O câncer colorretal (CCR) é uma doença comum e letal. No mundo, o CCR é o terceiro tipo de câncer mais diagnosticado em homens e o segundo em mulheres, com 1,8 milhão de casos novos e quase 900 mil mortes somente no ano de 2018, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Considera-se que hoje somente tem câncer de intestino grosso quem quer, basta prevenir e evitá-lo. Estima-se que, em 2040, ocorrerão mais de 3 milhões de casos. Esse aumento enorme representa um desafio, visto que há consenso de que o CCR é uma das neoplasias mais preveníveis. Além disto, a prevenção diminui efetivamente a incidência e a mortalidade.
O rastreamento do CCR é o processo de detecção de casos precoces de CCR e de lesões pré-cancerígenas em pessoas assintomáticas sem história prévia de câncer ou de lesões pré-malignas. O objetivo do rastreamento é diminuir a incidência e a mortalidade do CCR. Para alcancar esses dois objetivos, é necessário que os testes detectem CCR curáveis e lesões com risco de transformação em neoplasia.
Leia mais:A história natural do câncer do intestino propicia condições ideais à sua detecção precoce, uma vez que a maioria dos casos evolui a partir de lesões benignas por um período de 10 a 15 anos; existe, portanto, um período pré-clínico detectável bastante longo. As duas classes de lesões pré-malignas no cólon são os adenomas convencionais e os adenomas sésseis serrilhados
A maioria dos consensos recomenda que se inicie o rastreamento aos 50 anos de idade. Em 2018, a American Cancer Society colocou como recomendação “qualificada” iniciar o rastreamento aos 45 anos e, como “forte” recomendação, aos 50 anos de idade. O início mais precoce aos 45 anos deve-se ao aumento de casos de câncer em pessoas mais jovens.
Como o CCR é uma doença de evolução lenta, a progressão de adenomas para adenocarcinomas geralmente demora muitos anos. O risco-benefício do rastreamento em idosos com comorbidades tem sido debatido na literatura.
Há consenso de que pacientes com mais de 85 anos ou com expectativa de vida menor que 10 anos não devem ser submetidos a colonoscopia. Entre os 76 e 85 anos de idade, deve-se levar em consideração o desejo do paciente, a expectativa de vida e o histórico de rastreamento prévio.
Muitos testes e estratégias estão disponíveis para rastrear pacientes que estão em risco médio de desenvolvimento de CCR, incluindo testes de sangue oculto nas fezes, isolados ou em combinação com exame de DNA de fezes, endoscopia (sigmoidoscopia flexível ou colonoscopia), exame radiológico (colonografia por tomografia) e teste de marcadores moleculares sanguíneos.
Os riscos dos testes de triagem não colonoscópicos são baixos, porém todas as estratégias requerem colonoscopia como acompanhamento de um teste positivo. Um achado consistente é que o rastreamento do CCR por qualquer modalidade adaptável é custo-efetiva em comparação a nenhum rastreio. Esse achado está relacionado, em parte, aos altos custos do tratamento do CCR.
Não existe uma estratégia “melhor” para rastreamento do CCR; a estratégia mais eficaz é aquela à qual o paciente adere de forma consistente. O mais importante é ser rastreado, não importa como.
Apesar das evidências, poucos países no mundo contam com programas nacionais de rastreamento populacional para CCR. O protocolo de rastreamento de câncer do intestino mais utilizado por esses países é a realização inicial de pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida de colonoscopia nos pacientes com resultado positivo.
Parecer do Ministério da Saúde sobre rastreamento de câncer colorretal no Brasil. Devido à falta de recursos e de retaguarda (segundo e terceiro critérios da OMS), o Ministério da Saúde não considerou viável e custo-efetiva a implantação de programas populacionais de rastreamento de CCR no Brasil.
Considerações finais, assim, com base em evidências científicas sólidas, como médicos e endoscopistas devemos nos posicionar a favor da implantação de programas de rastreamento no Brasil e, sempre que possível, solicitar e realizar exames de rastreamento para aumentar a adesão.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.