O ano era 1986, quando um jovem oficial da Polícia Militar saiu de Belém e veio para atuar em Marabá, uma terra que ainda guardava certos perigos, suas aventuras, devido ao garimpo de Serra Pelada, que ainda estava ativo e gerava uma migração muito grande. Ainda havia muita gente armada nas ruas da cidade e a missão de um policial militar era extremamente espinhosa. Nascido no bairro do Telégrafo, em Belém, o então tenente Estanislau Cordeiro da Silva se deparou com uma realidade bem diferente da que estava acostumado e veio pensando em cumprir sua missão e depois ir embora. De fato, ele foi embora, mas sua passagem por Marabá foi tão marcante, que ele resolveu voltar e aqui está até hoje.
Antes disso, Cordeiro rodou o Parazão continental em várias de suas regiões. Trabalhou na Ilha do Marajó, Santarém, Itaituba, Belém, Santarém, mas ele estava magnetizado pelo imã desta “cidade relicária e graciosa”, desta “Marabá, terra bendita”, onde ele conhecera aquele que se tornou sua companheira, Maria Célia Bentes Rodrigues, mãe de seus quatro filhos. Não tinha jeito, Cordeiro adotou esta cidade e por ela foi adotado.
“A gente saiu por força das circunstâncias, da própria atividade policial militar, mas quando saímos daqui nós já tínhamos contraído família e isso fez um diferencial muito grande. Ao retornar, por volta do ano 2000, já trazendo os filhos, resolvemos fixar residência aqui e sempre quisemos morar no bairro Francisco Coelho, denominado de Cabelo Seco, e aqui estamos até hoje”, relata.
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Hoje com seus 62 anos de idade, Cordeiro tem uma casa na orla da Marabá Pioneira, no bairro Cabelo Seco. Os pores do sol à beira do majestoso rio Tocantins, o vento que sopra sereno e se espraia pelas ruas e vielas do bairro que é berço de Marabá compõem um cenário de mansidão, de aconchego, que abrigam o policial aposentado e toda sua família. Ele escolheu Marabá, foi seduzido pelo “deslumbrante marulhar do Tocantins”. “Marabá é muito apaixonante”, sintetiza.
Mas a vivência de Cordeiro não se limita a contemplar “o soberbo e majestoso curso de beleza que as vistas cobiçosas do mundo desconhecem”. Com três cursos superiores, um deles é de cientista social, de modo que esta formação, junto com sua carreira policial, lhe permitiu ter uma visão mais crítica sobre as questões sociais que envolvem Marabá e, sobretudo, o bairro Cabelo Seco.
Inserido nesse contexto, Cordeiro tem participado ativamente da vida do bairro. Prova disso é que ele foi presidente da associação de moradores durante quatro anos. “O modo de vida aqui, no Cabelo Seco, é muito especial para mim e para minha família”, relata Cordeiro, acrescentando que construiu muitas amizades em Marabá, tanto no esporte quanto nas relações sociais com a comunidade: “Até hoje a gente ainda é procurado para auxiliar nos projetos que existem aqui no bairro”, comenta, feliz por ser hoje uma das referências no logradouro.
Preocupado com o futuro dos jovens e também com a situação atual de desemprego que grassa no País, Cordeiro entende que Marabá precisa encontrar saídas para garantir uma geração de emprego aos filhos desta terra, tanto os nascidos aqui quanto os adotivos, como é o caso dele. “Quando o homem não tem condições de garantir o sustento de sua família é uma coisa muito triste”, observa.
Ele acredita que Marabá poderá voltar a ter dias melhores, como aconteceu em um recente passado. “Acho que Marabá vai crescer muito se nós alimentarmos essa ideia do nosso polo siderúrgico voltar a funcionar e criar emprego; Marabá vai crescer e vai ser uma cidade polo, como deve ser”, aposta. (Chagas Filho)