Correio de Carajás

Palestina dá à luz quadrigêmeos na Faixa de Gaza durante fuga da guerra

Mulher havia deixado sua casa, no norte do território palestino, após Israel começar a bombardear a região. Após parto, mãe e três bebês foram levados a abrigo em uma escola - o quarto está internado por complicações, e ela não consegue visitá-lo por risco de novos ataques.

Iman al Masry, palestina que deu à luz quadrigêmeos durante a guerra, com o marido e os filhos, na Faixa de Gaza, em dezembro de 2023. — Foto: Mahmud Hams/ AFP

Iman Al Masry está esgotada. Ao seu lado, sobre um colchão velho, estão três dos quadrigêmeos que pariu em plena guerra entre Hamas e Israel, depois de uma difícil viagem do norte ao centro da Faixa de Gaza.

A mãe e seus recém-nascidos Yaser, Tia e Lynn, estão abrigados na sala de uma escola de Deir el Balah, no centro da Faixa de Gaza, com outras 50 famílias. Seu quarto filho, Mohammad, está em observação em um hospital de Nuseirat, sete quilômetros ao norte.

Assim como outros 1,9 milhão de deslocados de Gaza, segundo dados da ONU, Iman Al Masry teve de fugir dos combates entre o Exército israelense e o movimento islamista Hamas, que governa o território.

Leia mais:

Esta mulher de 29 anos precisou abandonar às pressas sua casa de Beit Hanun, no norte, no quinto dia da guerra que começou em 7 de outubro, pensando que retornaria em breve.

“Trouxe apenas umas peças de verão para as crianças. Pensei que a guerra não duraria mais que uma semana, ou duas, e que voltaríamos para casa”, disse.

Cansaço

Grávida de seis meses, Al Marsy caminhou com outros três filhos pequenos os cinco quilômetros que separam sua casa do campo de Jabaliya, onde encontrou um meio de transporte para seguir até Deir el Balah.

“A distância me cansou e afetou a gravidez. Fui ao médico e ele me disse que eu apresentava sinais de que teria um parto prematuro“, conta.

Aos oito meses de gestação, os médicos decidiram fazer uma cesárea. Os quadrigêmeos nasceram em 18 de dezembro, em meio à guerra deflagrada pelo ataque surpresa do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que, até o momento, deixou mais de 21.100 mortos em Gaza – a maioria mulheres e crianças, segundo o movimento islamista -, e uma situação humanitária desesperadora.

 

No tumulto da guerra, Iman Al Masry não teve tempo para se recuperar. Devido à falta de leitos, teve de sair e deixar seu filho Mohammad, que precisa de acompanhamento médico.

“O estado de saúde do quarto bebê é instável. Pesa apenas um quilo, pode não sobreviver”, explica a jovem palestina. “Os outros três bebês nasceram saudáveis, louvado seja Deus”.

Visita a filho internado tem ‘caminho perigoso’

Iman Al Masry não pôde ver Mohammad desde seu nascimento. “Estou preocupada com ele, mas o caminho é perigoso” para ir visitá-lo, explica. Para acompanhá-lo conta com um amigo de seu marido, que vive em Nuseirat.

 

A festa prevista para celebrar o nascimento de seus bebês também foi suspensa pelo conflito. Pensava em borrifar água de rosas nas crianças, “seguindo nosso costume”. Mas, desde que nasceram há dez dias, “não conseguimos dar banho neles”, lamentou.

Suas carências alimentares tampouco lhe permite amamentá-los suficientemente. Os produtos de higiene também são escassos.

“Utilizo fraldas com moderação. Em tempos normais, as trocaria a cada duas horas, mas a situação é difícil, assim troco só de manhã e à tarde”.

 

Ante as dificuldades de sua família, seu marido, Ammar Al Masry, confessa que não sabe bem o que fazer.

“Me sinto impotente”, disse este pai de 33 anos, instalado com seus seus filhos em uma sala de aula que cheira mal. “Temo pela vida de meus filhos e não sei como protegê-los”, admite.

Sua filha prematura, Tia, padece de icterícia. “Ela precisa ser amamentada para amenizar a doença e minha mulher precisa se alimentar com proteínas. Mas não posso dar. Meus filhos precisam de leite e fraldas”, enumera.

Ammar Al Masry passa seus dias tentando encontrar “qualquer coisa” para alimentar sua família e evita olhar nos olhos dos filhos para não “se sentir culpado”.

(Fonte: G1)