O episódio sobre a prisão do agente do Detran Diógenes Samaritano pode ganhar mais um capítulo. Os delegados que conduzem as investigações da morte de Dayse Dyana, mulher do agente, e que tem ele como principal suspeito, estão reunindo elementos para dar entrada em um procedimento contra os advogados que o defendem, por favorecimento pessoal.
De acordo com o delegado Gabriel Henrique, há elementos que sustentam esse crime e, por isso, ele e o delegado Dufrae Abade Paiva, que iniciou o processo de investigação, assim como outros agentes da polícia, estão reunindo provas e devem representar contra os advogados Helder Igor Sousa Gonçalves e Rodrigo Mota Araújo, que defendem o agente.
O delegado detalha que eles já ouviram a pessoa que mora na casa em frente onde Samaritano estacionou seu carro após o crime e esse morador informou que outra pessoa foi buscá-lo no local, em uma caminhonete Hilux de cor prata. “Nós já sabemos que foi um dos advogados que foi buscar ele lá, em uma rua próxima ao escritório deles”, informa Gabriel.
Leia mais:Ele e o colega Dufrae Abade novamente desmentiram os advogados e confirmam que Diógenes nunca se apresentou espontaneamente. “Ele foi achado por nós dentro do escritório dos advogados. Só depois, quando eles foram informados que sabíamos que ele estava lá e que já estávamos buscando localizar o juiz de plantão para solicitar mandado de busca no local e que íamos entrar, seja como fosse, foi que eles decidiram entregá-lo, negociando que não houvesse a presença da imprensa, que ele não fosse algemado e que não ficasse na Carceragem do Rio Verde”, detalha Gabriel Henrique.
O delegado garante que em nenhum momento um dos advogados ligou para ele ou qualquer outro colega da polícia e negociou a apresentação do acusado. “Isso não houve, então, de forma alguma aconteceu apresentação espontânea”, descarta Gabriel, dizendo que tentou custodiar Diógenes no quartel do 23º Batalhão da Polícia Militar, mas o comandante da corporação negou o pedido e a justiça depois determinou que ele fosse para a cela onde ficam os presos que tem bom comportamento e trabalham na Carceragem do Rio Verde.
Dufrae Abade também corrobora. Ele detalhou os trâmites desde quando foi comunicado sobre o suposto suicídio, até a prisão de Diógenes. O delegado observou ainda que dentro do carro de Diógenes eles encontraram duas mochilas com roupas, sendo uma dele e outra do filho, o que caracteriza que ele estava armando o cenário para fugir.
“Com base nesse e outros detalhes, fizemos a prisão em flagrante dele e solicitamos à Justiça, que homologou o flagrante e converteu a prisão em preventiva. A Justiça para a homologar prisão analisa as provas que se apresenta e, se homologou, é porque viu elementos que sustentavam isso”, ressaltou o delegado.
Segundo ele, vários fatos causaram estranheza para ser suicídio, por isso ele entrou em contato com o delegado Gabriel Henrique e pediu que fosse solicitada perícia no local de crime e exame de necropsia para atestar as reais causas da morte da vítima.
“E mais, ele não estava no local quando chegamos lá [casa]. A casa estava fechada e nós pedimos a um vizinho uma escada, colocamos no muro e foi aí que observamos o corpo da jovem no chão. Entramos em contado com o advogado que havia comunicado o suposto suicídio e perguntados pelo marido. Ele me respondeu que estava tentando localizar seu cliente, mas não estava conseguindo. Como depois descobrimos que ele estava no escritório deles, tudo aponta que eles estavam tentando escondê-lo”, diz o delegado.
Ainda segundo Dufrae, ele representou pela prisão preventiva de Diógenes Samaritano nem tanto pela comoção popular que o caso teve, mas pelas reiterações criminais dele, inclusive por violência doméstica contra a própria mulher. Ele novamente reitera o colega Gabriel e garante que o acusado foi preso e não se apresentou.
Sobre essa questão, Gabriel Henrique adianta que eles estão vendo se houve favorecimento pessoal por parte dos advogados. “Desde o comunicado do suposto suicídio pelo advogado, por volta de 9h40, até a hora que localizamos ele, por volta de 2 horas, não houve mais comunicados deles [advogados]. E a que tudo indica não havia intenção de apresentá-lo e tudo aponta que eles estavam escondendo ele no escritório”, ressalta.
O delegado frisa, rebatendo a entrevista que os advogados deram sobre a ação da polícia na prisão de Diógenes, que escritório de advocacia, conforme a legislação vigente, não é embaixada. “Escritório de advogado está passível de mandado de busca e apreensão e pode ser invadido para efetuar prisão, que era o que íamos fazer, se eles não o tivesse entregado”, afirmou Gabriel, dizendo que favorecimento é um crime previsto no Código Penal, quando alguém esconde uma pessoa que comete crime.
Procurado, o advogado Helder Igor, que defende Diógenes, não quis gravar entrevista e nem comentar as declarações dos delegados. O advogado disse que ele e o colega Rodrigo Mota só vão se pronunciar após entrar com pedido de relaxamento da prisão de seu cliente. (Tina Santos – com informações de Ronaldo Modesto)