Passados alguns dias do acidente aéreo que causou grande repercussão e mobilização em Marabá e região, começam a surgir respostas e novos detalhes que dão luz aos acontecimentos. Os três ocupantes do helicóptero Robinson R44 que caiu na região do lago da hidrelétrica de Tucuruí morreram por choque hemorrágico politraumático. É o que atestou a equipe do Instituto Médico Legal na perícia dos mesmos, tendo encontrado os corpos com traumas e fraturas em diversas partes.
Já a parte formal de levantamento sobre o que levou ao acidente vai começar tão logo desembarque em Marabá uma equipe do Primeiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa I), da Força Aérea Brasileira.
Na data do ocorrido, na noite de 19 de fevereiro, o helicóptero Robinson R44 era pilotado por Josimar Enéas da Costa, o Eletro (55 anos), que conduzia outras duas pessoas: Nildo Pantoja Ferreira (47 anos) e o engenheiro do DNIT Abílio Manoel Figueiredo. Era uma noite chuvosa na região, fato que pode ter tirado a visibilidade do piloto, o obrigando a mudar a rota natural e pode ter sido decisivo para o desastre.
Leia mais:Eletro, aliás, é descrito pelos amigos e colegas de aviação, como um piloto de helicópteros já experiente e muito acostumado aquele modelo de aeronave. Quanto ao estabelecimento de que o acidente foi na mesma data, isso foi possível pelos relatos dos ribeirinhos, sobre o voo a baixa altitude e um estrondo no meio da noite.
A tarefa do Seripa é esclarecer e tirar todas as dúvidas em torno do acidente. Levantar, entre outras questões, a situação de licenças, plano de voo e deslocamento, enfim, tudo o que for possível para esclarecer o que motivou o acidente, se uma pane mecânica ou outras causas.
CENTRO DE PERÍCIAS
Já o Centro de Perícias Científicas deverá apresentar um laudo final de levantamento de local de crime nos próximos 30 dias. Os peritos José Augusto Carneiro e Danielle Cartaxo realizaram o trabalho de campo.
Os corpos foram trazidos para o Instituto Médico Legal (IML) de Marabá por volta de 22h30 de quarta (21). Os médicos legistas: Marcos Jová e Leonardo Magalhães, na madrugada de quinta-feira (22) realizaram as respectivas necropsias e liberaram os cadáveres para os ritos fúnebres.
FUNERAL
Os velórios e sepultamentos das vítimas causaram grande movimentação e comoção entre familiares e amigos. Josimar Costa foi sepultado ainda na manhã de quinta-feira (22) no Cemitério Parque das Flores, com a presença de muitos admiradores e também de seus funcionários, uma vez que era comerciante em Marabá.
Já o engenheiro Abílio Figueiredo foi velado na quadra do Instituto Federal do Pará (IFPA) na Vila Permanente, em Tucuruí. Em seguida, foi levado para sepultamento no Cemitério Jardim da Saudade.
Nildo Pantoja Ferreira teve o corpo levado para o município paraense de Santo Antônio do Tauá. Centenas de veículos, entre carros e motos seguiram o carro da funerária na noite de 22 de fevereiro, pelas ruas da cidade. “Eu nunca pensei que o meu pai fosse tão querido assim. Gratidão a todos”, escreveu Aline Ferreira, uma das filhas.
AS VÍTIMAS
A aeronave era registrada em nome da empresa Fox e Data, e decolou da chácara Bela Vista, Vila Maracajá, zona Rural do município de Novo Repartimento, às 18h30. A bordo estavam:
– Abílio Manoel Figueiredo – engenheiro civil, analista de Infraestrutura de Transportes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT);
– Nildo Ferreira, que prestava serviços para Abílio, também seu melhor amigo e compadre;
– Josimar Éneas da Costa: Piloto da aeronave e empresário em Marabá, dono da auto-elétrica Mundial, o que justificava o seu apelido de Eletro. Era aficionado por motos, carros e, principalmente, aeronaves.
RIBEIRINHOS FUNDAMENTAIS
Como o helicóptero caiu na água, num braço do Rio Tocantins e atrás de uma ilha, o “sumiço” inicial poderia ter se estendido por vários dias, tornando as buscas insustentáveis e inviáveis, diante da vasta área a procurar.
A participação de moradores curiosos em Novo Repartimento, que fotografaram o R44 a baixa altitude voando no sentido ao lago da barragem no início da noite, foi fundamental como primeira pista. Em condições normais, dizem outros pilotos, ele teria voado margeando a BR-230 e não o rio. Essa pista ajudou a posicionar as buscar na área correta.
De outro lado, os ribeirinhos da vila pesqueira Porto Novo, entre Goianésia e Jacundá, também foram fundamentais, ao relatarem que na noite do acidente ouviram o helicóptero trafegando a baixa altitude naquelas redondezas e um estrondo. O local onde a aeronave caiu fica a mil metros da vila.
O terceiro ponto fundamental, foi que o corpo de Nildo Ferreira – provavelmente sem cinto na hora do ocorrido, boiou para a margem do rio e ficou ali, a poucos metros de onde os destroços do R44 e os outros dois corpos afundaram.
A destacar a ação e liderança dos também pilotos Matheus Costa e Danilo Soave, mais o comerciante “Codó Polirodas”, amigos das vítimas, que voaram imediatamente para o local indicado e, com a ajuda dos ribeirinhos (pelo menos 30 pessoas) puxaram, no braço, os destroços e os corpos para a margem. Somente depois disso a equipe do Corpo de Bombeiros conseguiu chegar para assumir a situação.
OUTRO ACIDENTE
O acidente desta semana aqui no Pará lembra muito um outro ocorrido 31 de dezembro de 2023 em São Paulo, também com equipamento R-44. Ele havia decolado do aeroporto Campo de Marte, com destino a Ilhabela, no litoral norte do estado.
No dia, havia muita neblina e o piloto teria tentado retornar a São Paulo. Antes, a aeronave fez um pouso de emergência.
O piloto do helicóptero, Cassiano Tete Teodoro, entrou em contato com o proprietário do heliponto onde faria o pouso, e disse que estava com dificuldades para cruzar a serra por causa do excesso de nuvens.
Além do piloto Cassiano, 44 anos, estavam a bordo o empresário Raphael Torres, 41, a comerciante Luciana Rodzewics, 46, e a filha dela, Letícia, 20. As quatro pessoas morreram, a aeronave foi encontrada em uma área de mata de Paraibuna (SP) 12 dias depois, na sexta-feira, 12 de janeiro.
INVESTIGAÇÃO
As investigações foram iniciadas nesta quarta-feira (21) pelo Primeiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa I), da Força Aérea Brasileira.
Segundo a FAB, a conclusão da investigação terá o menor tempo possível a depender da complexidade da ocorrência e de possíveis fatores contribuintes.
O Seripa informou que deve “utilizar técnicas específicas e realizar a coleta e a confirmação de dados, preservação dos elementos da investigação, verificação de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações”. (Da Redação)