Hoje iremos tratar de uma realidade cirúrgica que já é de domínio médico cirúrgico nos grandes centros do mundo e do país. Retiramos trechos do estudo, de Leandro Totti Cavazzola, intitulado Aplicações da Cirurgia Robótica.
Quem executa as cirurgias é o robô Da Vinci. Desde sua criação, esse robô vem sendo aperfeiçoado para tornar seus movimentos mais certeiros. O equipamento é composto por quatro “braços”, em que nas suas extremidades há pinças que podem ser menores do que uma unha, chegando a medir até um centímetro.
O sistema cirúrgico da Vinci é composto por três componentes principais: um console ergonômico do cirurgião, um totem de quatro braços cirúrgicos interativos com o paciente (denominado patient side cart) e uma torre de vídeo de alta definição que abriga processadores do sistema dedicados, o chamado núcleo central ou core.
Leia mais:Os dedos do cirurgião manipulam controles que transferem remotamente às pinças todos os comandos, filtrando pequenos tremores ou movimentos muito bruscos. A visão acontece a partir de dois sistemas ópticos de alta qualidade, que fundem a imagem e a transmitem ao console cirúrgico resultando em uma visão em três dimensões com altíssima definição (full HD).
Os detalhes dos tecidos podem ser ampliados com aumento digital sem perder sua definição, aumentando a imagem sem perder espaço para o avanço da óptica e sem perder compreensão na anatomia mais difícil.
As pinças proporcionam sete graus de liberdade para sua movimentação (tecnologia denominada Endo Wrist), permitindo movimentos de 360° no seu maior eixo (até 720°, dependendo da configuração) e maior precisão da dissecção, pois os movimentos podem ser escalonados até 5:1 (por exemplo, um movimento de 5 cm no console cirúrgico pode refletir-se em um movimento de 1 cm no paciente).
O sistema produz cada movimento diretamente guiado pelo cirurgião com níveis redundantes de segurança que impedem movimentos autônomos do braço robótico ou incompatíveis com atitude humana. Este é um ponto importante na tecnologia do “robô-cirurgião”.
Diferentemente da definição clássica de robô, que pressupõe atividade autônoma, o robô cirúrgico apenas replica movimentos realizados pelo cirurgião de forma mais precisa, possuindo, inclusive, um sensor de presença que irá abolir os movimentos robóticos caso o cirurgião retire sua cabeça do console cirúrgico.
Essa diferença é tão importante que alguns autores sugerem o nome telemanipuladores ou unidades escravas (master/slave unit), ou, ainda, sistemas de manipulação remota, tendo em vista que nada é realizado se não houver participação direta do cirurgião no console cirúrgico.
Diferentemente da videocirurgia (através da videolaparoscopia), os braços robóticos movem-se ao redor de um ponto pivotante fixo (centro remoto) na sua entrada da parede abdominal, diminuindo o trauma local. O braço central que manipula a câmera também é controlado pelo cirurgião no console.
Um monitor na torre de vídeo permite que um tutor ou auxiliar junto ao doente possa desenhar sobre a imagem que aparece no console para o cirurgião, ampliando a comunicação e a troca de ideias pelos membros da equipe. Existe também a possibilidade de associar um segundo console do cirurgião. Isso permite que ensino e treinamento possam ser feitos com cirurgiões mais experientes.
Na torre central (ou core), ocorre a integração das imagens captadas pelas duas câmeras que são enviadas ao console cirúrgico, proporcionando a visão em full HD em três dimensões ao cirurgião, com aumento de 10 a 12 vezes em relação à imagem real, conforme a configuração.
O monitor do console do cirurgião pode funcionar como um terminal de computador remoto com várias janelas arranjadas para permitir ver exames de radiologia durante o ato cirúrgico integradas.
A monitorização do paciente e visão do sistema de imagem do hospital podem ser disponibilizadas, em tempo real, ao mesmo momento no console do cirurgião, com informações críticas ao alcance imediato durante o procedimento cirúrgico.
* O autor é médico especialista em cirurgião geral e saúde digestiva.