Apesar de o nível do Rio Tocantins continuar acima dos 10 metros, moradores de áreas com risco de alagamento já começam a retornar para as moradias.
Na tarde de ontem, quinta-feira (14), o Correio de Carajás esteve na Folha 14, Nova Marabá, na Colônia Z-30, na Marabá Pioneira, e no final da Avenida Manaus, no Núcleo Cidade Nova, visitando abrigos onde estão famílias desalojadas pela cheia anual do rio, que marcava, na ocasião, 10,52 metros, e encontrou pessoas já se arriscando a voltar para as próprias residências.
No Bairro Santa Rosa, Rosimeire Lima, de 30 anos, sequer chegou a deixar a moradia, mas teve de subir para o andar de cima porque não recebeu auxílio da Defesa Civil. Apesar de ter realizado o cadastro, diz, nunca foi chamada para os abrigos. Segundo ela, as dificuldades para entrar e sair da casa foram inúmeras enquanto a água estava mais alta. “Por essa rua (na frente do campo de futebol do Bairro Santa Rosa) a gente não conseguia passar, mas pela rua de trás a gente conseguia, sim. Mesmo com a água no joelho a gente passava”, destacou.
Leia mais:Ao ser questionada sobre a assistência da Defesa Civil, Rosemeire relata que os familiares não receberam nenhuma visita ou qualquer assistência em forma de cestas básicas ou materiais de higiene. Porém, mesmo com medo da água voltar a subir, a moradora retornou porque estava, até então, usufruindo de um cômodo pequeno onde que não couberam todos os móveis. Isso a levou a alugar um local para guardar parte dos utensílios domésticos, comprometendo a renda mensal.
Em relação à higiene local, foi possível observar que, com a cheia do rio, as paredes da casa ficaram marcadas de lama e muitos pacotes de lixo ainda estão espalhados, um desafio enfrentado pelos moradores da localidade que sentem “na pele”, durante essa época do ano, o reflexo de atitudes irresponsáveis daqueles que jogam lixo nas ruas.
No abrigo localizado na Folha 14, 41 pessoas ainda estão sem perspectiva de retornar para as casas. O nível do rio é considerado por eles instável, de acordo com Nycolle Souza, que está no abrigo há três semanas. “O rio sobe e baixa, a gente nunca sabe. A gente queria voltar pra casa na segunda-feira (17), mas não vamos porque pelo visto já encheu de novo”.
Segundo a moradora, para conseguirem ficar no local, além do abrigo, precisaram construir um assoalho porque há muita lama. O calor também é um desafio. Apesar desses fatores, eles estão recebendo assistência da Defesa Civil com cestas básicas e colchões, mas sem orientações em relação a quando retornar para casa, o que fica a critério do morador. Algumas pessoas do abrigo, inclusive, já estão realizando este movimento.
Na Colônia Z-30, muitas famílias ainda lotam os abrigos, onde é possível notar uma grande quantidade de crianças pequenas e alguns bebês. Gilma Arrais, de 45 anos, compara a atual estrutura à que foi concedida no ano passado e destaca melhorias. Entretanto, encara a falta de água e a questão dos banheiros químicos como grandes desafios. “Aqui tudo é no rio, a gente lava a roupa no rio, toma banho no rio, e tem que esperar o seu espaço porque é muita gente, além do esgoto que cai ali, que é prejudicial até à nossa saúde. Também tem a questão dos banheiros químicos, porque tem gente que tem consciência e gente que não tem, joga as coisas lá dentro, escorre na rua, aí fede”, enfatiza. Em relação à assistência da Defesa Civil, a moradora elogiou a forma como as famílias têm sido assistidas.
Quando o nível das águas atinge 7,5 metros acima do nível normal, muitas famílias do Núcleo Cidade Nova já ficam desabrigadas, de acordo com Sebastião Reginaldo, que vive essa realidade há 17 anos.
A partir dessa marca, as pessoas já estavam no abrigo, localizado no final da Avenida Manaus, mas, segundo o representante comunitário, com uma estrutura mais fragilizada e improvisada com lonas, não como está hoje, porque o auxílio vindo das autoridades municipais e estaduais só inicia quando o rio atinge a marca dos 10 metros.
No local, há 41 famílias desabrigadas, com 79 crianças e 72 adultos. As pessoas recebem água potável dentro de uma caixa d’água disponibilizada pela prefeitura, entretanto, o armazenamento fica aberto, suscetível a resíduos externos.
De acordo com Sebastião, a assistência concedida pela Defesa Civil demorou, mas ele diz entender tratar-se de uma demanda muito grande no período das cheias. “No início a gente ficava um pouco chateada, mas a gente tem que voltar um pouco atrás, baixar a cabeça e pensar que a demanda é em todas as áreas baixas da cidade. Os nossos gestores têm vontade de agir, mas a demanda é muito grande e eles não conseguem resolver de uma hora pra outra. As dificuldades existem, mas a gente tem conseguido ser assistido de perto”, enfatizou.
Nesta quinta, o nível do Rio Tocantins subiu sete centímetros em relação ao dia anterior e as famílias ainda permanecem sem perspectivas de retornarem aos seus lares. (Laura Guido – estagiária)
Fotos: Evangelista Rocha