Correio de Carajás

Pornografia ocupa espaço da educação sexual, lamenta sexóloga

Para a psicóloga especializada em sexualidade, Luana Issi, se o Brasil fosse um país com alto índice de educação sexual consequentemente teria índices mais baixos de abusos e estupros.

Celebrado anualmente nesta data (6 de setembro) desde 2008, o Dia Nacional do Sexo tem como finalidade lembrar que a prática está diretamente ligada à saúde física e mental do ser humano. Por isso, é fundamental que o indivíduo se proponha a se despir de tabus e entender que o assunto merece, inclusive, ser discutido de forma franca e sincera, e com a ajuda de um profissional: o sexólogo.

Apesar de fugir ao conhecimento de muitos, o especialista responsável por estudar a ciência que aborda as questões do comportamento sexual humano possui o papel de auxiliar o indivíduo a lidar com as questões que afetam sua sexualidade. Isso refere a qualquer questão que envolva o encontro de indivíduos, seja através do diálogo ou da intimidade entre dois corpos. Os seres humanos são atravessados uns pelos outros e algumas pessoas possuem dificuldades nesses encontros, seja ele direto ou não, e é aí que entra o profissional.

Formada em Psicologia e especializada em Sexualidade e Psicologia de Casal, Luana Issi Gonçalves Cardoso falou com a reportagem do Correio de Carajás a respeito das principais pautas levantadas quando o assunto é aquilo que existe desde que o mundo é mundo: o sexo.

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Para a psicóloga, é de extrema importância abordar a questão com naturalidade, pois há um longo caminho até o ato. “A sexualidade é como lidamos e nos encontramos com os assuntos do outro, e dialogar com espontaneidade sobre é também falar sobre nós mesmos. É interessante que possamos compartilhar nossos conhecimentos, a falta deles, frustrações e prazeres sem que haja julgamentos”, levanta.

TABU

Dentre as camadas que recaem sobre a pauta, dificultando sua normalização, Luana encara o tabu como a maior de todas. Ela explica que tal inibição social é algo particular da sociedade brasileira, pois diz muito sobre a comunidade. Quanto mais conservadora, mais tabus ela possuirá. A especialista entende que os mais comuns são aqueles que envolvem a emancipação do sentimento de posse do parceiro, como o ménage (relação erótica que envolve três pessoas), voyeurismo (prática que consiste num indivíduo conseguir obter prazer sexual observando pessoas), mas também o sexo anal e o orgasmo feminino.

Em entrevista ao CORREIO, Luana Issi espera que haja mais diálogo e menos tabu sobre sexo

Apesar das grandes polêmicas recheadas de desinformação acerca da educação sexual nas escolas, de acordo com a sexóloga esse é o melhor caminho para desmistificar o assunto: “Antes de pensarmos em prazer, precisamos nos conhecer e também nos proteger, saber quais toques são invasivos e violentos para sabermos diferenciar liberdade de violência”, aborda Luana, exemplificando que com a ausência de conhecimento, a pornografia acaba por, erroneamente, ocupar o espaço.

EDUCAÇÃO SEXUAL

A especialista vai além e aponta que se o Brasil fosse um país com alto índice de educação, consequentemente teria índices mais baixos de violência sexual. Para ela, é equivocado o entendimento de que o ensino é sobre o sexo em si. É sobre compreender o próprio espaço e o corpo desde criança, para saber distinguir os toques violentos e abusivos. Dessa forma, tal conhecimento permanecerá na adolescência, vida adulta e terceira idade, como consciência ativa da importância da proteção e liberdade no sexo.

Luana destaca que a falta de esclarecimento sobre temas relacionados à sexualidade reflete diretamente em todas as fases da vida, e não somente na juventude, como muitos acreditam: “Com o aumento dos divórcios, as pessoas idosas começaram a se relacionar sexualmente com outras pessoas e, com isso, o aumento de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) passou a ser bastante significativo na terceira idade”.

SEXO = SAÚDE

A psicóloga explica que o sexo em sua forma orgânica é liberação de hormônios do prazer e felicidade, e isso por si só já é super benéfico para saúde mental. Mas, como o sexo também é interação social, ela salienta que esse encontro com o outro é imprescindível, desde que feito com reponsabilidade. Luana Issi também aponta que além de interagir com o outro, trata-se de um encontro pessoal e que o autoconhecimento, confiança e amor são fundamentais para o equilíbrio da saúde mental.

Dentre os diversos benefícios da prática, as vantagens vão para além do psíquico e se estendem também para a saúde física. Por fim, Luana explicita que as práticas sexuais possuem o poder de aumentar a imunidade, vitalidade, disposição e concentração de cada indivíduo que se compromete com o prazer. Então, bom sexo para todos. E de forma segura! (Thays Araujo)