A convite da Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS, a psicóloga Samira Mahmud veio à Redação discutir um assunto tenso nos últimos anos, que é o limite de atuação entre o coach e o profissional psicólogo. Bastante ponderada, ela não quis tecer comentário sobre a explosão do coaching (hoje tem pra tudo que é área) e a confusão sobre sua aplicabilidade.
Samira, que esteve em Marabá na última semana para uma série de palestras para alunos de Psicologia na Faculdade Carajás, avalia que o coaching é uma área interessante, que começou com a orientação financeira e se disseminou em função da tecnologia, abrindo nichos de trabalho em várias áreas até atingir o da Psicologia, dentro do aspecto comportamental. Mas, segundo ela, é preciso respeitar o limite nessa prática para não atingir questões emocionais das pessoas.
“A maior preocupação é onde está o limite disso? O limite tá exatamente a partir do momento em que esse profissional não invade o emocional ou dentro do inconsciente da pessoa, onde há traumas e várias questões emocionais que dependendo do profissional, ele não tem capacitação pra chegar nesse nível”.
Leia mais:Por isso, explica ela, a maioria dos coaches trabalha com a ação, orientando principalmente sobre a superação de dificuldades encontradas na carreira profissional. Diferente do psicólogo, que faz o acompanhamento emocional e comportamental, auxiliando as pessoas a lidarem melhor com traumas e outras situações mais graves, como a depressão.
Por isso, Samira Mahmud alerta que é importante saber se o profissional que se está buscando possui a capacitação específica para atuar. “Eu não posso dizer que o coach não tenha capacitação pra isso, porque há vários profissionais da área da psicologia que estão se tornando coach também. Então, tudo é a questão do bom senso, saber do limite onde se pode chegar. A psicologia também tem o limite dela. O limite da psicologia não pode avançar pra chegar ao da psiquiatria”.
Depressão e suicídio
A psicóloga também foi instada a falar sobre problemas sérios como a depressão e o suicídio que têm acometido muitos marabaenses, alguns dos quais pularam de pontes neste ano. Segundo Samira, essas situações sempre existiram e hoje têm chamado mais atenção porque cada vez mais jovens têm sofrido com esse tipo de distúrbio.
“Antigamente pessoas de mais idade se suicidavam porque perdiam as suas referências, entravam no vazio existencial ou pela própria doença em si, porque a depressão é uma doença grave”.
Para ela, essa mudança de comportamento pode estar associada à facilidade de acesso à informação que os adolescentes têm atualmente, que pode desencadear o isolamento no mundo interno e, assim, causar a perda da capacidade de se comunicar com as outras pessoas. O quadro pode ser muito mais grave se o jovem já tiver uma predisposição a ter depressão. Por isso, a psicóloga alerta que é necessário fazer um acompanhamento desde a infância, quando já aparecem os primeiros sintomas.
“Os pais, às vezes, não conseguem fazer uma leitura do que está acontecendo com essa criança antes de chegar à adolescência, que é lá que vai acontecer o ápice do impulso para o suicídio”.
Samira ressalta que a adolescência é um período de crise de identidade, em que surgem vários questionamentos principalmente em relação a expectativas do futuro, e se somado a um quadro de depressão pode sim levar ao suicídio. O acesso à informação sobre isso, pondera, pode servir de estímulo a pensamentos suicidas, mas é também através da informação que é possível fazer a prevenção desse impulso.
A psicóloga explica que nas cidades o número de pessoas com distúrbios emocionais é muito maior do que na zona rural, porém nesses locais também existem casos de depressão, por exemplo. “Já há médicos e profissionais da saúde aonde eles conseguem buscar e fazer esse diagnóstico. Hoje tá todo mundo alerta pra esse tipo de doença porque ela mata mesmo”. (Ulisses Pompeu e Fabiane Barbosa)