Está chegando o dia 8 de março e já começo a ficar tenso, mesmo que esteja casado há praticamente 30 anos com uma mulher compreensível. Explico…
Se antes, bastava presentear a esposa e as filhas com uma rosa e desejar feliz dia às colegas de trabalho, atualmente a gente chega pisando em ovos.
Para algumas, vale entregar uma serenata de amor com um singelo abraço, mas outras esperam que a gente brade: “Força na luta pela igualdade de direitos, estou do seu lado” – e de fato estou!
Leia mais:Ainda tem a ala que deseja um mix de flores. Ou seja, algo assim: “com essa flor eu destaco toda a sua sensibilidade e beleza, ao mesmo tempo em que me junto a você na bandeira pela igualdade de direitos e oportunidades entre os gêneros”.
Lá em casa mesmo a efeméride vem passando, ao longo dos anos, por mudanças de interpretação, de modo que, a preço de hoje, nem sei mais como agir. Nem faço mais postagem em rede social temendo represálias domésticas. Preciso sempre me reinventar
Essas mudanças recentes na forma como os gêneros interagem, se relacionam e disputam espaços de poder ainda estão em construção. Já cansei de ouvir dos meus amigos separados ou dos que nunca saíram da pista, que não sabem mais direito como abordar, com segundos interesses, uma mulher num bar ou numa festa.
Aquela puxadinha da ponta de uma mecha de cabelo virou crime doloso. As cantadas tradicionais são vistas como “cringe”, “caretas”, “sem criatividade”, ou coisa de tiozão, como meus colegas dizem aqui na Redação do CORREIO. Chamar para dançar ainda cabe? Abrir porta, sim ou não?
Um amigo meu, metido a Don Juan, diz que a nova regra é simplesmente olhar e sorrir à distância, a partir daí, o homem aguarda por reações, ou seja, a tal desejada atitude, o braço forte, a pegada decidida, mudou de lado. Novos tempos…
Antes que algumas leitoras me cancelem com esse texto, peço a elas que sinalizem aos homens com os quais convivem, a forma como desejam viver o dia 8.
Um manualzinho básico, em sutis comentários à mesa, para a gente saber se passa na floricultura, na loja de produtos naturais, na perfumaria, se leva para jantar, comer um doce na Doce Tay, se faz de conta que é um dia qualquer ou se deseja uma fala política, de apoio a essa justíssima causa. Isso facilitaria bastante… Vão por mim… Toda transição demanda tempo e aprendizados.
Mas vão aqui algumas dicas do que aprendi em 30 anos comendo feijão juntos:
1.Não parabenize apenas a aparência da mulher
Homens ou mulheres, todos nós gostamos de nos sentir bonitos e elogiados. A aparência, porém, não deve ser o ponto principal quando o assunto é o Dia Internacional da Mulher. Lembre-se que a data fala sobre emancipação e conquista de direitos e que ser mulher nesse contexto é muito mais importante do que chamar atenção por ser bonita.
O mesmo vale para empresas que desejam presentear ou homenagear suas funcionárias. Que tal deixar os mimos de maquiagem um pouco de lado este ano e investir em bem-estar ou educação?
- Não exija que todas as mulheres sejam femininas
Nem todo herói usa capa e nem toda heroína gosta de salto alto. Desconstruir a ideia da feminilidade como única forma possível de ser mulher pode te ajudar a enxergar outros perfis que também merecem homenagens neste 8 de março e, de quebra, aliviar a cobrança sobre muitas pessoas que preferem se vestir ou se comportar diferente da “regra”.
- Não deixe que elas se sintam intelectualmente inseguras
Chocolates e flores são legais em qualquer dia do ano, mas, às vezes, o presente ideal é muito mais barato e fácil de encontrar: sua atenção e envolvimento com o que as mulheres têm a dizer.
- Não incentive a rivalidade entre mulheres
Neste 8 de março, é importante avaliar se o problema é real ou apenas um reflexo da nossa cultura. Se você é homem, pense se já reproduziu sem saber a ideia de que “amizades femininas são falsas”, como eu já fiz.
De acordo com o IGBE, as mulheres brasileiras dedicam quase o dobro de horas aos afazeres domésticos em relação aos homens.
O 8 de março é uma excelente data para refletir sobre isso e observar o que acontece na sua rotina familiar. Há obrigações que possam ser divididas? Se sim, mãos à obra!
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.