O detento Wanderson Ferreira da Silva, de 25 anos, que foi encontrado enforcado no banheiro de uma das celas do Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes (CRAMA) não cometeu suicídio. Ele foi assassinado. Quem afirma é o delegado Ivan Pinto da Silva, do Departamento de Homicídios, que investiga o caso. O presidiário havia gravado recentemente um vídeo, onde abandonava o Comando Vermelho (CV) e passava a ingressar o Primeiro Comando da Capital (PCC). A chave para decifrar o motivo do crime está exatamente aí: na guerra entre facções, uma realidade dentro do sistema penal brasileiro, que em Marabá não é diferente.
O delegado Ivan Silva relata que sua equipe foi acionada por volta das 7h30 de quinta-feira (4), para atender à ocorrência da morte de Wanderson. A vítima foi encontrada pendurada pelo pescoço por uma corda amarrada no teto no interior da Cela Forte 2 no Pavilhão A do CRAMA. Ainda segundo o delegado, a vítima havia fugido do CRAMA em 2017 e recapturada em setembro deste ano.
Ivan Pinto da Silva não tem dúvida: “Inicialmente já constatamos que não se trata de suicídio. As informações colhidas até então dizem que o motivo da morte de Wanderson foi devido a uma rivalidade entre facções”.
Leia mais:A notícia boa é que este é mais um caso em que o Departamento de Homicídios tem certeza de que a autoria será descoberta, conforme afirmou o próprio delegado, pois o caso se deu em circunstâncias bem específicas e dentro de um ambiente que propicia identificar o autor ou autores.
Segundo ele, os 15 detentos que estavam com a vítima serão ouvidos pelo Departamento de Homicídios e esses depoimentos devem elucidar o caso. “À medida que a gente for ouvindo a gente vai imputando a cada um a participação ou não no homicídio”, relata o delegado, acrescentando que os agentes prisionais de serviço no dia do crime também vão prestar depoimento.
CV X PCC
Chama atenção nesse crime o fato de que Wanderson Ferreira da Silva gravou um vídeo poucos dias antes de morrer, dizendo que antes pertencia ao Comando Vermelho, mas não recebeu “fortalecimento nenhum”, por isso estava abandonando a facção. “Já trabalhei muito para eles (CV) levando droga pra Goiânia, mas nunca me deram apoio de nada”, relata o detento, no vídeo que tem duração de 1 minuto e 13 segundos.
No final do vídeo ele rasga a camisa vermelha (que simboliza o Comando Vermelho), em seguida veste uma camisa branca e afirma que agora está entrando para o “crime certo, de paz, amor e humildade”, referindo-se ao Primeiro Comando da Capital.
Outro detento morreu da mesma forma em julho
A morte de Wanderson é parecida ao que aconteceu com outro detento que morreu da mesma forma. Trata-se do caso de Yago Teixeira de Araújo, de 19 anos, que foi encontrado também enforcado dentro de uma das celas da Central de Triagem Masculina de Marabá (CTMM) no dia 9 de julho deste ano. Yago também não cometeu suicídio, ele foi morto por um colega de cela.
Semelhante ao que ocorreu agora, Yago era inicialmente membro do CV, desde o ano de 2017, mas depois se revoltou com a facção e migrou para o PCC. Ele também gravou um vídeo pouco antes de morrer, dizendo que entrou no Comando Vermelho porque teria recebido arma e drogas, mas depois passou a ser ameaçado de morte.
Da mesma forma que aconteceu com Wanderson, no final do vídeo, Yago também rasgou uma camisa vermelha que estava usando.
Crime anterior norteia investigação
Para o delegado Ivan Silva, o fato de já ter ocorrido um crime semelhante facilita a investigação por parte do Departamento de Homicídios. “O modus operandi, quando vai se repetindo, a gente já sabe quais as alegações que os custodiados vão apresentar na delegacia e a forma mais objetiva de chegar à autoria, já que tudo foi igual a um caso anterior”, relata.
De fato, no caso ocorrido em julho, o delegado Ivan Silva e sua equipe conseguiram identificar o matador de Yago. Foi o colega de cela dele, Webert Taylon Ribeiro Sirqueira. Desta vez existem pelo menos 15 suspeitos que dividiam a cela com a vítima.
Inclusive, em uma das fotos de Wanderson, ainda enforcado, aparecem mãos de detentos fazendo o gesto do PCC, com três dedos erguidos diante do colega de cela, já sem vida, pendurado a uma corda.
SUSIPE alega falta de comunicação com Marabá
Esse caso também revela uma certa desatenção da Superintendência do Sistema Penal do Pará (SUSIPE-PA) em relação a suas unidades prisionais instaladas em Marabá, pois o jornal enviou e-mail questionando qual o posicionamento da superintendência sobre o caso e a resposta foi de que não havia, até ontem, comunicação da Susipe em Belém com Marabá.
“A Diretoria de Administração Penitenciária da Susipe esclarece que está temporariamente sem comunicação com o Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes (CRAMA), em Marabá, devido a problemas técnicos com operadora de telefonia contratada”, é o que diz a resposta.
Ainda de acordo com a Assessoria de Comunicação da Susipe, a instituição só irá se pronunciar sobre o caso quando tiver conhecimento sobre o acontecido. Vale dizer que o contato com a Susipe foi feito 30 horas depois da morte do detento.crime certo, de paz, amor e humildade”, referindo-se ao Primeiro Comando da Capital.
(Chagas Filho)