Correio de Carajás

Parauapebas: 32 anos construindo o futuro

Renilda chegou em Parauapebas antes da emancipação, casou, teve filhos e neto e ajudou a construir a cidade / Fotos: Arquivo Pessoal

Após a revolta por sofrer o clássico abandono ao qual distritos geograficamente distantes das sedes estão acostumados, Parauapebas alcançou no dia 10 de maio de 1.988 a sonhada emancipação de Marabá e passou a se desenvolver a passos largos, chegando em apenas 32 anos a segundo município com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Pará, atrás apenas da capital, Belém.

A maior responsável por isso é a riqueza sob o solo do município, que deu início a um conturbado processo de ocupação após a descoberta, na década de 1960, de uma das maiores reservas minerais do mundo na Serra dos Carajás. Logo chegou a Companhia Vale do Rio Doce implantando o Projeto Grande Carajás para exploração dos cerca de 18 bilhões de toneladas de ferro de alta qualidade.

Ali próximo, em Curionópolis, Serra Pelada também aumentava o fluxo migratório. Nasceu o primeiro núcleo urbano, que recebeu o nome do rio que corta a região: Parauapebas, que significa “Rio de Águas Rasas”, em Tupiguarani. Dali, às margens da rodovia PA-275, surgiu o primeiro bairro da cidade, o Rio Verde, onde o comércio se desenvolveu e que se expandiu para outros bairros, atualmente 42.

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A chegada da Vale foi o motor de construção da cidade, com obras de escolas, delegacia, hospital, rede elétrica, entre outras. Antes da emancipação, em 1.985, ainda foi inaugurada a Estrada de Ferro Carajás, pelo presidente José Sarney.

Atualmente, os esforços são por encontrar saídas de desenvolvimento quando o minério acabar, discutindo-se alternativas para geração de emprego e atração de recursos, uma vez que a cidade abriga uma nova riqueza e que esta apenas se multiplica: são mais de 250 mil habitantes, de origens e culturas diferentes, que escrevem história todos os dias no Peba.

Renilda Maria Benevides, por exemplo, conheceu a cidade antes mesmo dela ser cidade e caminhou muito pelas ruas de chão que cortavam o então distrito na época da chegada, em 26 de dezembro de 1985. “Ainda não existia asfalto, a cidade não era emancipada”, relembra.

Exatamente um ano após chegar, casou-se com Edvaldo Benevides e hoje é mãe de três filhos e avó de um neto, o João Gabriel. Renilda se orgulha da trajetória como empresária quando se lembra da loja “muito pequena” que abriu na Rua do Comércio, uma das primeiras do centro comercial.

O negócio tem 30 anos de existência e permanece no mesmo endereço, na Rua do Comércio, uma das primeiras ruas da cidade. A comemoração da data neste ano, infelizmente, tem sabor mais amargo que doce, por conta da pandemia de coronavírus que não apenas o município, mas o mundo, atravessa.

“Eu trabalhava de 10 a 12 horas por dia, agora, com esse momento de pandemia, estou trabalhando até 15 horas. Ninguém estava preparado para este momento”, afirma, mas garantindo que decidiu se reinventar, aderindo às vendas online e ao serviço de delivery.

Renilda tem orgulho de contar história e de ser parte do início da cidade, desde a luta pela emancipação. “Educamos nossos filhos, meus filhos cresceram, saíram para estudar e retornaram para cidade, onde trabalham. Participamos do crescimento da cidade”, destaca.

Uma das filhas, Naiara, formou-se em Medicina e hoje atua na linha de frente no combate à pandemia, sob o olhar vigilante da mãe, que relata certa preocupação, mas sentencia que é tradição da família trabalhar e lutar para uma cidade melhor. “Nós queremos ver uma Parauapebas cada vez melhor”, diz.

Assim como a filha de Renilda, outra médica, a jovem Natália Daniela Lopes, de 26 anos, precisou sair da cidade para alcançar o sonho de formação, mas não desfez os laços e retornou para o berço na semana do aniversário da cidade, para exercer a profissão após 12 anos morando em outro estado.

Natália conta que teve a volta antecipada, devido à pandemia, pois recebeu o diploma dois meses antes. “Minha primeira decisão foi voltar à minha cidade para atuar”, diz. A caçula de três irmãos, guarda na memória que as brincadeiras de infância eram na Praça Mahatma Gandhi, Bairro Cidade Nova. “Na minha época não tinha shopping, não tinha cinema, era só o Bairro Cidade Nova, asfalto só na PA”, relembra.

Aos 14 anos, ela e os dos irmãos mudaram para São Luís, Maranhão, mas os três, depois de formados, voltaram a viver em Parauapebas. A médica admira-se com o crescimento da cidade, que acolheu os pais, que nunca deixaram a cidade. Parauapebas é o lugar que a Natália escolheu para viver os novos capítulos da sua vida, escrevendo-os junto aos da cidade. (Theíza Cristhine e Luciana Marschall)