mundo é pai de família”. “Eldorado do Carajás hoje merece a oportunidade que Canaã teve, que Parauapebas teve. Temos que ter essa oportunidade, nem que seja pequena, porque nós moramos aqui em Eldorado e mineramos na região do Sereno, conhecido como Alto Bonito. A gente vem trabalhando praticamente sob pressão hoje. Amanhã o Ibama vem, já tivemos aí caso só durante esses 10 dias, casos de oito máquinas que foram queimadas em áreas de fazenda, foram lá e tocaram fogo. Eu acredito que vamos conseguir nosso objetivo”, acredita Patrocínio.

O minerador e fazendeiro Gerson Luiz Estefan tem uma propriedade na região da manifestação. “Eu tenho a terra aqui escriturada há 40 anos, a pessoa mora em cima da terra, não é área indígena, não é área ambiental, aonde se dá o manganês não se produz nada. Eu sou o dono dessa terra, mas se eu for tirar uma pedra de lá o Ministério Público vem em cima faz denúncia, vem a PM, ICMBio, Ibama e a Federal para dar suporte, o equipamento que topar estão queimando, apreendendo e até torturando as pessoas a falar, você tem um equipamento de R$ 700 mil e você vai deixar queimar? O cara esconde. Ele pega o funcionário e tortura para falar, foi o que aconteceu em São Felix”, descreve.

Gerson diz, ainda, que os manifestantes não estão bloqueando carga viva, ambulância, pessoas doentes e idosas. “Mas no rabo da fila lá tem motorista de caminhão que para conturbar a situação estão atravessando, no nosso trecho estamos conseguindo administrar, para lá eles estão atravessando. A gente está reivindicando um direito nosso de trabalhar, nós temos a Federação, fizemos tudo o que foi pedido e o que está faltando é apenas a questão ambiental porque ninguém quer trabalhar irregular. Custa mais caro trabalhar irregular do que trabalhar regular”, declarou.

Os mineradores procuraram pontos estratégicos para fazer a manifestação e estão organizados em equipes que fazem turnos a cada 12 horas.

Jorge Freitas: “Existem outros caminhos que não esse”

TRÁFEGO

Motoristas entrevistados pela equipe do Jornal Correio disseram acreditar serem justas as solicitações dos mineradores, no entanto, não concordaram com a forma escolhida, a manifestação. Muitos condutores estavam desde o início da manhã parados em um trecho que chegava a cerca de 30 quilômetros.  

O representante comercial Jorge Freitas, que estava na fila desde às 6h, disse ter sido uma surpresa chegar ao local e se deparar com a manifestação. “Alguns grupos de WhatsApp me informaram que havia o risco desse bloqueio, mas como a informação foi de ontem (terça-feira), eu não imaginava a extensão dessa reivindicação, desse bloqueio, dessa manifestação ou nome que queiram dar para isso”, disse, acrescentou que o bloqueio de vias talvez não seja a melhor forma de chamar a atenção.

Passageiros de vans aguardam para poder passar no trecho bloqueado

“Aparentemente até estão tentando organizar o trabalho deles para caminhar com as mudanças que estão ocorrendo no país, que seja realmente positiva, porém existem outros caminhos que não esse”, reclamou. “Se eles têm uma organização, como eu estou vendo ali a Federação Brasileira de Mineração, então eu penso que eles têm uma entidade organizada e devem ter a orientação de advogados, eles devem estar cientes que também é uma infração o que estão fazendo, não podem impedir os outros cidadãos de ir e vir, cada um com a sua profissão, mais de 20 quilômetros de engarrafamento, crianças no sol, e eles estão impedindo”, finalizou Jorge Freitas.

Por volta de meio-dia, quando o Correio de Carajás estava no local, encontrou uma van que partiu de Canaã dos Carajás com destino a Marabá transportando 20 passageiros, que estavam na fila desde às 7h. O passageiro Leonardo Dias da Silva se colocou a favor da manifestação, mas reclamou do bloqueio. “Acho certo ter essa manifestação, eles estão reivindicando aquilo que é o melhor para eles, mas tem pessoas aqui que às vezes são prejudicadas e podiam liberar essas pessoas. Tem passageira com essas crianças aqui, mas quem não tem, aí segura aqui e os outros deixa passar. Não estão fazendo essa manifestação à toa, fazem por uma necessidade, eu tinha que resolver um problema às 12h30 e não sei se dá para chegar, já são 11h39”, observou.

Quem ainda conseguiu lucrar alguma coisa com a situação foi o vendedor ambulante Jair Feitosa, que aproveitou a manifestação para vender produtos alimentícios aos motoristas. “Já vendi duas remessas de lanche. Graças a Deus vendi muito bem hoje, mais cedo vendi a primeira remessa, agora já estou na segunda, é coxinha, enroladinho, bolo aqui não falta”. (Theiza Cristhine e Luciana Marschall)