Correio de Carajás

Quando a ditadura da grana invade o campo

Já faz tempo que o futebol de alto nível está se elitizando. O maior exemplo disso no Brasil são os novos estádios (agora chamados de arenas). A nova concepção arquitetônica acabou com os pontos cegos, mas encareceu os ingressos, eliminou as “gerais” e embranqueceu as arquibancadas. O ponto cego de hoje é pra quem fica de fora do estádio sem dinheiro para entrar. Até aí tudo bem (calma). Mas a entrada do “Mundo Árabe”, do jeito que se vê, já é demais.

Como pode um único jogador (Neymar, no caso) ganhar nada menos de R$ 72,25 milhões por mês? Isso equivale a R$ 2,408 milhões por dia.

Pense comigo: um trabalhador que ganha um salário mínimo (R$ 1.302 líquidos) precisaria trabalhar 142 anos pra ganhar o que “menino Ney” ganha em apenas 24 horas.

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E isso ainda não é o pior: o pior vem agora.

O salário pago a Neymar (que nem é o maior vencimento do mundo) vem das mãos de um ditador da Arábia Saudita.

O país é uma ditadura que arma jihadistas na Síria, difunde extremismo pelo mundo e mata iemenitas em uma guerra que tem vitimado crianças inocentes.

Lá, a conversão do islamismo ao cristianismo é crime de “apostasia”, que pode ser punido com a pena de morte. Cristãos não podem expressar livremente sua fé, nem mesmo dentro de casa, que são frequentemente inspecionadas pela polícia religiosa do país.

Não vou nem entrar no mérito do tratamento dispensado às mulheres por lá.

E antes que comecem as críticas, não se trata aqui da velha dicotomia entre direita e esquerda, afinal a Arábia Saudita negocia com o mundo inteiro, da França aos EUA.

Todos se calam diante do ouro negro que emana do subsolo saudita.

Dado o exposto, o que se vê é que o “mundo do futebol” vem se vendendo, como sempre se vendeu, mas agora com muito menos escrúpulos, tornando-se objeto de marketing para mudar a imagem de uma ditadura sanguinária.

E, ao que parece, a estratégia do dinheiro vem dando certo, afinal, Neymar, Cristiano Ronaldo e tantos outros craques não parecem muito incomodados em virar garotos-propaganda dessa nova – e trágica – fronteira.

Valha-nos quem?

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.