Correio de Carajás

Papa pede fim de ‘agressividade adolescente’ ao falar da guerra

O pontífice chegou à Hungria para uma visita de três dias, que começou com uma reunião com o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orban, cujas opiniões muitas vezes se chocam com as de Francisco.

Papa Francisco observando Budapeste do alto, junto ao presidente húngaro, Katalin Novak, e o premiê Viktor Orban (28/04/23). — Foto: AFP - HANDOUT

O papa Francisco, em visita a Budapeste, na Hungria, pediu na sexta-feira (28) a recuperação do espírito europeu e a rejeição da “agressividade adolescente” em meio ao crescente nacionalismo e à guerra na Ucrânia. O pontífice chegou à Hungria para uma visita de três dias, que começou com uma reunião com o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orban, cujas opiniões muitas vezes se chocam com as de Francisco.

O argentino de 86 anos só ficará na capital Budapeste durante a viagem devido ao seu frágil estado de saúde, um mês depois de ter sido internado por bronquite.

“É vital recuperar o espírito europeu”, disse o papa durante um discurso ao qual Orban assistiu junto com outros dignatários, diplomatas e membros da sociedade civil. O pontífice advertiu contra uma “espécie de agressividade adolescente”.

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Caminho da paz

 

O papa chegou pouco antes das 10h (5h em Brasília) na capital húngara, onde as principais estradas estão bloqueadas há dias como parte de uma grande operação de segurança em torno da visita.

Depois de ser recebido no palácio presidencial pelo presidente Katalin Novak, Francisco se encontrou com Orban.

Imagens ao vivo da visita mostraram os dois homens se cumprimentando com um aperto de mão.

“Sem o cristianismo, a Hungria não existiria hoje. A Hungria tem futuro se permanecer no caminho cristão, e o caminho cristão é o caminho da paz hoje”, disse Orban na reunião, segundo a agência nacional de notícias MTI.

Sobre a guerra na Ucrânia, os dois pediram negociações de paz. Orban é uma exceção na União Europeia, ao insistir em manter os laços com Moscou.

As opiniões de Francisco e Orban são antagônicas em relação principalmente à migração. No poder desde 2010, o primeiro-ministro húngaro adota regularmente a retórica anti-imigração para defender uma “Europa cristã”. A postura do pontífice é bem mais acolhedora em relação aos que fogem da pobreza ou de zonas de conflito. Em seu discurso, o papa enfatizou “a necessidade de abertura para os outros”, alertando contra o “fechamento em si mesmo”.

Atenção do mundo

 

Zoltan Kiszelly, chefe do grupo de reflexão pró-governo Szazadveg, disse que Orban usaria a visita do papa para enfatizar “valores tradicionais compartilhados em torno da família e de Deus”.

Laszlo Temesi, um jornalista aposentado que estava entre os que estavam nas ruas para tentar avistar o pontífice, disse estar feliz porque a atenção do mundo estaria voltada para a Hungria. “O país tem uma imagem ligeiramente negativa, talvez fique um pouco positiva agora”, disse à AFP.

Francisco fez uma breve escala em 2021, na Hungria, onde 39% da população é católica.

Na tarde de sexta-feira, o papa se encontra com bispos e clérigos locais na Basílica de Santo Estêvão, onde telões montados na praça transmitirão seu discurso ao vivo ao público.

Enquanto estiver em Budapeste, Francisco será, como de costume, acompanhado por seu médico.

Saúde papal

 

No mês passado, ele passou três noites no hospital com bronquite, alimentando preocupações sobre sua saúde a longo prazo e futuro como chefe da Igreja Católica mundial.

Em sua 41ª viagem internacional desde que se tornou papa em 2013, Francisco planeja se encontrar com jovens, membros da igreja local e representantes dos setores acadêmico e cultural, e celebrará uma missa ao ar livre no domingo.

No sábado, o papa também se encontrará com refugiados ucranianos.

Durante uma audiência no ano passado no Vaticano, Francisco agradeceu a Orban – que vem de uma família calvinista – por acolher os ucranianos que fogem da guerra através da fronteira.

Em uma sociedade onde a família e os direitos de gênero são questões políticas polêmicas, a mídia pró-Orban criticou o papa no passado por ser muito favorável aos migrantes e à comunidade LGBTQ+.

Francisco é o segundo papa a visitar a Hungria, depois que João Paulo II fez viagens em 1991 e 1996.

(Fonte:G1)