Correio de Carajás

Parauapebas: Vídeo mostra comerciante desmaiando ao ser imobilizado pela PM

Abordagem ocorreu no último sábado, no Bairro Tropical, em Parauapebas

Após ter sido autuado por desobediência e deixar a 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil na noite do último sábado (30), o comerciante Igor Pereira Sales descobriu que a situação pela qual havia passado já estava nas telas de celular de grande parte dos moradores de Parauapebas.

Câmeras de segurança do posto de combustíveis onde funciona a conveniência dele gravaram a o momento em que o homem foi abordado por uma guarnição da Polícia Militar e a sequência que culminou em desmaio ao ser imobilizado por um dos policiais.

O vídeo, que depois foi compartilhado também nas redes sociais de Igor, mostra o comerciante parado na janela do motorista da viatura e, em determinado momento, puxando alguns papéis das mãos do policial. Igor então se vira e começa a caminhar, afastando-se do veículo.

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O militar que está ao volante desce rapidamente e agarra o comerciante por trás, passando o braço em torno do pescoço dele e tirando-o do solo. Em seguida, carrega Igor até a viatura e o segura na mesma posição por mais algum tempo. Igor então começa a desfalecer e cai até ficar sentado no chão.

Neste momento, relata, ele estava desmaiado pela pressão sofrida contra o pescoço. Alguns segundos depois, dois frentistas e uma mulher se aproximam. A esta altura os policiais haviam conseguido algemar o comerciante e o levantam. Já acordado e conseguindo se equilibrar, ele é colocado no banco de trás da viatura.

Igor conta que há oito meses é proprietário do estabelecimento, localizado às margens da PA-160, no Bairro Tropical. No sábado, por volta das 17h10, estava se preparando para abrir a conveniência quando os militares chegaram e solicitaram o fechamento, argumentando estarem fiscalizando o cumprimento do decreto estadual que proíbe funcionamento de bares e permite o de restaurantes com restrições, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

Igor fez questão de mostrar a cozinha onde prepara as refeições que serve na conveniência

“Eles pediram pra fechar. Eu disse que estava servindo de acordo com o decreto, que diz que o estabelecimento que vende comida poderia funcionar até às 22 horas (horário máximo permitido para a comercialização de bebida alcoólica). A minha documentação toda funciona dessa forma, também como restaurante”, disse.

Os militares teriam pedido para verificar a documentação, relata Igor, a qual foi apresentada. “Eu entrei na conveniência, peguei todos os documentos, levei, entreguei, eles olharam, viram que estava de acordo, mas disseram que iam tirar foto pra redigir uma multa”. Conforme Igor, sem concordar com a decisão e já preocupado por mal estar conseguindo pagar aluguel e funcionários, acabou puxando a documentação das mãos do policial.

“No tempo que eu puxei a documentação, ela rasgou. Quando ela rasgou, eu virei e é o que está no vídeo que todo mundo tá vendo, a agressão. Eu desmaiei, mijei na roupa, isso não tenho vergonha de falar. Desmaiei e quando eu comecei a voltar me jogaram dentro do carro. Quando eu voltei normal, a gente já tava perto ali do mato”, relatou, apontando uma distância de alguns metros do local onde a abordagem aconteceu. “Foi quando eu recuperei totalmente a minha consciência”.

Ele condena a forma como os policiais lidaram com a situação. “A abordagem pra mim foi bastante elevada, não precisava, se ele estivesse descido do carro e pedido pra eu acompanhar pra delegacia eu iria de acordo, iria levar minha documentação e mostrar que eu ia trabalhar conforme a lei. Não precisava aquilo, uma humilhação a um cidadão que tá apenas querendo trabalhar”, defende-se, alegando não ter agredido verbalmente a guarnição e sustentando que estava desarmado. “Não precisava aquilo, de forma alguma”.

Nesta segunda-feira (1º) ele convidou a equipe de Reportagem para visitar a cozinha do estabelecimento, no intuito de comprovar que comercializa comida. Depois da situação, decidiu que só voltará a trabalhar quando o decreto em questão deixar de vigorar. “Estou muito desmotivado pra trabalhar, então só vou abrir quando voltar ao normal, agora não”.

Garante, também, que irá denunciar a questão à Corregedoria da Polícia Militar, munido das imagens e também de testemunhas que acompanharam a abordagem. “Eu sou um cidadão trabalhador, sou um empresário da cidade, novo, mas sou. A coisa se espalhou, tomou proporção e é uma coisa muito humilhante”, finalizou.

COMANDO NEGA AGRESSÃO

O Correio de Carajás procurou o comando do 23º Batalhão de Polícia Militar de Parauapebas nesta segunda-feira e o comandante, major Gledson Melo dos Santos, negou ter havido agressão, afirmando ter se tratado de imobilização diante dos crimes de desacato e desobediência.

Major Gledson destaca o crime de desobediência

Conforme ele, a Polícia Militar está realizando fiscalizações para cumprimento do decreto, o que levou a guarnição à conveniência no sábado. “As imagens são claras. Quando os policiais estavam orientando o proprietário quanto ao decreto, ele se recusou a deixar os policiais verificarem da documentação, arrancando da mão do policial o alvará de funcionamento. Diante disso, um claro flagrante do crime de desobediência, o policial vítima desse desacato imobilizou o cidadão e encaminhou pra delegacia”, declarou o major, acrescentando ter sido realizado o procedimento normalmente adotado: “Não houve agressão”.

Ele acrescentou que as operações continuarão sendo realizadas diariamente. “Os bares estão proibidos de funcionar, não têm horário para funcionamento, então proibidos de abrir. Os restaurantes podem abrir com o limite de horário de até 22 horas para se fazer consumo de bebida alcoólica. Após isso, nenhum estabelecimento pode fazer a venda de bebida alcoólica”. (Luciana Marschall – com informações de Ronaldo Modesto)