Correio de Carajás

Obesidade II

O aumento da mortalidade em consequência de obesidade é principalmente decorrente de doença cardiovascular, hipertensão, doença da vesícula biliar, diabetes melito e vários tipos de câncer, como câncer de esôfago, cólon, reto, pâncreas, fígado, próstata, vesícula biliar, ductos biliares, mamas, endométrio, colo uterino e ovários em mulheres.

O hipogonadismo em homens e a infertilidade em ambos os sexos são prevalentes na obesidade. Em mulheres, isso pode estar associado a hiperandrogenismo (síndrome dos ovários policísticos). A obesidade é um problema clínico crônico, que exige tratamento continuado e modificações no estilo de vida.

O tratamento é importante devido aos riscos de saúde associados, porém é dificultado pelo repertório limitado de opções terapêuticas efetivas. A recuperação do peso após sua perda é comum a todas as formas de terapia. A urgência e a escolha das modalidades de tratamento devem ser baseadas no IMC e em uma avaliação dos riscos.

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A dieta, o exercício e a terapia comportamental são recomendados a todos os pacientes com IMC ≥ 25 kg/m2. Deve-se iniciar uma modificação do comportamento, incluindo aconselhamento em grupos, diários de alimentação e mudanças nos padrões alimentares.

Os padrões relacionados com os alimentos devem ser cuidadosamente monitorados tal como evitar frequentar restaurantes de autosserviço, fazer refeições pequenas e frequentes, tomar o desjejum.

Um déficit de 7.500 kcal produzirá uma perda ponderal de cerca de 1 kg. Por conseguinte, uma redução de 100 kcal/dia no consumo de alimentos durante 1 ano deve levar a uma perda de peso de 5 kg, e um déficit de 1.000 kcal/dia deve produzir uma perda de cerca de 1 kg por semana.

Deve-se aumentar a atividade física para um mínimo de 150 min de exercícios de intensidade moderada por semana. A farmacoterapia pode ser acrescentada a um programa de modificação do estilo de vida para os pacientes com IMC ≥ 30 kg/m2 ou ≥ 27 kg/m2, com doenças concomitantes relacionadas com a obesidade.

O orlistate (120 mg VO 3x/dia), um inibidor da lipase intestinal, produz uma perda de peso modesta (9 a 10% em 12 meses com modificações no estilo de vida) devido à má absorção de gordura induzida pelo fármaco. Lorcaserina e fentermina/topiramato são anorexígenos recentemente aprovados pela FDA.

A resposta aos medicamentos deve ser avaliada após 3 meses. A metformina, a exenatida e a liraglutida tendem a diminuir o peso corporal em pacientes com obesidade e diabetes melito tipo 2, mas não estão indicadas para pacientes sem diabetes.

A cirurgia bariátrica deve ser considerada para os pacientes com obesidade grave (IMC ≥ 40 kg/m2) ou moderada (IMC ≥ 35 kg/m2) associada a uma condição clínica grave, com falhas repetidas de outras abordagens terapêuticas, peso elegível durante mais de 3 anos, capacidade de tolerar a cirurgia, e sem qualquer adição ou psicopatologia grave.

As cirurgias bariátricas são restritivas, limitando a quantidade de alimento que o estômago pode conter e reduzindo a velocidade de esvaziamento gástrico, como a banda gástrica de silicone ajustável por laparoscopia, ou restritivo-desabsortivas, como o bypass gástrico em Y de Roux.

Em geral, esses procedimentos produzem uma perda de peso de 30 a 35%, mantida em cerca de 40% dos pacientes em 4 anos. Em muitos pacientes, há melhora significativa nas comorbidades, incluindo diabetes melito tipo 2, hipertensão, apeia do sono, hiperlipidemia e eventos cardiovasculares.

Os benefícios metabólicos parecem ser o resultado combinado de perda de peso e respostas fisiológicas dos hormônios intestinais e metabolismo do tecido adiposo. As complicações incluem estenose do estoma, úlceras de margens e síndrome do esvaziamento (dumping).

Os procedimentos com componente desabsortivo exigem suplementação permanente de micronutrientes (ferro, folato, cálcio, vitaminas B12, e D) e estão associados a um risco de hiperplasia das células das ilhotas e hipoglicemia.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.